O padre Júlio
Santos. Não é um padre qualquer, é um padre igual aos demais, um ser humano com
defeitos e virtudes como qualquer outro ser humano e que mesmo o facto
acrescido de ser padre da Igreja de Roma, isso não o coloca num patamar de
"desumanização" que alguns mais fundamentalistas sustentam.
Aliás isto
é tudo uma hipocrisia alimentada pelo Vaticano, não pelo Papa Chico – também em
parte por ele – mas por uma casta mafiosa que se move nos corredores do
Vaticano impondo as suas regras, as regras que melhor lhes interessam e à
consolidação do seu poder, ambição e manipulação. Durante séculos, em nome da
colonização, que andava de braço-dado com a Igreja de Roma, matou-se e
roubou-se por esse mundo fora com a conveniência silenciosa da Igreja, por
vezes até nada silenciosa tal o descaramento com que tudo era feito. Ou já se esqueceram da Inquisição e das palhaçadas no Vaticano com alguns Papas nos primórdios da Igreja?
Durante
anos foram as vergonhosas situações da pedofilia que só agora começaram a ser
denunciadas, perante a cegueira cúmplice de uma hierarquia religiosa que se
escandaliza por idiotices mas há muito perdeu a dignidade e o respeito com
outras vergonhas bem mais descaradas. Obviamente que não se pode desculpar um
erro com o apontar multiplicador dos erros dos outros. Isso não é solução para
ninguém. Mas para condenar e castigar, neste caso a hierarquia da Igreja
portuguesa, há que ter autoridade moral e dignidade para o fazer. Algo que
sabemos todos que não tem, sem obviamente cair no erro da injustiça da
generalização.
Dir-me-ão
que um padre quando escolheu essa opção de vida – por vocação ou empurrado por
factores sociais que levaram ao longo dos anos muita gente aos seminários e à
ordenação - sabia quais eram as regras que lhe eram impostas. O mesmo se
pode dizer ao ladrão que rouba, ao corrupto que corrompe, ao pedófilo que abusa
de crianças, ao padre que tem relação e esconde, quando devia assumir, ao criminoso que mata, ao
sacerdote que tem filhos e não teve a dignidade de os assumir, como devia, etc.
O Padre Júlio
Santos cometeu um “pecado” enorme que o afastou da Igreja e do exercício do
sacerdócio e da consequente celebração das missas que ele reconhecia ter
saudades de celebrar. O Padre Júlio Santos ficou conhecido devido à publicação
de uma fotografia sua, em cuecas, deitado na cama de um hotel, fotografia que o
próprio reconheceu ter sido tirada pela mulher que o acompanhou nessa travessia
da linha vermelha - aos olhos da hierarquia religiosa – e que revelou falta de
dignidade e de carácter, mesmo que o padre Júlio Santos lhe tenha perdoado essa
traição, como ele próprio o revelou.
Poderia ter sido um lapso de alguém. Mas não foi. Para evitar mais
polémicas o padre reconheceu tudo, admitiu que foi um episódio isolado que em
nada afectou a ligação sentimental à Igreja, a Deus e à opção de vida que tomou
há dezenas de anos quando seguiu essa vocação. Nas entrevistas dadas, percebe-se que os dois reconhecem ter avançado ousadamente para
além das tais linhas vermelhas que a Igreja impõe aos seus padres. A que se junta a sacanagem - não tem outro nome - da parceira de aventura que das duas uma: ou pretendeu tramar o sacerdote, ou tem uma cabeça com falta de inteligência
Julgo que o Padre Júlio Santos não é pedófilo, não anda metido em casos de gamanço
de dinheiro ou nem sequer está relacionado com esquemas mafiosos que conspurcaram o
Vaticano e que o tornaram num antro de promiscuidades e poucas-vergonhas que
ninguém consegue ver entre muros. Desconfio que o padre Júlio Santos não será membro
daqueles alegados circuitos secretos promíscuos que se movem nos bastidores do
Vaticano, fomentando orgias sexuais, na maioria dos casos homossexuais, pelo
simples facto de que tanto sacerdotes como não sacerdotes neles envolvidos, não
podem assumir a sua natureza humana. Mas quanto a isso, os que deviam – deviam
mesmo? - agir e decidir, andam todos distraídos, cegos ou com matos nos olhos.
Todos sabem o que se passa, todos conhecem ou já ouviram falar de histórias que
insultam a Igreja e o catolicismo. Sabemos que foi graças à pressão externa, à denúncia das vítimas, à investigação policial e judicial, que se descobriu toda essa trampa que
retira qualquer autoridade moral à hierarquia religiosa. Para condenar seja quem for.
Uma Igreja que continua a perder pessoas, que continua a distanciar-se
das pessoas, que sabe que ninguém mais confia nos padres, que insiste num sistema desajustado de regras e códigos que se aplicam a uns mas metem-se na gaveta no caso de
outros. Tudo isto no dia em que o Vaticano - esse "pecador" do Papa
Chico anda mesmo a querer sacudir o sistema sendo já o alvo da irritação da “velharia” que
ocupa os corredores do Vaticano, entre os quais residem os maiores bandidos que
insultam a Igreja e que mostram que afinal podemos estar a ser ludibriados por
uma doutrina e uma Igreja construída por homens, com regras impostas pelos
homens, com textos, doutrinas e regras impostas nos sucessivos Concílios, uma
Igreja que até teve um Bórgia como Papa (!), tudo para que um determinado “status”
e modelo de manipulação, pressão e enriquecimento ao longo dos séculos fosse
viabilizado. Mas não entro por aí porque este tema tem tudo a ver com a fé das
pessoas, e respeito as crenças de cada um, mesmo daqueles que acham que há
muita contradição e hipocrisia e que qualquer coisa não está bem, algo que
percebemos que questiona tudo o que acreditamos que porventura desincentiva até
comportamentos, mas que preferem acomodar-se para evitar melindres.
Enquanto isto o Padre Júlio Santos, afastado pela e da Igreja, continua por lá, segundo os jornalistas, convivendo com as pessoas, sem hostilidades, porventura menos algumas bestas mais conservadoras que catalogam o padre de "bandido" só porque pecou com a outra, mas que deixaria de "pecar" se fossem elas as protagonistas da história, etc. Eu nunca ousarei apontar o dedo contra o padre Santos, nunca o julgarei na praça pública, nunca lhe acusarei seja do que for.
Enquanto isto o Padre Júlio Santos, afastado pela e da Igreja, continua por lá, segundo os jornalistas, convivendo com as pessoas, sem hostilidades, porventura menos algumas bestas mais conservadoras que catalogam o padre de "bandido" só porque pecou com a outra, mas que deixaria de "pecar" se fossem elas as protagonistas da história, etc. Eu nunca ousarei apontar o dedo contra o padre Santos, nunca o julgarei na praça pública, nunca lhe acusarei seja do que for.
Lembro-me, depois de tudo isto, do padre Giselo Andrade, que assumiu a paternidade de uma criança fruto de uma relação com uma jovem que vi escrito terá feito parte da sua história de jovem, ainda antes de entrar no seminário, segundo consta. Independentemente do que cada um pensa do que se passou, independentemente dos juízos de valor que sejam feitos, dos julgamentos sociais sempre acelerados e manipulados, como é habitual, um e outro são vítimas da natureza (alguns dizem da fraqueza) humana numa Igreja que não tem a coragem de assumir que os tempos são outros, que as leis da Igreja e do catolicismo foram criadas e impostas pelos homens, não por Cristo e que há que adaptar a estrutura religiosa a um novo tempo, a uma nova realidade sob pena dela se definhar aceleradamente. Aliás repito me insisto, não é por acaso - apesar do fundamentalismo que existe - que o Papa Chico abriu a discussão há dias sobre a possibilidade dos sacerdotes nas zonas mais isoladas (caso da Amazónia) se poderem casar. Mas qual a diferença entre esses e os demais padres? É esta dualidade de critérios, este tímido apelo ao debate - que dificilmente trará novidades numa Igreja católica que continua doutrinalmente a afastar as mulheres de qualquer envolvimento, relegando-as para um ofensivo plano secundário no âmbito da Igreja olhada como um todo - que tem vindo a aumentar a minha desconfiança em relação a tudo (LFM)
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