As frases de Passos
Coelho em análise: “O Governo português nos últimos três anos colocou mais
dinheiro na saúde, mais médicos na saúde e mais meios na saúde do que qualquer
outro até há três anos”; “Temos mais camas disponíveis, tratamos mais doentes,
há mais actos médicos que são produzidos no SNS” As declarações do
primeiro-ministro suscitam cinco comparações com o executivo anterior. Nos
cinco anos completos em que governou (2006-2010), José Sócrates apresentou uma
previsão média anual de transferências para o Serviço Nacional de Saúde (SNS)
de 8002 milhões de euros. A média anual de Passos Coelho para os seus três anos
completos (2012-2014) foi de 7627 milhões. Mas depois de cada ano cumprido, com
os valores ajustados ao que cada um realmente transferiu, incluindo os
orçamentos rectificativos, as posições invertem-se: Passos gastou 8432 milhões
e Sócrates 8022 milhões. Os anos de 2005 e 2011 são anos de transição entre
governos e de responsabilidade repartida, não contando para esta média. Os
maiores ajustamentos com rectificativos acontecem com o Governo PSD/CDS. Em
2012, Passos previu que o ministro da Saúde gastaria 7498 milhões, menos que os
8251 milhões que Sócrates tinha previsto para a sua ministra no ano anterior.
Porém, acabou esse mesmo ano com uma derrapagem para 9695 milhões. Três anos
são uma palavra-chave nas duas frases do primeiro-ministro. Sócrates previa transferir
para o SNS um total de 23.212 milhões nos primeiros três anos completos de
mandato e Passos apenas 22.882 milhões. Sócrates, no final do período,
transferiu até ligeiramente menos (23.211 milhões), enquanto Passos excedeu em
muito as previsões (25.298 milhões). Em valores absolutos, o actual
primeiro-ministro transferiu mais 2087 milhões do que o seu antecessor, nos
três primeiros anos completos de mandato de cada um. Os três primeiros anos
completos de mandato de Passos são também os três últimos com dados
disponíveis. No caso de Sócrates, então a caminho do segundo mandato,
correspondem ao início da crise e da austeridade: entre 2008 e 2010, o
ex-governante previu 24.699 milhões e gastou 24.798 milhões. O actual
primeiro-ministro colocou mais 1587 milhões quando a comparação é pelos últimos
três anos PS. No que toca ao destino do dinheiro, a leitura também não é
directa. Um conjunto de verbas significativas não foi gasto pelo actual
executivo na prestação de cuidados mas no plano de regularização de dívidas e
aumento de capital dos hospitais do sector empresarial do Estado (EPE), que
representam a maior parte do parque hospitalar português. O plano custou um
total superior a 2900 milhões de euros (incluindo já o que está previsto para
2015) (texto das jornalistas do Público, Alexandra Campos e Romana Borja-Santos)