domingo, setembro 20, 2009

Só um terço do noticiário político parte da iniciativa das redacções dos jornais...

Com o título "Só um terço do noticiário político parte da iniciativa das redacções dos jornais" publicou o jornal Publico um texto da jornalista Ana Cristina Pereira o qual, pelo interesse e actualidade recomendo a leitura: "Lançado no Porto livro que analisa notícias de política publicadas nos quatro diários nacionais generalistas desde 1990 a 2005. Vasco Ribeiro quis "aferir o peso das fontes profissionais de informação". Analisou os quatro grandes diários generalistas e percebeu que 58,8 por cento do noticiário político provém de elementos do Governo e de partidos políticos com assento na Assembleia da República. O livro Fontes Sofisticadas de Informação é hoje apresentado no Porto. O coordenador do serviço de comunicação e imagem da Reitoria da Universidade do Porto (UP) não passou tudo a pente fino. Fez uma análise aleatória interpelada: um dia por cada semana de 1990, 1995, 2000 e 2005 de notícias publicadas nas secções Política ou Nacional do Correio da Manhã, do Diário de Notícias, do Jornal de Notícias e do PÚBLICO.
Parece-lhe espantoso "só um terço do produto jornalístico [político] ser produzido por iniciativa das redacções". O PÚBLICO (33,3) é o jornal com mais iniciativa própria, seguido do DN (28,7). Fazem "jus ao epíteto de 'jornais de referência'" ao evidenciarem "maior apetência pela demanda de notícias" e menor predisposição para "a recepção passiva da informação proveniente das fontes profissionais". Mais de 60 por cento do noticiário é induzido por assessores de imprensa, relações-públicas, consultores de comunicação, porta-vozes. Não cabem aqui apenas comunicados de imprensa e conferências de imprensa. A categoria abrange actos como acções de campanha, assembleias, cerimónias oficiais, eleições, inaugurações, visitas oficiais, manifestações, sondagens... Vasco Ribeiro sublinha a "incapacidade" de os leitores detectarem a intervenção de tais técnicos de comunicação e relações públicas. É que só muito raramente surge qualquer referência à sua existência (1,3 por cento das notícias analisadas). Eles "não gostam" de aparecer. E os jornalistas não gostam de os mostrar.
Conhece bem este mundo. Foi assessor de comunicação do ex-presidente da Câmara do Porto Nuno Cardoso e do candidato socialista à autarquia Francisco Assis: "Plantava jardins e limpava paredes da noite para o dia para receber a comunicação social." A assessoria de imprensa "tem vindo a tornar-se mais sofisticada, a apurar as suas técnicas e ferramentas de trabalho", aponta. Por toda a parte, nota "uma miscigenação das relações públicas com áreas como o marketing, a gestão, o multimédia, a audiometria, a linguística e até o jornalismo". Tudo para "tornar mais eficazes as estratégias". "Os comunicados já nada dizem aos jornalistas", observa. Sabendo que querem "cachas", isto é, histórias em primeira mão, os assessores propõem-nas. Isto não se faz só em política. Um exemplo? Antes do início das obras nas urgências do Hospital de São João (Porto), Vasco Ribeiro decidiu dar "uma cacha" a uma rádio, a uma televisão e a um jornal sobre a transferência do serviço para contentores. Não fosse isso, diz, "as primeiras notícias teriam sido: 'Urgências em contentores'". E as primeiras notícias ditam o tom das outras. Na sua opinião, vai aumentar a dependência deste género de fontes. Os assessores "acordam a pensar na melhor maneira de marcar a ordem do dia". E os jornalistas "têm cada vez menos tempo para pensar, para questionar". Tudo se conjuga. "Há uns anos a assessoria ficava-se muito pela esfera do poder. Agora, os jornalistas são bombardeados pelo poder e pelo contrapoder. Os sindicatos e as organizações não-governamentais também têm assessores de imprensa", exemplifica. Como é que isto se contraria? "Tendo mais jornalismo de investigação", responde o docente da UP. "Tem de haver nos jornais pelo menos uma pessoa por secção a pensar". Mas essa não é a preocupação de Vasco Ribeiro".

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