Li no Publico que "quase 70% dos portugueses de classe média dizem que o seu nível de vida piorou no espaço de um ano e só um em três admite que a sua situação material actual é melhor do que a dos seus pais. No final de 2011, numa escala de 1 a 10, entre péssimo e muito bom, a classe média portuguesa atribuía uma classificação de 2,6 à situação geral em Portugal, a mais baixa dos 12 países europeus inquiridos no âmbito do Barómetro Europeu do Observador Cetelem, cujos resultados foram ontem divulgados. A classificação média foi de 3,8, estando a Alemanha claramente à frente, com um resultado de 6,2. Em tempo de crise, as classes médias foram o alvo de estudo do Observador Cetelem, uma publicação anual sobre o comportamento dos consumidores. O estudo concluiu que a nota atribuída pelos portugueses "reflecte bem o descontentamento social num país onde a precariedade atinge quase 30% da população". Pelo contrário, acrescenta-se, "os alemães nunca pareceram tão confiantes e positivos em relação às capacidades do seu país" e são por isso a "excepção", sendo o único país da Europa Ocidental "a ver o seu moral melhorar pelo terceiro ano consecutivo". Também à excepção da Alemanha, onde se registou um empate na apreciação, nos outros países avaliados os inquiridos deram melhor nota às suas condições de vida pessoais do que aquela que atribuíram à situação geral do país. A percepção que têm da vida pessoal resulta numa classificação média de cinco numa escala de 1 a 10, com Portugal a obter um resultado de 4,2. Esta diferenciação pela positiva dá conta, segundo Diogo Basílio, responsável em Portugal pelo Observador Cetelem, que "as classes médias, na sua maioria, consideram que a ascensão social funcionou para elas, beneficiando de condições de vida consideradas satisfatórias". Mas os resultados deste estudo mostram também, acrescenta, que estas se questionam agora "se não serão as últimas" a ter conseguido melhor do que os seus pais. Mesmo em relação à sua própria situação as conclusões já são díspares. A maioria considera que tem uma habitação mais confortável e mais bem equipada do que a dos seus pais (respectivamente 76% e 87% em Portugal), mas só 30% dos inquiridos portugueses afirmam que a sua situação material actual é melhor do que a dos seus progenitores. A média dos 12 países inquiridos neste campo é de 35%. O estudo identifica como classes médias a fatia maioritária da população que está entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos. Nos últimos dez anos, apenas 37% destes europeus consideram que a sua situação financeira melhorou e 46% dizem que piorou. Em Portugal, esta última percentagem sobe para 52%. E quase 70% indicaram que o seu nível de vida piorou no espaço de um ano. A maioria dos inquiridos (70%) admitiu, aliás, que já fez sacrifícios pessoais para conseguir não reduzir as despesas dedicadas aos filhos, uma situação em que Portugal é campeão, com 81% de respostas positivas. A classe média portuguesa é também aquela que se mostra mais preocupada com o futuro dos filhos e com a sua capacidade de financiar a educação destes. É a principal preocupação para o futuro identificada por 64% dos inquiridos portugueses, contra uma média europeia de 55%.
Cortar na alimentação
Poupar nos próximos 12 meses foi um objectivo apontado em oito dos países estudados, mas nesta intenção os portugueses que apontam para este objectivo (51%) só são ultrapassados pelos russos (57%). Portugal é também o país com uma menor percentagem a indicar que pensa vir a aumentar despesas em 2012. Apenas 24% o admite, quando a média europeia é de 52%. Já o Reino Unido é o país que apresenta uma maior quebra nas intenções de realizar mais despesas: de 60% de respostas positivas para 2011 desceu para 31%. Os inquéritos realizados permitem concluir que "cerca de um europeu da classe média em cada três já reduziu as suas despesas em alimentação", uma proporção também encontrada em Portugal. Este corte, frisa-se no estudo, é aquele que "gera uma maior amargura". Neste ranking de frustração, o segundo lugar é ocupado pelos cortes nas despesas de telecomunicações e Internet, que "podem significar rapidamente um handicap, tanto social como profissional". Os inquéritos para este estudo foram realizados entre Novembro e Dezembro de 2011 nos seguintes países: Alemanha, Espanha, França, Hungria, Itália, Polónia, Portugal, República Checa, Roménia, Reino Unido, Rússia e Eslováquia. No estudo indica-se que "foram inquiridos mais de 6500 europeus, a partir de amostras com, pelo menos, 500 indivíduos por país"