segunda-feira, maio 30, 2011

Cinco das oito principais empresas de transporte devem mais de 30 mil milhões

Escrevem as jornalistas do Publico, Inês Sequeira e Raquel Almeida Correia, que “o prejuízo de cinco das oito principais empresas de transporte e de infra-estruturas que pesam nas contas do Estado quase duplicou em 2010. No total, o prejuízo cresceu 81,2 por cento face ao ano anterior, para um resultado líquido negativo de 474,8 milhões de euros. A melhoria das receitas, de quase 11 por cento, não chegou para impedir a derrapagem, nomeadamente dos capitais próprios e do passivo. Em causa estão a CP, Refer, STCP, TAP e Carris, cujos resultados do ano passado são já conhecidos. Quanto ao Metro de Lisboa, Metro do Porto e grupo Transtejo, as contas só deverão ser publicadas no segundo semestre. Neste momento, os prejuízos das cinco empresas que divulgaram os seus relatórios já equivalem a 84,5 por cento do total dos prejuízos registados pelas oito companhias em 2009. A situação da companhia aérea foi a que mais se agravou em termos de ritmo de crescimento: o prejuízo disparou de 3,5 para 52,9 milhões de euros, devido aos impactos de duas operações deficitárias: a empresa de handling Groundforce e o negócio de manutenção de aviões no Brasil. De acordo com o relatório e contas da Parpública, estas duas actividades foram responsáveis, respectivamente, por perdas de 43,5 e 71,8 milhões em 2010, o que anulou os bons resultados da área de aviação (lucros de 62,3 milhões de euros). Já a CP representa agora mais de 41 por cento dos prejuízos totais destas empresas: o resultado líquido negativo da operadora ferroviária nacional agravou-se em 170 por cento, para mais de 195 milhões de euros. A transportadora, que só conseguiu gerar resultados operacionais positivos nos serviços de longo curso, foi penalizada por uma redução de 8,1 por cento nas receitas, apesar de ter cortado 7,6 por cento nos custos operacionais. Igualmente preocupante é a situação do passivo global, que cresceu quase 40 por cento, para um total de 11.241 milhões de euros (aqui engloba-se o Metro do Porto, uma vez que este indicador já foi tornado público). Neste montante, é a CP que novamente tem mais peso no retrato negativo do sector: as obrigações e dívidas para com terceiros ascendem a 3666,4 milhões de euros, o que leva a administração a lançar um apelo urgente. "Já não há mais tempo de espera para que se defina e se leve à prática um desígnio de Estado que permita o urgente saneamento económico e financeiro da empresa", afirma no relatório e contas. Mas o que mais salta à vista é o caso da Refer: a empresa sofreu um agravamento de 42 por cento no passivo, fruto do recurso ao endividamento de curto prazo. A operadora ferroviária atribui, aliás, alguma responsabilidade ao Estado. Os atrasos em aprovações de que necessitava das Finanças para obter empréstimos e o agravamento da situação da dívida pública soberana obrigaram a gestora ferroviária a "recorrer a linhas de curto prazo para mitigar o risco de refinanciamento da empresa". O endividamento total da Refer atingiu os 6026 milhões de euros no final do ano passado.
TAP "insustentável"
O retrato da situação destas empresas também não melhora quando se analisam os capitais próprios. Bem pelo contrário. A situação da TAP, por exemplo, foi das que mais se degradaram. O agravamento em 29 por cento dos capitais próprios da companhia aérea "define uma trajectória de evolução que conduz à insustentabilidade da empresa, dadas as adversas condicionantes que impedem a sua recapitalização no actual quadro accionista", alerta a Parpública, holding pública que é dona de 100 por cento da transportadora, justificando desta forma "a importância do anunciado processo de reprivatização". É verdade que a situação de falência técnica não é nova, mas o desequilíbrio financeiro piorou ainda mais no ano passado. À falta da injecção dos capitais que seriam necessários da parte do Estado, estas empresas têm sido obrigadas a recorrer cada vez mais ao crédito de curto prazo, que tem de ser liquidado no prazo máximo de um ano. Foi o que sucedeu, por exemplo, na STCP: a transportadora rodoviária de passageiros do Porto salienta que o passivo corrente (de curto prazo) subiu "exponencialmente" (224 por cento), o que justifica "a necessidade de reestruturar o passivo", alerta a administração. Os maus resultados das transportadoras públicas e os limites ao endividamento, impostos pelas Finanças ao sector empresarial do Estado (SEE), tiveram reflexos negativos na capacidade para investir, traduzindo-se num abrandamento de 2,7 por cento no capital despendido na operação. No total, as quatro empresas públicas que já reportaram dados de investimento relativos a 2010 gastaram 455,7 milhões de euros. Valor que se compara com 468,2 milhões do ano anterior. A operadora que mais desinvestiu foi a CP, passando de 83,2 para 23,8 milhões de euros, no exercício do ano passado. Esta queda de 71,4 por cento foi transversal a todas as áreas passíveis de melhorias: das infra-estruturas ao material circulante. Já a STCP teve um comportamento oposto, aumentando em 714 por cento o investimento em 2010. Tratou-se, porém, de um montante pouco expressivo no global, ficando-se por 12,3 milhões de euros.
Custos em alta
Apesar de o SEE estar obrigado a cortar 15 por cento nas despesas operacionais em 2011, a tendência geral foi inversa no ano passado: os custos destas cinco empresas subiram 9,4 por cento, alcançando 2812,4 milhões de euros. Houve, todavia, casos de redução dos gastos, como na CP, que reduziu 7,6 por cento nesta factura, para 384,8 milhões de euros, à custa de um emagrecimento da oferta. Em contrapartida, outras operadoras aumentaram significativamente os custos. A TAP, por exemplo, sofreu um aumento de 16,1 por cento, para 1928 milhões de euros. A transportadora aérea foi penalizada pelo aumento do preço do combustível. Esta rubrica sofreu um agravamento significativo nas contas da empresa, passando de 358,6 para 522,9 milhões de euros, entre 2009 e 2010. Ao contrário do que sucedia no passado, a situação destas empresas levou a um agravamento do défice, fruto de alterações nas regras de contabilização da dívida pública. Refer, Metro de Lisboa e do Porto foram incluídas nas contas porque as receitas próprias não chegavam a 50 por cento dos custos”.

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