Alberto João Jardim sempre me fez lembrar alguém ou alguma coisa.
Durante anos essa impressão acompanhou-me, sem que conseguisse materializá-la.
Até que um dia destes, exactamente na véspera das eleições na Madeira, encontrei a resposta que há tanto tempo procurava: Jardim fazia-me lembrar um senador romano.
Um daqueles senadores anafados e rezingões dos livros de Astérix.
É fácil imaginá-lo em Roma, de toga branca pregueada, invocando os deuses e vociferando no Senado contra uma qualquer lei em discussão.
Mas a vitória esmagadora de Alberto João Jardim nas eleições da Madeira coloca um problema mais sério.
Das duas, uma.
Ou acreditamos verdadeiramente na democracia e aceitamos que o povo é sábio e escolhe sempre a solução que mais lhe convém – ou, pelo contrário, descremos da democracia e acreditamos apenas nas nossas ideias, impressões e convicções.
Se acreditamos na democracia, temos de aceitar que o resultado obtido por Jardim não deixa lugar a dúvidas: ele é, de longe, o melhor governante para a Madeira, e aqueles que dizem ou escrevem o contrário estão enganados.
Inversamente, se acreditamos antes de tudo nas nossas convicções, e consideramos Jardim uma aberração, uma peste, um equívoco, então temos de concluir que o povo da Madeira é burro e não sabe escolher os seus governantes.
E, nessa medida, quem deveria escolher o chefe do Governo Regional não eram os madeirenses mas os continentais – ou, no limite, um colégio eleitoral formado por pessoas lúcidas e informadas.
Como se vê, a crítica a Jardim recorrentemente feita por muitos comentadores conduz a um beco sem saída.
Por um lado, esses críticos dizem-se democratas; mas, por outro, não se conformam com os resultados das eleições democráticas.
O caso faz lembrar o que aconteceu nas eleições americanas, em que se usaram os argumentos mais tortuosos para ‘explicar’ a vitória de Bush.
Ou o que acontece sempre que Pinto da Costa ganha de forma arrasadora umas eleições para a presidência do FC Porto.
Certos comentadores dizem-se democratas mas não compreendem o povo.
Inventam um povo que não existe, que só existe na cabeça deles, que mitificam – e depois ficam chocados quando o povo escolhe ao contrário do que achavam correcto.
A percepção da realidade implica o abandono dos preconceitos.
E o facto é o seguinte: Alberto João Jardim continua a ser para os madeirenses o homem que melhor defende os interesses da Madeira contra os senhores de Lisboa.
Na recente guerra em torno da Lei das Finanças Regionais, Jardim foi quem bateu o pé, quem vociferou contra a capital, quem lutou até ao fim pela transferência de receitas para o arquipélago.
E o que fez, na mesma circunstância, o PS madeirense?
Acomodou-se.
Deu razão a Sócrates e aceitou a diminuição das transferências de verbas.
Aceitou a argumentação dos comentadores do Continente segundo a qual a Madeira recebe dinheiro demais.
Numa palavra, curvou-se perante o Terreiro do Paço.
Ora, depois disto, como pretenderia o PS ter muitos votos?
E como poderia Jardim não registar mais uma esmagadora vitória?
Para temperar o discurso, uma última observação.
Ao contrário do que se disse, esta vitória de Alberto João Jardim não fragiliza Sócrates.
A luta do Governo socialista para ‘meter Jardim na ordem’ é bem vista no Continente – e os sucessos de Jardim nunca farão Sócrates perder votos.
As consequências desta vitória são outras: cavou-se ainda mais o fosso entre a Madeira e o Continente.Os madeirenses estão cada vez mais longe do Terreiro do Paço.
Durante anos essa impressão acompanhou-me, sem que conseguisse materializá-la.
Até que um dia destes, exactamente na véspera das eleições na Madeira, encontrei a resposta que há tanto tempo procurava: Jardim fazia-me lembrar um senador romano.
Um daqueles senadores anafados e rezingões dos livros de Astérix.
É fácil imaginá-lo em Roma, de toga branca pregueada, invocando os deuses e vociferando no Senado contra uma qualquer lei em discussão.
Mas a vitória esmagadora de Alberto João Jardim nas eleições da Madeira coloca um problema mais sério.
Das duas, uma.
Ou acreditamos verdadeiramente na democracia e aceitamos que o povo é sábio e escolhe sempre a solução que mais lhe convém – ou, pelo contrário, descremos da democracia e acreditamos apenas nas nossas ideias, impressões e convicções.
Se acreditamos na democracia, temos de aceitar que o resultado obtido por Jardim não deixa lugar a dúvidas: ele é, de longe, o melhor governante para a Madeira, e aqueles que dizem ou escrevem o contrário estão enganados.
Inversamente, se acreditamos antes de tudo nas nossas convicções, e consideramos Jardim uma aberração, uma peste, um equívoco, então temos de concluir que o povo da Madeira é burro e não sabe escolher os seus governantes.
E, nessa medida, quem deveria escolher o chefe do Governo Regional não eram os madeirenses mas os continentais – ou, no limite, um colégio eleitoral formado por pessoas lúcidas e informadas.
Como se vê, a crítica a Jardim recorrentemente feita por muitos comentadores conduz a um beco sem saída.
Por um lado, esses críticos dizem-se democratas; mas, por outro, não se conformam com os resultados das eleições democráticas.
O caso faz lembrar o que aconteceu nas eleições americanas, em que se usaram os argumentos mais tortuosos para ‘explicar’ a vitória de Bush.
Ou o que acontece sempre que Pinto da Costa ganha de forma arrasadora umas eleições para a presidência do FC Porto.
Certos comentadores dizem-se democratas mas não compreendem o povo.
Inventam um povo que não existe, que só existe na cabeça deles, que mitificam – e depois ficam chocados quando o povo escolhe ao contrário do que achavam correcto.
A percepção da realidade implica o abandono dos preconceitos.
E o facto é o seguinte: Alberto João Jardim continua a ser para os madeirenses o homem que melhor defende os interesses da Madeira contra os senhores de Lisboa.
Na recente guerra em torno da Lei das Finanças Regionais, Jardim foi quem bateu o pé, quem vociferou contra a capital, quem lutou até ao fim pela transferência de receitas para o arquipélago.
E o que fez, na mesma circunstância, o PS madeirense?
Acomodou-se.
Deu razão a Sócrates e aceitou a diminuição das transferências de verbas.
Aceitou a argumentação dos comentadores do Continente segundo a qual a Madeira recebe dinheiro demais.
Numa palavra, curvou-se perante o Terreiro do Paço.
Ora, depois disto, como pretenderia o PS ter muitos votos?
E como poderia Jardim não registar mais uma esmagadora vitória?
Para temperar o discurso, uma última observação.
Ao contrário do que se disse, esta vitória de Alberto João Jardim não fragiliza Sócrates.
A luta do Governo socialista para ‘meter Jardim na ordem’ é bem vista no Continente – e os sucessos de Jardim nunca farão Sócrates perder votos.
As consequências desta vitória são outras: cavou-se ainda mais o fosso entre a Madeira e o Continente.Os madeirenses estão cada vez mais longe do Terreiro do Paço.
Fonte: José António Saraiva, semanário "Sol", 12 de Maio 2007
Sem comentários:
Enviar um comentário