segunda-feira, dezembro 28, 2009

Europa: afinal Barroso fez-se ao tacho ou não?

Segundo o Expresso, num texto do jornalista Daniel do Rosário, "Durão Barroso manifestou a sua disponibilidade para se candidatar à presidência da Comissão Europeia no final de Maio de 2004, impulsionando um processo que culminaria com a sua nomeação em Junho e que, de Lisboa a Bruxelas, apanhou na altura muita gente de surpresa. O segredo foi mesmo a alma do negócio. A edição recente da versão inglesa das memórias de Wilfried Martens, o ex-primeiro-ministro belga que preside ao Partido Popular Europeu (PPE) desde 1992, vem ajudar a perceber como, sem nunca ter deixado de defender a candidatura de António Vitorino, Barroso se assumiu como candidato à sucessão de Romano Prodi e, discretamente, legitimou os esforços dos que preparavam a sua candidatura. Ao contrário do que reza a versão oficial, segundo a qual o ex-primeiro-ministro português teria sido escolhido sem nunca ter chegado a ser candidato. Para Martens, o momento “crucial” aconteceu no dia 24 de Maio de 2004, na segunda-feira a seguir ao congresso do PSD. O presidente do PPE estava a consultar todos os chefes de Governo do seu partido para encontrar um candidato consensual à presidência da Comissão. No decorrer de um almoço com Durão, em Lisboa, ambos os comensais repetiram as respectivas posições: Martens insistiu na necessidade de o PPE ter um candidato, Barroso respondeu “que tinha um bom candidato português (António Vitorino) e que não se podia permitir não o apoiar”. Ao que o político belga retorquiu que “ele (Barroso) seria um muito melhor candidato português do que Vitorino”. E o encontro prosseguiu até que, segundo Martens, no final da conversa, Barroso “parou de repente e disse: ‘se não encontrarem mais ninguém, estou preparado para me candidatar’”. Em entrevista ao Expresso, o ex-chefe do Governo belga revela ainda que aquela “manifestação de disponibilidade” de Barroso foi acompanhada do seguinte aviso: “se se souber alguma coisa acerca disto negarei tudo”.
Trabalho de bastidores
Mas o nome de Barroso como possível candidato não apareceu por geração espontânea. Conforme relata o presidente do PPE, a candidatura “foi preparada nos bastidores por muito pouca gente”, um grupo em que Martens destaca o então assessor do primeiro-ministro português, Mário David. Segundo o actual eurodeputado do PSD, o nome de Durão surgiu como potencial candidato no decorrer do mês de Maio, depois de os líderes do PPE terem decidido que o futuro presidente da Comissão devia sair das suas fileiras. O parlamentar laranja garante que o chefe do Governo português “não se pôs em bicos de pés” para ser candidato, mas “estava a ser muito solicitado nesse sentido pelos líderes de vários países”, entre os quais Silvio Berlusconi. Para Mário David, o resultado do repasto de Lisboa “foi a confirmação da inclusão do nome (de Durão) na short list” de candidatos do PPE à presidência da Comissão Europeia. A escolha do sucessor de Prodi estava agendada para o Conselho Europeu de 17 e 18 de Junho, em Bruxelas, logo após as europeias. Além de Vitorino, o único candidato assumido era o primeiro-ministro belga, Guy Verhofstadt, que contava com o apoio alemão e francês.
Bilhar às três tabelas
Só à margem da habitual minicimeira partidária que antecede as cimeiras europeias é que Martens se refere pela primeira vez a Durão, no dia 16 de Junho, ao incluir o nome do chefe do Governo português na short list dos três possíveis candidatos do PPE, juntamente com os primeiros-ministros da Holanda e da Áustria. Barroso cumpre a ‘ameaça’ feita no almoço de Lisboa e, momentos depois, fonte de São Bento, citada pela Lusa, desmente tal possibilidade: “O primeiro-ministro não é candidato e o Governo português apoia a candidatura de Vitorino à presidência da Comissão Europeia”.No dia seguinte Martens acaba por colocar em cima da mesa o nome do conservador britânico Chris Patten. Embora David considere que essa candidatura “era só para queimar a de Verhofstadt”, Martens conta ao Expresso que Barroso ficou “preocupado”: “depois do nosso encontro ele tinha consciência de que era uma possibilidade e por isso ficou preocupado”. No livro, o belga recorda como tranquilizou Durão: “Certamente perceberá que estamos a jogar ‘às três tabelas’. É perfeitamente possível que a bola que avança na direcção de Patten, acabe por chegar a si”. Quando, mais tarde, os 25 se sentam à mesa, os acontecimentos desenrolam-se de acordo com o previsto: o PPE, com o apoio de Tony Blair, barra o caminho a Verhofstadt. Despeitados, Jacques Chirac e Gerhard Schroeder insurgem-se contra a candidatura de Patten, enquanto o primeiro-ministro português continua a defender o nome de António Vitorino. Mas a partir daquela altura “o caminho ficou aberto para Durão Barroso”, resume Martens. Nos dias que se seguiram Barroso continuou a repetir publicamente que não era candidato, até ser nomeado a 29 de Junho".

Sem comentários: