quinta-feira, dezembro 19, 2013

Opinião: “Melhorias para quem?”



“Toda a gente anda compreensivelmente preocupada com as perspetivas de vida para os próximos tempos. É neste clima de interrogações e expectativas que o Banco de Portugal (BP) apresenta o Boletim de Inverno com projeções económicas para 2014 e 2015. Vale a pena constatar que o banco central espera um resultado modesto, mas positivo, quanto ao PIB neste último trimestre de 2013: só ele permite concluir que a recessão ficará em -1,5% neste ano de 2013, em vez dos esperados -1,8% que vinham sendo avançados por outras instituições.
No próximo ano, o BP dá uma explicação para o ponto mais controverso do OE 2014: como é possível que, com um tal orçamento restritivo, se preveja um valor positivo para o consumo privado? De facto, o Boletim de Inverno confirma que o rendimento disponível das famílias (com cortes de salários dos funcionários públicos e de pensões dos aposentados da CGA) vai recuar; mas as famílias com poupanças vão reduzi-las para consumir+0,3% do que em 2013. A taxa de poupança, que estará já acima de 12 % do PIB, recuará um bom ponto percentual ao longo dos próximos dois anos. Quanto ao investimento, só se pode dizer que deverá arrancar em 2015.
É claro que o BP apresenta, como é sua prática, o sentido dos riscos subjacentes ao cenário central que apresenta. E eles estão do lado negativo. Isto é, a força do motor das exportações dependerá do dinamismo da procura externa (calculada em cerca de três vezes mais forte do que a de 2013), mas há sempre um ponto de interrogação associado a esta variável; e o comportamento mais positivo do consumo e do investimento, que devolve à procura interna o seu papel crucial na atividade económica, admite que consumidores e investidores interiorizaram que o pior já passou.
Tudo revisto, voltamos à política. E nessa frente Passos Coelho joga à defesa: ainda que haja folga no fecho das contas públicas deste ano, ele negá-lo-á até não poder; prometer o corte da sobretaxa no IRS para 2015, agora, nem pensar. Depois do adeus à troika, começar-se-á a reduzir a pressão fiscal, mas em dose muito reduzida” (…) (editorial do DN de Lisboa, com a devida vénia)