segunda-feira, agosto 29, 2016

Jornalismo: O jornal japonês que ainda escapa à crise da imprensa

Responsáveis do segundo diário mais vendido no Japão e no mundo revelam ao DN que a circulação tem vindo a decrescer e que já apostam num "jornalismo de solução". Se existe um país onde a crise do papel parece ainda não afetar, pelo menos de forma galopante, os principais jornais nacionais, esse país é o Japão. A ele pertence o top 3 dos títulos mais vendidos em banca a nível mundial, o que significa que a transição para o jornalismo digital tem sido mais demorada do que nas regiões ocidentais. Asahi Shimbun, o segundo jornal diário mais vendido no Japão e no mundo, estreou-se no universo online relativamente cedo, quando comparado com os seus concorrentes. Em 2011 - no mesmo ano que o The New York Times, um dos pioneiros - lançou o seu modelo de subscrição digital, aquilo a que os responsáveis gostam de chamar "jornalismo de solução".
"Não queremos limitar-nos ao estilo tradicional dos media, por isso estamos à procura de um jornalismo baseado no uso das redes sociais, bases de dados e grandes tecnologias", explica ao DN fonte oficial do departamento de comunicação. A estratégia inovadora do Asahi Shimbun passa ainda pela procura de "parcerias com organizações não governamentais, com universidades [incluindo a conceituada Universidade de Harvard, nos EUA] e empresas peritas no desenvolvimento de tecnologia avançada". Paralelamente, a publicação tem apostado no seu "laboratório de media, dedicado ao desenvolvimento de novas iniciativas de negócio e ao lançamento de programas que apoiem firmas e empreendedores", acrescenta a fonte. Este "jornalismo de solução" passará muito em breve para primeiro plano, devido ao "envelhecimento da base de leitores". Quem o diz é o editor de redes sociais da publicação japonesa, Takeshi Fujitani. "A partir de setembro, vamos transformar a nossa redação num espaço mais digital. Mas, como ainda dependemos fortemente dos lucros do papel, muitas pessoas ainda estão relutantes nesta mudança". Além disso, adverte Fujitani, "o Asahi Shimbun tem mais de 4000 funcionários, incluindo mais de 2000 jornalistas, pelo que não é fácil mudar as suas mentalidades". Não é de admirar que assim seja, já que o papel continua a representar uma porção generosa dos lucros do Asahi Shimbun - conta-nos o editor que 85% das receitas vêm das vendas da edição impressa. Ainda assim, sem fugir à tendência mundial, a circulação diária do jornal tem vindo a decrescer nos últimos anos. "Em 2005, distribuíamos 8,13 milhões de cópias diárias. Em 2010, esse número desceu para ser inferior a oito milhões de cópias. E em 2015 já era de 6,7 milhões", revela-nos o representante do departamento de comunicação.
É por isso que o futuro do Asahi Shimbun passa por abraçar a revolução digital e não, ao contrário do que muitos tentaram fazer, sem sucesso, combatê-la. "Em vez de tentarmos recuperar os nossos antigos números de circulação, vamos dedicar-nos a reforçar a nossa presença online, especialmente em aparelhos como os smartphones, que vieram mudar a forma como as pessoas consomem informação. Na verdade, espera-se que os dispositivos móveis se tornem o principal portal de acesso a notícias", frisa o responsável. Com cerca de 160 mil subscritores da edição digital - disponível também em inglês, chinês e coreano -, o Asahi Shimbun orgulha-se ainda da interatividade que promove junto dos seus leitores no Twitter. Os repórteres, editores e correspondentes sabem que, sempre que algum acontecimento o justificar, deverão publicar atualizações em forma de vídeo para que o acompanhamento do público seja feito quase em direto. "Temos contas do Twitter dedicadas às secções de Notícias Internacionais, Política, Cultura e Negócios, bem como páginas dedicadas exclusivamente a medicina, basebol, futebol, entre outros temas", detalha o porta-voz da publicação nipónica. Fundado a 25 de janeiro de 1879 por Kimura Noboru, Murayama Ryohei e Tsuda Tei, o Asahi Shimbun é o segundo jornal com maior volume de circulação a nível global. Fica apenas atrás do Yomiuri Shimbun, e ultrapassa o Mainichi Shimbun - ambos japoneses (DN-Lisboa)

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