Não sabemos se
existirá para o Partido Socialista um tempo antes (a.S) e outro depois da
pronúncia de José Sócrates (d.S.), mas sabemos que na primeira grande sondagem
do ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC, cujo trabalho de campo decorreu entre os
dias 5 e 13 de abril e por isso apanha a sexta-feira em que o juiz Ivo Rosa
falou de um ex-primeiro-ministro prescrito mas “corrupto”, o PS cai dois pontos
percentuais e o PSD sobe quatro quando a pergunta é em quem votariam em
legislativas.
Em comparação com
o estudo anterior, de novembro de 2020, o Partido Socialista desceu de 39% para
37% e o Partido Social Democrata sobe de 25% para 29%. Mas talvez o efeito
Sócrates, a existir, não esteja no pleno, já que a principal novidade desta
sondagem é que, contas feitas, o ponteiro mal mexe e fica quase tudo na mesma.
Os dois maiores partidos têm agora intenções de voto semelhantes aos resultados eleitorais que alcançaram nas legislativas de 2019. E embora haja outras alterações expressivas – se mantivermos a comparação com as legislativas, o Chega sobe de 1,3% para 6% e o CDS cai de 4,2% para 1% – a verdade é que a esquerda continua largamente maioritária (acima dos 50%) face a uma direita que, toda junta, não chega aos 40%.
O estudo atribuiu
intenções de voto aos 15% de indecisos que dizem não saber em quem votariam,
com base numa comparação entre algumas das suas características e as daqueles
que declararam uma intenção de voto no inquérito. E em terceiro lugar no
ranking aparece o BE (com 9%), seguido da CDU (com 7%) e do Chega (com 6%),
partidos com diferenças mínimas entre si. Seguindo-se, também sem diferenças
relevantes, o PAN (2%), e o CDS-PP, o IL e o Aliança (todos com 1%). A soma do
PS com o PCP e o PAN (equação que se tem revelado a mais estável no apoio ao
Executivo) continua a garantir uma curta maioria no Parlamento. Já os 29% do
PSD, nem com a soma de todos os partidos do centro direita consegue chegar lá.
Face às
legislativas, apesar de perder um ponto face à última sondagem, o partido de
André Ventura é ainda o que regista a subida mais significativa entre as novas
forças políticas, em sintonia com os 11% que deram ao seu líder o 3º lugar nas
últimas presidenciais. Ao contrário do Iniciativa Liberal, que não mostra
rentabilizar os 3,2% alcançados por Tiago Mayan nas eleições de janeiro
passado, ficando aliás nesta sondagem três décimas abaixo do que alcançou nas
legislativas de 2019. O PAN também cai, de 3,3% para 2%. Aliás, dos três
partidos mais colaborantes com António Costa (e o PAN foi um deles), só o PCP
sobe ligeiramente (de 6,3% para 7%) face a 2019. Talvez o facto de se ter
mantido mais estável e previsível ajude a fidelizar. Mas só nas autárquicas de
outubro se tirará as prova dos nove quanto à capacidade dos comunistas para
recuperarem do rombo que a geringonça lhes provocou na últimas eleições locais.
O BE, que já caíra
dos 9% que teve em 2019 para 8% em posteriores sondagens, regressa à sua última
fasquia eleitoral após ter descolado do Executivo e assumido uma postura mais
de confronto com António Costa. Ao contrário dos comunistas, os bloquistas
parecem ganhar fôlego quando se distanciam. Mas, em boa verdade, as oscilações
são mínimas e (à exceção do Chega) confirmam uma impressionante estabilidade do
mapa eleitoral.
COSTA E MARCELO
FOLGADOS
O
primeiro-ministro consegue, um ano após uma pandemia que pôs o SNS à prova e
cuja gestão passou por reconhecidos erros, atrasos e hesitações, aumentar a
vantagem sobre as restantes lideranças à esquerda e continuar, logo a seguir de
Marcelo Rebelo de Sousa, como o político melhor cotado.
O Presidente da
República tem a nota máxima (7,5 na escala de 0 a 10) e mantém-se com António
Costa como a dupla em que o país mais confia. Costa subiu 0,2 pontos para 6,2,
seguido de Catarina Martins com 4,3 e Jerónimo de Sousa com 3,8, enquanto à
direita Rui Rio lidera com 4,9 (mais 0,6 pontos face à anterior sondagem) e
André Ventura recebe uma avaliação média globalmente negativa (2,4), embora com
elevada taxa de notoriedade (86%).
ATENÇÃO À ECONOMIA
O sinal de alerta
vem da crise económica, cuja evolução e impacto num contexto de pandemia ainda
é cedo para perceber onde chegarão. Os eleitores estão sensíveis e denunciam o
agravamento da situação, com 82% a considerar que no último ano a economia
portuguesa “piorou” – para 57% apenas piorou, mas para 25% piorou muito, sendo
praticamente nula a percentagem dos que detetaram uma melhoria. E embora em
comparação com as sondagens realizadas após o início da pandemia, a percentagem
dos que fazem esta avaliação negativa permaneça bastante estável (em setembro,
na primeira sondagem pós-pandemia em Portugal, 79% já diziam que a situação económica
tinha piorado), a verdade é que, desde novembro, diminuiu de 6% para 2% os que
consideram que a economia melhorou.
Apesar disso (e do
caso Sócrates), o Governo continua a ter nota positiva e a avaliação que os
eleitores fazem do desempenho geral do Executivo permanece estável comparada
com a da última sondagem. 53% considera que a equipa liderada por António Costa
está a fazer um “bom trabalho”, contra 31% que lhe dão um “mau”. Nas opções
extremas, há mais inquiridos a acharem que Governo é “muito mau” (7%) do que os
que avaliam a sua ação como “muito boa” (apenas 2%). Mas, genericamente, são
mais os que fazem uma avaliação globalmente positiva do do Executivo do que o
contrário. Mais do mesmo?
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo
trabalho de campo decorreu entre os dias 5 e 13 de abril de 2021. Foi
coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTEIUL),
tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da
sondagem é constituído por indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou
superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal
Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas,
com base numa matriz que cruza as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução
(3 grupos), região (5 regiões NUTII) e habitat/dimensão dos agregados
populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat,
foram selecionados aleatoriamente pontos de amostragem onde foram realizadas as
entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi
recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos,
em sistema CAPI, e a intenção de voto recolhida recorrendo a simulação de voto
em urna. Foram selecionados 80 pontos de amostragem, contactados 2701 lares
elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 802
entrevistas válidas (taxa de resposta de 30%). O trabalho de campo foi
realizado por 34 entrevistadores, que receberam formação adequada às
especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por
pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença
a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses residentes
no Continente com 18 ou mais anos, a partir dos dados da vaga mais recente do
European Social Survey (Ronda 9). A margem de erro máxima associada a uma
amostra aleatória simples de 802 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de
confiança de 95%.As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma
ser diferente de 100% (Expresso, texto da jornalista ÂNGELA SILVA)
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