segunda-feira, dezembro 21, 2009

Finanças regionais: o "Expresso" e o "Governo sem rumo"

Relacionado ainda com a questão das Finanças Regionais, o semanário Expresso publica na sua última edição um texto de Fernando Madrinha, intitulado "Governo sem rumo" que ajuda a perceber porque motivo o ministro das finanças está agastado com o assunto e com base nele ameaçou pedir a demissão: "Na semana passada, ocorreu no Parlamento uma das cenas mais penosas e caricatas da política portuguesa recente: aquela em que o ministro das Finanças bradava contra o ‘regabofe’ e ‘os devaneios financeiros’ do Governo Regional da Madeira, ao mesmo tempo que a bancada do PS viabilizava um empréstimo de 79 milhões a contrair pelo mesmo Governo Regional. A cena é especialmente penosa por ter resultado na humilhação pública de alguém que, à parte o ‘esconde-esconde’ do défice, merecia ser tratado com mais consideração pelo PS. E que, pelo seu lado, também tinha a obrigação de fazer respeitar o cargo que ocupa, não se prestando àquele papel. Estivesse ou não informado sobre o que se passava nos bastidores, Teixeira dos Santos saiu do Parlamento desautorizado pela bancada do próprio partido que apoia o Governo. Ou que é suposto apoiá-lo, pois, a partir deste desacerto chocante entre o que pensa o ministro sobre as finanças da Madeira e o que decidiu a bancada do PS, levantam-se legítimas dúvidas sobre a coerência, para não dizer já a coesão, entre maioria e Executivo. Num momento em que o primeiro-ministro tanto se queixa de entraves e embaraços das oposições, a maioria socialista assume, afinal, o mesmo tipo de comportamento. É verdade que quando o Estado central se endivida mais todos os dias perde autoridade moral para impedir a Madeira de o fazer também. Mas o que está em causa é o modo e o contexto em que a decisão de viabilizar o empréstimo acaba por ser tomada. Permitindo a desautorização pública do seu ministro de Estado e das Finanças, o próprio chefe do Governo e líder do PS fica em xeque, pois transmite uma imagem de fraqueza perante o partido, ou de duplicidade perante o país. Num caso ou no outro, a confiança esboroa-se porque entre o discurso e os actos convém que haja alguma conformidade. Este caso é apenas mais um indício da insegurança e do desnorte de que o PS e o Executivo vão dando mostras e que se manifestam noutras atitudes. Quando deviam estar concentrados na busca de soluções políticas mobilizadoras para o combate à crise, os socialistas parecem mais interessados em dividir as águas do que em congregar esforços e energias. As pressões para que o Presidente da República tome partido a favor ou contra o Governo são outro sinal de que, em vez da cooperação necessária, o PS busca a confrontação, sem que se perceba qual o objectivo útil dessa manobra táctica, visto que forçar eleições seria absurdo e irresponsável. E ao trazer a regionalização para debate neste momento reforça ainda mais a ideia de que, entre a sua agenda política e as prioridades do país, há um fosso que está a alargar-se. Neste quadro, o novo Governo aparece-nos como se já fosse um Governo velho e esgotado, à procura do rumo que lhe falta".

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