sexta-feira, abril 02, 2021

Sondagem: Portugueses temem manipulação de resultados eleitorais

Quase dois terços dos portugueses estão preocupados com a possibilidade do resultado final de umas eleições vir a ser manipulado. Apesar disso, mais de metade subscreve a ideia de que promover o voto remoto (eletrónico, online ou correio) levará a uma maior participação eleitoral, de acordo com o Eurobarómetro dedicado ao tema "Democracia e Eleições".

A sondagem encomendada pela Comissão Europeia realizou-se em todos os 27 países da União, entre outubro e novembro do ano passado. Mas são visíveis algumas disparidades nas respostas dos cidadãos de diferentes nacionalidade. Quando questionados sobre vários tipos de interferência nos processos eleitorais, os portugueses estão sobretudo preocupados com a manipulação do resultado final (61%) - uma subida de 18 pontos percentuais face ao inquérito realizado dois anos antes (2018). Muito acima dos receios manifestados por suecos (25%), mas ainda longe dos temores dos lituanos (80%).

Por ordem decrescente de preocupação, surge depois o receio de manipulação eleitoral através de ciberataques (58%); com as pressões sobre os cidadãos para votarem de uma determinada forma (56%); com a possibilidade de atores externos ou grupos criminosos influenciarem as eleições (55%); e, finalmente, com o voto de pessoas que não têm esse direito (54%).

Comparando os resultados a nível europeu, o estudo conclui que os inquiridos de países como a Roménia, Lituânia, República Checa e Hungria são os mais preocupados com os vários tipos de interferência no processo eleitoral, enquanto austríacos, alemães, dinamarqueses e suecos estão entre os mais despreocupados.

DESCONFIANÇA COM VOTO REMOTO

Quando confrontados com a possibilidade de introduzir mecanismos de voto remoto, uma maioria de portugueses (54%) até acreditam que isso pode conduzir a uma redução da abstenção. Mas nem por isso diminuem a sua desconfiança quanto a tudo o que pode correr mal num processo eleitoral desse género. No que diz respeito a modelos de voto eletrónico, online, ou por correio, estão mesmo entre os mais desconfiados da União Europeia.

A preocupação com as dificuldades que isso causaria ao voto de pessoas com deficiência ou à população mais envelhecida está no topo das preocupações dos portugueses (82%), que são mesmo os mais preocupados com esta questão entre os cidadãos dos 27. Mas é também muito elevado o receio de que esse tipo de métodos potenciem a fraude e os ciberataques (70%) e até a segurança do boletim de voto em concreto (70%).

IMPOR REGRAS ÀS REDES SOCIAIS

Num tempo em que as campanhas eleitorais têm uma componente cada vez mais digital (o que a pandemia de covid-19 veio aliás exacerbar), o Eurobarómetro também quis obter algumas respostas sobre o uso da Internet e das redes sociais em tempo de eleições.

Uma das questões em que gera uma quase unanimidade entre os cidadãos europeus tem a ver com a necessidade de impor, seja às redes sociais, seja às plataformas e atores da Internet, as mesmas regras que os meios de comunicação tradicionais têm de cumprir nos períodos que antecedem o dia das eleições, ou seja, o período de reflexão e de silêncio, o equilíbrio no tempo e no espaço dedicado a cada candidatura, e controlo estrito das campanhas de angariação de fundos - é o que defendem 80% dos europeus e 73% dos portugueses.

Relativamente aos conteúdos com que foram confrontados online, 39% dos portugueses (51% dos europeus) consideram que já estiveram expostos a desinformação; 27% a conteúdo divisivo, criado especificamente para criar fraturas sociais (45% dos europeus); 24% a conteúdo que deixa dúvidas sobre se é ou não publicidade política (37% dos europeus); e 15% já testemunhou intimidação a políticos através de ameaças ou mensagens de ódio (24% dos europeus) (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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