terça-feira, junho 18, 2019

Estes artistas que a gente deixa entrar pelo país dentro: Compra da TAP e Avianca coloca Neeleman e Azul debaixo de fogo

Enquanto que em Portugal foi notícia que Neeleman conseguiu comprar a TAP com recurso a um prémio da Airbus – conseguido com a troca de uma pré-encomenda feita pela TAP pública ao fabricante de aviões – do outro lado do Atlântico a Azul é acusada de também querer ficar com a Avianca sem pagar.
David Neeleman e a companhia aérea Azul estão debaixo de fogo. O empresário brasileiro terá usado 70 milhões de um ‘prémio’ dado pela Airbus para comprar a TAP enquanto do outro lado do Atlântico, no Brasil, a Azul está igualmente a ser acusada pela concorrência de querer ficar com o que sobra da transportadora aérea Avianca, em processo de insolvência, sem pagar nada.
Segundo noticiou esta semana o semanário SOL, Neeleman conseguiu em 2015, com a troca da encomenda de 12 aviões A350, cujo valor da pré-encomenda já tinha sido pago pela companhia portuguesa, por outra de meia centena de aviões dos modelos A320 neo e A330 neo encaixar 70 milhões de euros dados pela Airbus, uma espécie de pagamento por custo de oportunidade, dado que o fabricante de aviões teria clientes para os A350 que iriam pagar mais do que o valor pelo qual a TAP tinha opção de compra. E, além disso, não ficavam a perder, dado que a companhia aérea comprometia-se a comprar novos aviões, neste casos os modelos que chegaram a Portugal ainda em fase de teste.
Segundo aquele semanário, todos ganharam com os recursos da companhia pública e a parte que Neeleman ganhava entrou na TAP como investimento privado, num negócio em que a Atlantic Gateway – de David Neeleman, dono da companhia aérea brasileira Azul, e de Humberto Pedrosa, o patrão do Grupo Barraqueiro – pagou 354 milhões por 61% da empresa (dos quais só 10 milhões foram parar ao Estado). Quase tudo o que empatou na compra foi coberto pelo valor do prémio.
Um dia depois da notícia do SOL, do outro lado do Atlântico uma entrevista de Jerome Cadier, presidente da companhia aérea Latam, à Folha de São Paulo dava conta de suspeitas idênticas, ou seja de que a Azul se preparava para ficar com a Avianca sem pagar por isso. “Em dezembro se decreta a recuperação judicial da Avianca e em março a Azul faz uma proposta de um leilão em que só ela, e nenhuma outra companhia, poderia participar”, começa por afirmar Cadier, respondendo a acusações da Azul de que a Latam e a Gol se tinha unido para acabar com a Avianca e travar a entrada da Azul na ponte aérea entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Cadier contesta esta concertação entre as duas companhias avançada pelo presidente da Azul, John Rodgerson: “Todo o discurso dele está baseado em mentiras. Ele leva o setor todo ao descrédito. Fica parecendo que é um setor que não é sério, que não tem regras”.

O responsável da Latam conta ainda que depois de negociada outra forma de leilão que permitia a entrada das companhias Gol e Latam, além da Azul, esta última fez outra proposta em que só ela poderia participar: “Surpreendentemente elevando o preço. Para mim a Azul quer levar a Avianca sem pagar”.
Sobre as alegadas dificuldades criadas à Azul para entrar na ponte aérea, o presidente da Latam responde: “O que o John [Rodgerson] esconde é: ele já tem 13 slots no aeroporto de Congonhas. A Avianca tem 21 slots em Congonhas, ela usava 13 para operar na ponte aérea”.
Referindo que a Azul só não entra na ponte aérea porque não quer, Cadier vai ainda mais longe: “O objetivo dele é leva os slots pagando o mínimo possível. Sem concorrência”.
Neeleman recusou em 2016 ter ganho dinheiro com troca de aviões “O que eu fiz foi ir à Airbus e dizer que não queria os A350, porque não faziam falta à TAP. Mas queria os A330 e os A321 LR (Longo Alcance) porque são mais rentáveis. A TAP pode, com os A321 LR, voar para Toronto, Boston, Nova Iorque e até Chicago, com custos mais baixos”, disse em janeiro de 2016, numa entrevista à Visão. Quanto a ganhos com a troca em si, Neeleman preferiu responder com uma frase na negativa: “Eu não tirei nada da TAP. Estou a trazer este valor todo e não posso tirar um cêntimo enquanto a dívida bancária da TAP não estiver toda paga. Esse é o contrato que tenho de cumprir”.
Ao SOL, a TAP disse não poder “comentar os investimentos realizados pelos seus acionistas na privatização”, adiantando que “evidentemente são do conhecimento do Governo Português e da Parpública”. Reforçou também que os mesmos já foram “explicados na última decisão do Tribunal de Contas”. Já a Atlântic Gateway afirma que “todas as obrigações de capitalização da TAP que resultaram do processo de privatização foram totalmente cumpridas por um lado por David Neeleman e Humberto Pedrosa através da Atlantic Gateway e por outro, pela Azul e Parpública através da subscrição do empréstimo obrigacionista”.
O consórcio também defendeu que “os montantes realizados na capitalização foram amplamente divulgados aquando da privatização”.
Contactado pelo semanário, o ex-secretário de Estado Sérgio Monteiro, que conduziu quase todo o processo, empurrou responsabilidades para o Executivo que esteve em funções menos de um mês em 2015: “Não conheço, não acompanhei os termos finais da operação e portanto não tenho como fazer comentário quanto a esse ponto específico. Eu acho que não há forma de não haver investimentos, até porque as obrigações de investimento, presumo eu, ficaram contratualizadas”.
Já o ex-ministro da Economia, António Pires de Lima teve uma atitude diferente: “Assumo a responsabilidade da privatização da TAP em 2015. Era um objetivo e uma necessidade reconhecidos há mais de 20 anos. Salvou-se a companhia”.
A recompra da TAP e os recados de Neeleman O atual Executivo decidiu logo no início recuperar o controlo estratégico da empresa, passando a deter 50%, ganhando obviamente com isso responsabilidades que havia perdido com o processo de privatização. A opção do Governo de António Costa foi considerada pelo Tribunal de Contas “regular” e “eficaz”, ainda que não tenha conduzido “ao resultado mais eficiente”.
Esta semana numa entrevista ao Expresso, Neeleman disse que não seria bom para a companhia aérea portuguesa o Estado voltar a ficar com 100% do capital. “Aceitei negociar com o atual Governo que o Estado retomasse 50% da empresa com base em determinados pressupostos que negociámos e que constam dos contratos que celebrámos. E os contratos têm sido cumpridos de parte a parte. Isso é o mais importante”, disse, admitindo que têm existido dificuldades na gestão da empresa. Disse ainda que, apesar da polémica com os prémios atribuídos a quadros superiores da TAP em ano de prejuízos, acredita que quando se reencontrar com o ministro Pedro Nuno Santos “não haverá qualquer problema” (texto de José Fernandes e Carlos Diogo Santos, ionline)

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