“O partido que Rui Tavares resolveu fundar para
salvação da Esquerda e da Pátria não é muito diferente do modelo tradicional. Desde o princípio do regime democrático que sempre
houve a tentação de criar um partido novo com os “desiludidos” do PS e do PC e,
mais recentemente, com os “desiludidos” do PS, do PC e do Bloco.
Escusado será dizer que a repetição dessa história não
trouxe qualquer modéstia ou senso aos putativos salvadores do “socialismo”.
Durante o PREC eram, pelo menos, gente que tinha combatido a Ditadura e que
passara pela cadeia e pelo exílio. Se muitas vezes se achavam os verdadeiros
depositários do marxismo-leninismo na sua virginal pureza, pagavam com a pele
essa fantasia, coisa que não fizeram ou se arriscaram a fazer os que apareceram
depois, mestres da intriga e da publicidade, que manobravam no conforto de uma
democracia pacífica e de empregos seguros.
Nunca nenhum deles percebeu que um partido exigia
dinheiro: dinheiro para sedes, para funcionários, para telefones, para carros,
para propaganda. Pertenciam na maior parte à “inteligência” urbana (à
universidade, ao funcionalismo, às profissões “liberais”), não sabiam onde
ficava Figueiró dos Vinhos e traziam como toda a bagagem meia dúzia de
“ideias”, que não se distinguiam nem pela originalidade, nem pela pertinência.
Ao fim de pouco tempo, de umas conversas na “net” e de umas fotografias nos
jornais (raramente conseguiam chegar à televisão), arranjavam maneira, quando arranjavam,
de se apresentar a eleições que perdiam miseravelmente ou de que extraíam, como
o Bloco, uns lugares na Assembleia da República, para vociferar às “massas”.
O partido que Rui Tavares resolveu fundar para
salvação da Esquerda e da Pátria não é muito diferente do modelo tradicional.
Pelo que se vai lendo aqui e ali, pretende unificar ou expandir a esquerda à
custa de uns tantos “descontentes” do Bloco, do PS e até do PC. Aspira a uma
posição “no meio” dessas tropas, sem disciplina e sem programa, e pela panaceia
da discussão livre (daí o nome de Partido Livre) extrair a unidade e a
autoridade que possa correr com a direita e tomar solidamente conta do Estado.
A velha confusão entre um seminário sobre socialismo e um aparelho rígido,
capaz de usar o poder com eficácia e dirigir a sociedade, está na raiz deste
inominável disparate. O “Partido Livre” não irá longe. Mas presumo que vai
divertir os suspeitos do costume e o seu glorioso guia” (texto de Vasco Pulido
Valente, Público, com a devida vénia)