"George Orwell dizia, em "O Triunfo dos Porcos", que há animais mais iguais do que outros. O presidente do governo regional dos Açores parece saber o que isto quer dizer: Carlos César quer atribuir aos 3800 funcionários públicos da região um subsídio que compensa os cortes de salário na Administração Pública, decididos pelo Governo. As reacções de condenação têm-se centrado na questão da inconstitucionalidade da decisão. Deixemos esse debate para os especialistas, para nos focarmos no plano da aplicação responsável de dinheiros públicos e no da ética.
Vamos ao primeiro: César diz que o custo da medida (3 milhões de euros) não onera os contribuintes. Porque os fundos vêm de uma dotação já atribuída aos Açores. É um argumento de uma desonestidade lamentável. Porque não é pelo facto de a verba já ter sido atribuída à Região que deixa de sair do bolso dos contribuintes. Além de que o dinheiro vai fazer falta noutro sítio. Depois o plano da ética. Mesmo que a medida não seja inconstitucional (duvidoso), César devia atender a outro pormenor: se o país está à beira do abismo (cortar salários é a última medida que se toma em economia), os sacrifícios têm de ser suportados por todos.
Mas como César teima em fazer eleitoralismo à custa dos contribuintes, José Sócrates tem obrigação de utilizar todos os meios de que o governo central dispõe (em vez de fazer declarações conciliatórias como "os governos regionais têm competências próprias") para por ordem na República. Pode começar, por exemplo, por cortar (na mesma proporção do subsídio) nas transferências para a Região" (por Camilo Lourenço, no Jornal de Negócios com a devida vénia)
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