As
regionais de 2019 - opinião pessoal - colocam em cima da mesa a própria
sobrevivência política e eleitoral da JPP, salvo se a sua estratégia se alterar
e for capaz de identificar claramente, sem se confundir com o PS - os laços afectivos
contam sempre... - o seu espaço próprio na política regional e sobretudo uma
marca ideológica que não tem.
Não
é desajustado, nem sequer especulativo, admitir - mesmo ressalvando que se
trata de eleições com natureza diferente - que as autárquicas de 2021 possam
ser o mais importante desafio eleitoral e político que se coloca à JPP que em
meu entender se colou demasiado ao PS-M, não percebeu as prioridades concretas
do eleitorado e terá cometido um erro político quando se coligou-se ao PS-M no Funchal,
em 2017, sem nada ganhar com isso.
Pelo
contrário. O radicalismo político da JPP, sobretudo nos momentos das decisões,
o discurso algo dúbio e ambíguo que navega ao sabor da ondulação mediática, o
medo de ser colado à direita (como se a JPP tivesse alguma ideologia em
concreto) - como se não nos lembrássemos, ainda nos tempos de Filipe Sousa no
PS-M, que este concorreu coligado ao CDS em vários municípios regionais, e
nenhum deles terá perdido a identidade por causa disso, embora tenham perdido
votos que só duas eleições depois é que recuperaram parcialmente –
condicionaram muito a atitude do JPP.
Vamos
a factos.
Em
2015, a JPP totalizou 13.114 votos (10,3%) dos quais 6.558 em Santa Cruz (34,1%
no concelho), 3.709 votos no Funchal (7%) e 930 votos em Machico (9%). Ou seja,
estes três concelhos representaram 11.197 votos, 85,4% da votação total da JPP
– só Santa Cruz equivaleu a 50% da votação total regional do partido.
Já
nas regionais de 2019, depois de 4 anos de actividade parlamentar - que em 2015
não existia porque nesse ano concorreu pela primeira vez às regionais - o JPP
teve 7.830 votos (5,5%), menos 5.284 votos que quatro anos antes. Santa Cruz
representou 67% da votação do partido em toda a região - que ficou assim cada
vez mais localizado geograficamente em termos eleitorais. Se juntarmos este
concelho ao Funchal, 1.531 votos (2,5%) e a Machico, 442 votos (3,9%), estes
três municípios totalizaram 7.220 votos, 92,2% pelo que exceptuando estes o JPP
revelou-se neste acto eleitoral um partido de insignificância quase
generalizada.
O
problema é que depois de ter não ter concorrido às europeias em Maio, o JPP
perde as regionais em Setembro, incluindo o seu bastião eleitoral (Santa Cruz)
- em grande medida graças ao Caniço e Santa Cruz – passando a terceira força
política em Santa Cruz deixando que PS (vencedor) e PSD juntos tenham quase
três vezes mais os votos do JPP. Enquanto durar a influência eleitoral, em
queda, que ainda tem em Santa Cruz o JPP
não “desaparece”. Mas duvido que depois dos resultados das regionais o PS
não tenha colocado na sua agenda política a reconquista da Câmara de Santa Cruz
em 2021. Aliás a denúncia de uma alegada (e potencialmente provável) cambala envolvendo o PS, a agência de
comunicação que trabalhou para Cafofo e uma televisão, que pode ter tido
efeitos eleitorais negativos nos resultados do JPP – não o posso provar – pela
desconfiança suscitada naturalmente pela reportagem foi um primeiro sinal. Não
foi obviamente só por isso que o JPP perdeu tanto voto. Admito que em vez das
falinhas mansas do costume e do discurso gasto e insonso da “diferença” o JPP
tenha encontrado as explicações internas para a hecatombe eleitoral que alguns
até estimavam maior do que aconteceu, com a previsão de apenas 2 deputados.
Não
estarei a exagerar se admitir que as legislativas de domingo podem colocar em
cima da mesa a própria liderança do JPP, eventualmente desgastada e que deixou
de propiciar aos eleitores qualquer mais-valia concreta. Um resultado negativo
que fique aquém do esperado e que represente nova queda eleitoral
comparativamente a 2015, pode forçar o JPP a terá que encontrar nova liderança,
repito, por desgaste total da actual. E não me parece que seja recomendável que
num cenário desses, de queda eleitoral significativa, o segredo seja a
sobrevivência agarrado apenas ao actual Presidente da Câmara Municipal de Santa
Cruz, porque isso acabará por o penalizar ainda mais num combate eleitoral que
em 2021 nada terá a ver com o que aconteceu até hoje em termos autárquicos. O
PS, naturalmente mais do que o PSD – com uma demorada recuperação a ser
paulatinamente feita, desde as questões internas, à reconquista de posições no
terreno e a um sucesso eleitoral – vai atacar a CMSC porque internamente os socialistas
apenas sustentam que se limitam a recuperar eleitorado que era seu e que o JPP
tinha desviado depois da cisão que levou os actuais principais dirigentes do
JPP a abandonarem os socialistas por divergências que na tiveram a ver com uma
prometida mas falhada rotatividade de deputados no parlamento regional.
Obviamente que isso são assuntos internos do JPP que, repito, deve abandonar um radicalismo fundamentalista assente apenas em motivações pessoais e não numa lógica política que nos tempos actuais exige muito pragmatismo que alguns estão incapacitados de garantir, refugiando-se em tretas do passado absolutamente obsoletas. Arrisco afirmar que uma colagem excessiva do JPP ao PS-M, por causa do seu desespero em perceber o que lhe aconteceu eleitoralmente - mesmo engolindo sapos ou elefantes - depois de tudo o que se passou nas regionais deste ano, será potencialmente um suicídio eleitoral antecipado. A JPP precisa urgentemente de encontrar o seu espaço próprio e de perceber as prioridades do eleitorado regional, por muito que pense que conhece o que o eleitorado de Santa Cruz quer. E encontrar as linhas mestras de um discurso político de âmbito regional que seja convincente e mobilizador. (LFM)
Obviamente que isso são assuntos internos do JPP que, repito, deve abandonar um radicalismo fundamentalista assente apenas em motivações pessoais e não numa lógica política que nos tempos actuais exige muito pragmatismo que alguns estão incapacitados de garantir, refugiando-se em tretas do passado absolutamente obsoletas. Arrisco afirmar que uma colagem excessiva do JPP ao PS-M, por causa do seu desespero em perceber o que lhe aconteceu eleitoralmente - mesmo engolindo sapos ou elefantes - depois de tudo o que se passou nas regionais deste ano, será potencialmente um suicídio eleitoral antecipado. A JPP precisa urgentemente de encontrar o seu espaço próprio e de perceber as prioridades do eleitorado regional, por muito que pense que conhece o que o eleitorado de Santa Cruz quer. E encontrar as linhas mestras de um discurso político de âmbito regional que seja convincente e mobilizador. (LFM)
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