Li recentemente no DN-Madeira contas
feitas acerca das alegadas "perdas" eleitorais do PSD-Madeira, tendo
como referência 2007, mas sem enfatizar que foram eleições excepcionais (como
as de 2019 serão). Não se pode comparar os resultados do PSD-Madeira em 2007
com qualquer outra eleição regional, nem mesmo a de 22 de Setembro de 2019,
pelo que pretender ter como pólos de comparação 2007 e 2019 não é sério, nem
tem sustentação nenhuma, salvo a mera análise quantitativa dos actos
eleitorais.
Eu explico.
As eleições regionais de 2007 foram
excepcionais por dois motivos: a entrada em vigor de uma nova lei eleitoral de
círculo único com 47 deputados e o facto delas se terem realizado ano e meio
antes do "timing" previsto, devido ao impacto da bronca com Lisboa
relacionada com a roubalheira feita à Madeira ao abrigo da Lei das Finanças
Regionais pela dupla de bandalhos Sócrates-Teixeira dos Santos (os gajos que
faliram em 2011 o país e chamaram a troika, lembram-se disso?).
Contudo, as mudanças na LFR, depois
de uma crise política profunda - está tudo registado - que envolveu o
Presidente e esteve quase a causar a queda do governo socialista de
Lisboa, seria depois derrotada mais
tarde em São Bento quando todos os partidos da oposição - o PS ficou de fora -
se uniram e votaram uma alteração legislativa que impediu que a RAM fosse ainda
mais penalizada pela sacanice feita por Lisboa e que tinha as regionais de 2008
(que acabaram por não se realizar) como referência temporal.
A verdade é que devido a essa bronca
o Governo Regional demitiu-se em protesto - eu na altura, bem por dentro desta
guerra, defendi e escrevi que a opção deveria ser a demissão e a exigência de
eleições antecipadas - e o PSD-M com uma maioria absoluta folgada recusou
viabilizar no parlamento qualquer outra solução, pelo que apareceram as
primeiras eleições antecipadas na RAM.
Mais.
O ambiente na Região era de protesto
generalizado pela injustiça cometida e o PS-Madeira - na altura de Jacinto
Serrão entretanto regressado ao parlamento regional... - totalmente submisso a
Lisboa e pressionado por Sócrates e a poderosa máquina que o rodeava no partido
no Rato, acabou sofrendo uma das suas piores derrotas eleitorais, senão mesmo a
pior derrota eleitoral por causa disso.
O PSD-Madeira, graças a uma campanha
eleitoral essencialmente de revolta e de protesto, alcançou mais de 90 mil
votos, algo nunca antes conseguido, garantindo para além do seu eleitorado mais
fiel uma parcela numerosa do chamado eleitorado flutuante, que vota sem
compromissos com os partidos - o mesmo eleitorado que na minha opinião deu a
Cafofo (ao "independente" Paulo Cafofo a votação que teve e nunca
antes alcançada, e não ao PS-Madeira).
Portanto comparar quantitativamente
eleições é natural e possível, mas a análise fica distorcida se aquela
realidade a que me referi antes, no caso das regionais de 2007, não for
considerada.
Vejamos:
- Regionais de 2004
Votantes - 137.693
PSD - 73.904 (53,7%)
PS - 37.898 (27,5%)
- Regionais de 2007
Votantes - 140.721
PSD - 90.339 (64,2%)
PS - 21.699 (15,4%)
- Regionais de 2011
Votantes - 147.344
PSD - 71.556 (48,6%)
PS - 16.945 (11,5%)
- Regionais de 2015
Votantes - 127.545
PSD - 56.569 (44,4%)
PS - 14.574 (11,4%) - coligação com
PTP, PAN e MPT
- Regionais de 2019
Votantes - 143.190
PSD - 56.448 (39,4%)
PS - 51.207 (35,8%)
As regionais de 2011 foram, na minha
opinião, as eleições mais difíceis de sempre para o PSD-M, devido ao impacto
negativo do chamado "buraco" financeiro e do medo que as pessoas
tiveram pela austeridade que chegou através do PAEF, em 2012. Com elas chegou o
princípio da descida eleitoral do PSD-M que se viria a confirmar nas autárquicas
de 2013 e culminou com as regionais de 2019, depois do negativo ano eleitoral
de 2015 e do "mais do mesmo" nas autárquicas de 2017 (LFM)
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