Na minha vida profissional - acho que já escrevi isso mas volto a referir sem qualquer complexo ou arrependimento - não me recordo de ter votado em nenhuma lista candidata ao Sindicato dos Jornalistas que não fosse afecta ao PCP. Não me interessava nada saber propostas de programa ao pormenor. Eu tinha a certeza, pelos anos de experiência, que os meus colegas afectos/conotados com o PCP eram os que mais eficazmente defendiam os interesses da classe aqueles que davam a cara, na primeira linha do combate sindical, pela defesa e prestígio do jornalismo. Parece um paradoxo se considerarmos a lógica do jornalismo e o modelo de funcionamento dos meios de comunicação nos antigos países do leste europeu e na ex-URSS em particular, totalmente controlados pelo estado e sob domínio do partido comunista. Mas em termos sindicais, e no caso de Portugal, essa era a realidade.
Vem esta introdução a propósito do que vou afirmar e que pode não agradar a Edgar Silva e seus pares, não pelo que vou dizer, mas devido a quem o diz.
Eu se fosse eleitor de esquerda, ideologicamente de esquerda - não uma esquerda pindérica e idiota que por aí anda - se estivesse indeciso tomava duas decisões concretas: em vez de ficar em casa e optar pela abstenção - que sendo legítima democraticamente não ajuda em nada a reforçar a democracia, pelo contrário, questiona a representatividade dos eleitos - e, repito, tratando-se de um eleitor que nunca votaria no centro-direita, dava o apoio ao PCP, que à esquerda, e apesar dos erros, de algum fundamentalismo idiota e de dificuldade de adaptação aos novos tempos e a um novo modelo de sociedade que nada tem a ver com os tempos da antiga URSS e da ideologia que ela emanava para os demais PCs europeus, continua a ser o partido mais genuíno e aquele que, penso eu, merece mais confiança, apesar, repito, de todos esses erros.
Lembro a seguinte evolução nas legislativas nacionais que mostram que o PCP continua claramente "entalado" entre PS e Bloco, situação que ficou ainda mais evidente nas europeias de 2019 e nas desastrosas autárquicas de 2017:
- Legislativas de 1999 - 483.716 votos, 9% e 17 deputados (Bloco superado pelos comunistas)
- Legislativas de 2002 - 378.640 votos, 7% e 12 deputados (Bloco superado pelo PCP)
- Legislativas de 2005 - 432.009 votos, 7,6% e 14 deputados (BE superado)
- Legislativas de 2009 - 446.994 votos, 7,9%, 15 deputados (Bloco mais votado que os comunistas)
- Legislativas de 2011 - 441.852 votos, 7,9%, 16 deputados (Bloco superado)
- Legislativas de 2015 - 445.980 votos, 8,3% e 17 deputados (Bloco mais votado que os comunistas)
Já nas regionais, recordo o percurso do PCP:
- Regionais de 2004 - 7.593 votos, 5,5% e 2 deputados
- Regionais de 2007 - 7.659 votos, 5,4% e 2 deputados
- Regionais de 2011 - 5.546 votos, 3,8% e 1 deputado
- Regionais de 2015 - 7.060 votos, 5,5% e 2 deputados
Recordo que nas presidenciais de 2016 o candidato do PCP obteve na Madeira uns impensáveis - a lógica do regionalismo foi claramente a justificação desta votação, tal como acontecera com José Manuel Coelho em 2011 com os seus 46.247 votos, 39% na Madeira) - 22.414 votos, 19,7% (LFM)
Nota: claro que o PCP sabe que nas urnas, por questão de coerência e de verdade, sem hipocrisia, não leva o meu voto. Se a opção fosse pela esquerda regional, a pindérica , a foleira e a genuína, eu votaria sem hesitação no PCP
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