Segundo
o Dinheiro Vivo "Portugal e as
restantes "economias periféricas" da zona euro - Grécia, Irlanda,
Espanha, mas também Itália - precisam de manter salários relativos baixos para
"reconstruírem a competitividade" e serem "amigos do
emprego", insiste Christine Lagarde, a diretora-geral do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Na
comunicação que acaba de fazer em Washington, numa das últimas sessões dos
encontros da primavera do FMI/Banco Mundial, Lagarde expôs as ideias da
instituição relativamente ao que deve ser a "agenda política global",
com muitos recados e avisos para a zona euro, o caso mais complexo e
problemático que ameaça a economia mundial. "As economias da
periferia da zona euro precisam de reconstruir a competitividade. Isto requer
políticas que impulsionem o crescimento da produtividade e que dinamizem uma
formação de salários amiga do emprego de modo a alcançar ganhos sustentados nas
quotas de mercado das exportações", defendeu a ex-ministra das Finanças de
Nicolas Sarkozy. O recado é especialmente dirigido a Portugal, cujas
exportações, o único motor do crescimento que ainda funciona, estão a caminho
da estagnação este ano (o Governo prevê uma expansão de apenas 0,8%). A ideia
da diretora-geral é que o país consiga vender mais lá fora através de uma maior
competitividade preço, isto é, que os salários nacionais se mantenham reduzidos
(como já estão em termos de poder de compra) ou que até baixem mais para que as
margens de lucro das empresas exportadoras possam subir, sem agravar os custos.
Segundo esta teoria, este movimento de compressão salarial permitirá a criação
de mais empregos neste sector. Embora reconheça que os "países
programa", como Portugal, tenham contribuído para reduzir os riscos sobre
a zona euro através de reformas estruturais e de ajustamentos orçamentais, o
FMI não desarma relativamente à disciplina salarial. Razão: "a criação de
emprego e o crescimento inclusivo são imperativos". "Para alguns
países, a prioridade é responder ao enorme aumento no desemprego desde o início
da crise", sublinhou. Em todo o caso, Lagarde repete que "o risco de
fadiga do ajustamento está a aumentar, especialmente na Europa, com crescentes
tensões em relação à equidade no ajustamento". Neste ponto, Vítor Gaspar,
o ministro das Finanças, e o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, continuam
a acreditar que o seu programa de austeridade tem protegido os mais pobres e
desfavorecidos. Relativamente à consolidação orçamental (redução do défice e da
despesa) na zona euro, Lagarde defende que esta seja "feita à medida das
necessidades dos países e ancorada em metas estruturais".
BCE
não deve subir juros
Referindo-se
em termos mais genéricos à zona euro, Lagarde defendeu ainda que a
"política monetária deverá manter-se acomodatícia", isto é, as taxas
de juro principais devem ficar nos mínimos atuais e o BCE deve continuar a
proporcionar dinheiro barato à banca através de outros instrumentos que tem ao
seu dispor. A chefe máxima do FMI pediu ainda rapidez na construção da união
bancária europeia e que a zona euro disponha o quanto antes de um mecanismo de
resolução bancária (um mega fundo e regras próprias comuns para gerir bancos na
falência em vez de serem os Estados a suportarem as perdas, como tem acontecido
até agora) e de um fundo de garantia de depósitos comum, para não
expor"vulnerabilidades como as que vimos no Chipre". "As
fundações da união monetária devem ser tornadas mais seguras", resumiu. Outro
foco de preocupação da líder do Fundo é o novo mecanismo das OMT do BCE (sigla
em inglês para Transações Monetárias Definitivas, o programa de compra de
dívida soberana no mercado secundário ou de retalho). Lagarde defende que "os países que com
compromissos programáticos [como Portugal, uma vez mais] devem ser elegíveis
para as OMT". E que o fundo europeu permanente (Mecanismo de Estabilidade
Europeu "ofereça diretamente" fundos para a recapitalização dos
bancos, o que será uma mudança de paradigma já que, até agora, estas verbas
para a banca contam para o rácio da dívida nacional, mesmo que não tenham sido
usados,agravando a fatura dos contribuintes com juros. No caso de Portugal, a
República teve de se endividar em 12 mil milhões de euros para este efeito.
Parte do dinheiro já foi usado, o resto continua cativo. Claro que o reverso da
medalha é que este acesso às OMT pressupõe novas condições impostas aos países,
no fundo, um a imposição de um novo programa de ajustamento com medidas
específicas do agrado do BCE"