Segundo o Expresso, num texto do jornalista Daniel do Rosário, "obtido o acordo de princípio, Portugal tenta garantir extensão das maturidades em pelo menos cinco anos, enquanto a Alemanha alerta para riscos de demasiada ambição. Os ministros das finanças da União Europeia deram hoje luz verde à possibilidade de Portugal e a Irlanda terem mais tempo para pagar os empréstimos europeus dos seus programas de ajustamento, mas a parte verdadeiramente complicada deste processo começa agora: definir a extensão dessas maturidades de uma forma útil para os interessados e aceitável para os credores. Portugal quer pelo menos cinco anos mas a Alemanha avisa que modificações demasiado ambiciosas terão que passar pelo respetivo Parlamento, cenário a evitar em ano de eleições. Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão, deixou um aviso no final da reunião em Bruxelas: "Se um programa for ligeiramente modificado, a decisão passará pela comissão dos orçamentos do Parlamento alemão, mas se for uma mudança importante o Bundestag terá que votar antes". Com eleições marcadas para setembro, os limites políticos impostos por Berlim são claros, embora ainda não seja clara a sua tradução prática e o que será uma alteração "importante". Schäuble declarou ainda partilhar o "sentimento geral positivo" de facilitar uma extensão das maturidades que permita diluir os picos de financiamento enfrentados pelos dois países, pois os respetivos programas de ajustamento "estão a funcionar".
Portugal e Irlanda do mesmo lado
Vítor Gaspar revelou que Portugal e a Irlanda partiram para esta negociação com uma posição comum que "apontou para a possibilidade de uma extensão de maturidades de 15 anos", ressalvando logo de seguida que, "naturalmente", esta era "uma posição negocial", cuja aprovação "não é um resultado concebível". O ministro das Finanças acredita que os objetivos portugueses podem ser alcançados "com soluções mais modestas". As possibilidades entretanto colocadas em cima da mesa pela Comissão Europeia avançam com vários cenários, que vão desde uma extensão "neutra" das maturidades (prolongar alguns prazos, mas reduzir outros para não alterar a respetiva média), a um prolongamento de dois anos e meio, de cinco anos, ou superior. De acordo com fontes que acompanham o processo negocial, Portugal está a tentar arrancar uma extensão de maturidades de pelo menos cinco anos. Uma pretensão que fontes europeias consideram ser "muito difícil" à luz das condicionantes germânicas.
Duplo objetivo português
Para Portugal esta extensão das maturidades persegue um duplo objetivo: "alisar" os picos de financiamento previstos, nomeadamente para 2021, e criar uma folga no vencimento de empréstimos entre 2023 e 2025 para facilitar as emissões de dívida a 10 anos já a partir deste ano. Estas são indispensáveis para consolidar o processo de regresso do país aos mercados e garantir o acesso ao programa de apoio do Banco Central Europeu (BCE) aos países neste processo, para a compra da sua dívida. Do ponto de vista português, o mandato dado pelos ministros das Finanças dos 27 à troika, para apresentar propostas com "a melhor opção possível para cada um dos países em relação aos empréstimos do FEEF e do MEEF", não impõe "nenhuma restrição" aos empréstimos que poderão ser tidos em conta. Ou seja, Vítor Gaspar espera que a troika faça propostas que abranjam todos os empréstimos europeus do programa de ajustamento português e não apenas "os iniciais", tal como Olli Rehn referiu na segunda-feira à noite, no final da reunião do Eurogrupo. A interpretação ambiciosa de Gaspar parece igualmente colidir com a linguagem do comunicado do ECOFIN, que fala apenas num "ajustamento das maturidades". Para o ministro das Finanças luso não haverá novas condições associadas a este bónus, mas o apoio agora dado a Portugal e à Irlanda "foi condicionado pelo cumprimento dos respetivos programas". O mandato dado pelos ministros europeus à troika não estabelece nenhum prazo para a conclusão do processo, mas Olli Rehn garantiu que a Comissão Europeia "vai trabalhar arduamente para facilitar uma decisão em abril". Para Vítor Gaspar, "isso seria um excelente resultado". Este processo abrange os empréstimos recebidos por Portugal e Irlanda do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), que cobrem dois terços do financiamento dos respetivos programas de ajustamento. De fora desta decisão fica a parte do financiamento assegurada pelo FMI (correspondente a um terço dos 78 mil milhões negociados por Portugal)".