Uma declaração
prévia de interesses: conheço o Joe Berardo há muitos anos, talvez há três
décadas. Não me considero um amigo porque amizade é uma coisa muito séria. Muito
menos “amigo” como aqueles amigos da onça que viraram costas a Berardo quando
este processo de foi agravando. Falo de gente que ficou conhecida incluindo
esses "amigos" de Joe Berardo que hoje se colocaram de bancada gozando
com a desgraça alheia, incentivando os ataques ao comendador ou mesmo criticando-o
pela surdina. Os chamados amigos da onça que certamente Joe Berardo teve
muitos, ao longo dos anos...
Em segundo lugar,
outra declaração de esclarecimento: Berardo quando foi condecorado pela
República Portuguesa, foi-o porque fez para que isso fosse realidade, teve
mérito, realizou diversas iniciativas. Não é agora, por causa do que se passa, nem
mesmo se lhe retirarem a condecoração, que ele deixa de ter o mérito de tudo o
que fez, sobretudo na África do Sul, e que viria a estar na origem da
condecoração atribuída pelo estado português. Aliás, foi no quadro das relações
entre a RAM e as suas comunidades no estrangeiro que conheci Joe Berardo, que
com ele trabalhei muitos anos na organização de vários eventos neste domínio
comunitário. Sempre nos damos bem, pelo que não será agora que lhe virarei as costas,
independentemente de ter uma opinião própria e pessoal sobre o que não deve
continuar a fazer.
Uma nota final que
é sobretudo um desafio: eu gostava de conhecer a lista de todos os condecorados
das República, desde 1975 até hoje, nas diferentes comendas, para verificarmos
se o estado português tem ou não razões de queixa, em relação a muitos deles,
como agora parece que certas "almas caridosas" sustentam em relação a
Joe Berardo.
Primeiro erro
Começo por admitir
que Joe Berardo não percebeu - ou não lhe disseram - que ia a uma assembleia
para depor perante uma comissão de inquérito, e não propriamente para tomar
café ou almoçar, num ambiente que lhe seria hostil, demasiado hostil, e que
tudo estava preparado para que tentassem tirar o escalpe de Berardo e pressioná-lo
até ao tutano. E como não lhe disseram nada, falharam, pelo que acabamos por
ter espectáculos deprimentes como aquele propiciado por um baralhado advogado a
propiciar momentos ridículos durante a audição.
Repito, Joe cometeu o maior erro da sua vida - comparência
na comissão de inquérito da Assembleia da República sem saber bem o que ia lá fazer
e sem se ter preparado adequada e previamente - e isso poderá ter destruído a
sua imagem de forma irreversível e deitado por terra algumas esperanças dele na
inversão de uma situação que em nada o favorece, apesar de eu pensar que a
história de tudo o que se passou estar ainda por contar.
Berardo, ao contrário da imagem calculista que sempre
alimentou, foi ao parlamento, mais do que expor as suas vulnerabilidades,
destruir a esperança de que o juízo que a opinião pública dele tem, se
alterasse. As pessoas só querem a verdade e que quem for condenado cumpra os seus deveres de cidadania.
Berardo, sabe que hoje, mesmo que um dia a história
toda venha a ser contada, em todos os seus contornos, com todos os seus
protagonistas, com tudo o que esteve em cima da mesa sem o secretismo que parece
existir em relação a alguns itens, dificilmente inverterá esta tendência de um
potencial maior afundanço.
Água na fervura
Posteriormente a tudo isso, Joe Berardo sentiu necessidade (ou…?!)
de emitir um comunicado reconhecendo os erros cometidos na audição, sobretudo
em termos de atitude e de postura perante os deputados e pelas respostas dadas
a alguns itens mais polémicos. Demorou mas acabou por tentar controlar parte
insignificante dos danos causados por uma prestação que, verdade seja dita,
ficará na história como o maior erro do empresário madeirense e com
consequências que embora facilmente previsíveis, não são ainda quantificáveis
em termos do impacto e da amplitude dos estragos causados, quer em termos de
imagem pessoal, quer em termos das instituições que lidera.
Todas as semanas as televisões e os jornais de uma maneira
geral escalpelizam os negócios e o mundo empresarial de Berardo, ridicularizam
o empresário, desconfiam de tudo o que afirmou, acusam-no de “jogador” (ou “golpista”)
e de gozar com os portugueses, por serem estes a pagar o que o empresário terá
ficado a dever à CGD e que deu origem a um processo judicial através do empresário
madeirense pretende ser ressarcido por via da reclamação de milionárias
indemnizações, pese o facto dos tempos não lhe serem favoráveis. Em nada!
Silêncio imediato e nada de "guerras" condenadas ao fracasso
Joe Berardo continua a não entender que este não é o seu tempo. Faça o que fizer, diga o que disser, aquela audição parlamentar revelou-se catastrófica para ele, para a sua imagem pública e da sua Fundação, para a sua defesa junto da opinião pública onde Joe, goste ou não de ouvir e aceitar, já foi definitivamente condenado. Ninguém mais acredita nele. Qualquer "guerra" que ele compre para tentar atenuar os efeitos devastadores que a audição teve, será sempre uma derrota dele. As pessoas não o apoiam, não lhe dão credibilidade, querem apenas a verdade, querem basicamente que ele faça tudo o que qualquer cidadão faz quando tem compromissos bancários na sua vida. Muitos perderam bens essenciais quando deixaram de poder cumprir com os bancos o que se tinham comprometido.
Quando recomendo a Joe que se remeta ao silêncio e que deixe de andar na praça pública armado em comentador de terceiros, faço-o sem qualquer interesse, apenas por amizade, porque aconteça o que acontecer continuo a pensar que, apesar dos erros cometidos, da desproporcional ambição pessoal, do deslumbramento sobretudo mediático gerado com o episódio da guerra no BCP (valerá a pena lembrar uma envergonhada tentativa de OPA sobre a SAD do Benfica??!!) , tudo indica que Berardo poderá ter sido vítima de uma tramóia político-financeira que o transcendeu, foi "comido" e bem "comido" por aqueles que os portugueses já perceberam se limitaram a usar Joe como ponta de lança de uma estratégia bem mais pesada e corrosiva que, falhando, traria problemas graves que porventura foram minimizados ou ignorados.
Berardo compra uma guerra com os deputados por causa da emissão pública da audição pelo canal parlamento (outro erro desastroso), compra uma guerra com os jornalistas num tempo em que é o elo mais fraco (outro desastre) arma-se em campeão usando uma fonte da sua Fundação para criticar uma qualquer alegada falta de memória de Constâncio, numa história onde há de tudo, menos verdade, seriedade e ética dos protagonistas. E fá-lo depois da desastrosa e fatal audição parlamentar onde a falta de memória foi frequente, a começar pelo valor da renda paga pela casa onde vive em Lisboa. E até se esqueceu de convocar os bancos, pelo que foi noticiado, para uma determinada assembleia geral, decisiva neste processo, da sua Fundação ou entidade "dona" da colecção.
Assessoria de imprensa
Cale-se, de uma vez por todas, resguarde-se, não envolva a Fundação nem nenhuma outra entidade a que esteja associado e aguarde pela evolução das coisas. Suspeito que corre o risco de uma nova audição parlamentar que dificilmente não deixará, a se confirmar, um tremendo e penoso soco no estômago neste processo. Mais um.
Mais do que já lhe aconteceu não vai certamente acontecer. Berardo não vai conseguir nunca, muito menos atacando outros protagonistas do processo, recuperar a sua imagem. Só tem uma via, a de dizer tudo o que sabe - e não diz - resolver os problemas que o acusam e fragilizam publicamente ou esperar que a justiça actue com mais celeridade, embora condicionada pela natureza deste complexo caso. E deixe de ser influenciado pelos advogados que deviam ter feito o trabalho de casa, no momento próprio, talvez o momento mais importante da vida de Joe Berardo - a audição na Assembleia da República - e não o fizeram. Berardo pareceu displicente, desarrumado nas ideias, desorganizado, confuso, cometendo imensos erros com o discurso (tipo) utilizado, cometeu o erro tremendo de tentar desresponsabilizar-se de qualquer dívida pessoal neste processo, pareceu surpreendido por vezes, algo perplexo com as questões postas pelos deputados, incapaz de reverter a seu favor ventos adversos que sopravam já demasiado fortes contra ele. E mais fortes ficaram.
Berardo precisa de uma assessoria de imprensas - desconheço se a tem - que trabalhe com ele num patamar de confiança incondicional, que o aconselhe, que acompanhe todo o processo, que informe Berardo diariamente de tudo o que se passa, a montante e a jusante dos seus interesses, que separe a lógica discutível do direito de uma componente comunicacional cada vez mais determinante a partir do momento em que as coisas chegaram ao ponto que chegaram. Aos advogados pede-se que preparem, de forma adequada uma eventual nova chamada ao parlamento. Desconfio que estão a construir essa inevitabilidade. Não podem cometer o mesmo erro duas vezes e facturar por conta de serviços prestados, como se nada se tivesse passado. (LFM)
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