“Toda a
gente anda compreensivelmente preocupada com as perspetivas de vida para os
próximos tempos. É neste clima de interrogações e expectativas que o Banco de
Portugal (BP) apresenta o Boletim de Inverno com projeções económicas para 2014
e 2015. Vale a pena constatar que o banco central espera um resultado modesto,
mas positivo, quanto ao PIB neste último trimestre de 2013: só ele permite
concluir que a recessão ficará em -1,5% neste ano de 2013, em vez dos esperados
-1,8% que vinham sendo avançados por outras instituições.
No
próximo ano, o BP dá uma explicação para o ponto mais controverso do OE 2014:
como é possível que, com um tal orçamento restritivo, se preveja um valor
positivo para o consumo privado? De facto, o Boletim de Inverno confirma que o
rendimento disponível das famílias (com cortes de salários dos funcionários
públicos e de pensões dos aposentados da CGA) vai recuar; mas as famílias com
poupanças vão reduzi-las para consumir+0,3% do que em 2013. A taxa de poupança,
que estará já acima de 12 % do PIB, recuará um bom ponto percentual ao longo
dos próximos dois anos. Quanto ao investimento, só se pode dizer que deverá
arrancar em 2015.
É claro
que o BP apresenta, como é sua prática, o sentido dos riscos subjacentes ao
cenário central que apresenta. E eles estão do lado negativo. Isto é, a força
do motor das exportações dependerá do dinamismo da procura externa (calculada
em cerca de três vezes mais forte do que a de 2013), mas há sempre um ponto de
interrogação associado a esta variável; e o comportamento mais positivo do consumo
e do investimento, que devolve à procura interna o seu papel crucial na
atividade económica, admite que consumidores e investidores interiorizaram que
o pior já passou.
Tudo
revisto, voltamos à política. E nessa frente Passos Coelho joga à defesa: ainda
que haja folga no fecho das contas públicas deste ano, ele negá-lo-á até não
poder; prometer o corte da sobretaxa no IRS para 2015, agora, nem pensar.
Depois do adeus à troika, começar-se-á a reduzir a pressão fiscal, mas em dose muito
reduzida” (…) (editorial do DN de Lisboa, com a devida vénia)