terça-feira, setembro 01, 2009

Opinião: "Só no País Basco o assassino é o vizinho de baixo"

"Nos anos 80, um atirador da ETA assassinou quem, 18 anos antes, o salvara de uma morte certa debaixo de um camião. A mãe do mais célebre e sanguinário etarra foi acompanhada até à morte pela comadre, viúva de um comandante do Exército baleado por um comando terrorista. Histórias de um mesmo drama. Este texto foi publicado a 15 de Agosto de 2008Era uma tarde quente, a de 21 de Setembro de 1962. Ramón Baglieto, conhecido na localidade espanhola de Azkoitia, a 40 quilómetros de San Sebastián, como "o pintor", observava a Rua Calvo Sotelo, hoje Kalea Xabier Munibe. Viu Maria Nieves, a mulher do carpinteiro Azpiazu, passear com os dois filhos. O mais velho, José Manuel, de dois anos, e o mais novo, Kandido, de 11 meses. Eram quatro da tarde.De repente, o miúdo mais velho deixa escapar a bola das mãos e corre atrás dela. Ouve-se, cada vez mais próximo, o ruído de um camião. Maria Nieves grita e corre para o filho com o mais novo nos braços. Ao passar por Baglieto, este arranca-lhe o pequeno Kandido. A mulher continua a correr em direcção ao primogénito. Tropeça e cai sob o camião. Fica sem vida junto ao corpo morto de José Manuel. Kandido está salvo. Não chora nos braços do desconhecido: Ramón Baglieto, "o pintor", namorado de Maria Pilar, a filha do velho Elias, proprietário da única estação de serviço da terra.No dia 22 de Maio de 1980, Kandido tem pouco mais de 18 anos. Recebe uma ordem da direcção da ETA. E cumpre. Com um tiro na nuca, mata Baglieto, que o salvara. Aqui começou o drama de Pilar Elias.Chega pontual. O Renault Laguna metalizado é estacionado junto à porta. Pilar Elias, com o cabelo a denotar uma ida recente ao cabeleireiro, é rodeada pelos guarda-costas. Veste um conjunto saia-casaco vermelho, sapatos negros e mala a condizer. O encontro, acertado momentos antes, decorre na cafetaria de um posto de gasolina junto à auto-estrada que leva de San Sebastián a Bilbau. "É o português?", pergunta, estendendo a mão. Esboça um sorriso. Em euskerra, a língua basca, pede um café. Senta-se onde os seguranças mandam. Aconchega as pequenas mãos no colo. E recorda."Ando nisto há 28 anos, depois do assassinato do meu marido e de um amigo nosso." O tiro que matou Baglieto, membro da União do Centro Democrático, mudou-lhe a vida. Empurrou uma dona de casa para a militância política. Hoje é a única vereadora do Partido Popular (PP) em Azkoitia, terra de pouco mais de 13 mil habitantes, governada pelo Partido Nacionalista Basco (PNV). "Fiquei viúva aos 37 anos, com dois filhos de 13 e 9, não me voltei a casar, dedico-me a isto, aos filhos e aos netos." Uma versão abreviada de muitas histórias. "Há dez anos que ando com guarda-costas", relata. É discreta. Não refere que a segurança lhe foi dada após a ETA lhe ter enviado uma carta-bomba por correio. Por sorte, não houve explosão. E Pilar continua "nisto". Apesar de muitos ultrajes". Leia aqui este artigo de opinião de Nuno Ribeiro, jornalista do Publico que relata o que viu em San Sebastian.

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