sábado, fevereiro 28, 2015

Opinião: "Made in Costa"

"Lembram-se quando António Costa dizia que António José Seguro só divergia do PSD e do Governo de Passos Coelho na "dose e no ritmo" da austeridade?
Pois bem, o que percebemos agora é que para António Costa a "dose" e o "ritmo" impostos pelo Governo não só permitiram "enfrentar" como "vencer" a crise. É essa a conclusão a que se chega depois de o ouvir nas comemorações do ano novo chinês:
"Como nós dizemos em Portugal, os amigos são para as ocasiões. E numa ocasião difícil para o país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os chineses, os investidores disseram presente, vieram e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela que estava há 4 anos. E queria agradecer à China todo o apoio que nos deu e que certamente não esqueceremos e que é um sinal do muito que ainda temos para desenvolver nas relações entre todos nós" (fim de citação).
O PS argumenta que há ocasiões e ocasiões para fazer oposição. Que aquele não era o cenário, frente a uma plateia de estrangeiros, para criticar.
Estranho, no fim de semana passado, António Costa esteve em Espanha (também frente a estrangeiros) e não poupou nos ataques.  E dias antes tinha estado em Bruxelas onde fez o mesmo.
No discurso do socialista (cujo vídeo foi habilmente colocado nas redes pelo centrista Nuno Melo) os chineses não só fizeram muito por nós, como até merecem um inesquecível agradecimento. Quer isto dizer que com Costa em São Bento haverá mais chineses em novas privatizações? A sua estratégia também será a de vender as empresas nacionais?
Nas palavras de António Costa, Portugal está melhor do que há quatro anos. Mas afinal em que ficamos? No país que venceu a crise como agora declara, ou nas críticas à governação da troika de Passos e Portas?
Naquele palco, frente aos chineses, quem falava era António Costa, mas sentindo-se já primeiro-ministro. Vestiu o fato para pedir aos homens do capital que não se esqueçam dele quando chegar ao poder.
Só que o problema é mesmo esse: a chegada ao poder. No PS já se fala em desilusão, e de facto o que Costa tem mostrado é que não só não tem conseguido distanciar-se de Seguro, como a política que propõe não será, nem pode ser, muito diferente da seguida pelo atual Governo. O caminho é demasiado estreito. E há uma imensa dívida para pagar.
Se fecharem os olhos e ouvirem a declaração, não encontrarão grandes diferenças em relação aos discursos que Passos e Portas andam há meses a repetir. Só faltou mesmo dizer que Portugal não é a Grécia. Mas Costa chegará lá" (texto do jornalista do Expresso, Bernardo Ferrão, com a devida vénia)