O ministro das
Finanças consegue uma proeza que nenhum dos seus antecessores alcançou nos
últimos anos. Não só é popular, como é desejado. Pode ir para Bruxelas, mas
querem-no por cá. Mário Centeno pode fazer as cativações que quiser, pode
desejar défice zero - algo inconfessável há poucos anos para um governante
socialista - pode pedir bilhetes para jogos do Benfica, pode tentar travar os
aumentos na função pública, que tem os portugueses do seu lado. No estudo da
Eurosondagem para o Expresso e para a SIC, os inquiridos responderam
massivamente de forma positiva à questão: “Gostava de ter Mário Centeno como
ministro das Finanças do próximo Governo?” O “sim” registou 74,5% das
respostas. Os inquiridos não são “todos Centeno”, como chegou a dizer o
ministro da Saúde sobre o Governo, mas quase.
A pergunta
justifica-se uma vez que são insistentes os rumores de que Centeno poderá sair
do elenco governativo num eventual Executivo socialista que possa sair das
próximas eleições legislativas e trocar Portugal por Bruxelas e pela Comissão
Europeia. Mas são apenas 10% os inquiridos que respondem taxativamente que
“não”. Só 15% têm dúvidas, não sabem ou não respondem. Isto quer dizer que o
ministro das Finanças não só é bem tolerado, como é desejado e tem uma taxa de
rejeição muito baixa para um política naquelas funções.
Pelo menos desde há
16 anos,quando Manuela Ferreira Leite foi ministra das Finanças de Durão
Barroso - e teve de enfrentar aquilo que o líder do PSD descreveu como um país
“de tanga” - que os titulares daquela pasta são a cara a quem os portugueses
atribuem a responsabilidade pelos seus sacrifícios. Entretanto, passaram pelo
Terreiro do Paço nomes como Bagão Félix, Luís Campos e Cunha, Teixeira dos
Santos, Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque. Não é um lugar que torne os
políticos populares ou desejados.
Centeno passou por
vários momentos difíceis, mas sobretudo ficou marcado pela crise da nomeação de
António Domingues para presidente da Caixa Geral de Depósitos, o que lhe valeu
um puxão de orelhas público do Presidente da República.
O presidente do
Eurogrupo e responsável pelo “défice mais baixo da democracia” - sem contar com
a capitalização da Caixa - é uma exceção. António Costa terá de ponderar se vai
manter o ministro caso volte a formar Governo. Centeno tem dado sinais de
esticar a corda, sobretudo em relação aos parceiros da “geringonça”, com
intervenções e artigos como o que escreveu recentemente no Público a defender a
continuação da redução do défice para precaver choques futuros.
Uma possibilidade que
está em aberto é a ida definitiva de Mário Centeno para Bruxelas, como noticiou
o Expresso em abril, para comissário europeu dos Assuntos Económicos. Um dos
cenário possíveis seria o presidente do Eurogrupo acumular aquela pasta, e ao
mesmo tempo ser vice-presidente da Comissão Europeia. Mário Centeno chegou a
reagir à manchete do Expresso, sem negar essa hipótese: “É uma matéria que não
está sequer no horizonte político, ainda”, afirmou. “É bastante extemporânea,
aliás, a forma como foi colocada”. Mesmo que Centeno se vá embora, pode ter uma
certeza. Pelos menos por agora, os portugueses preferiam tê-lo por cá. São
(quase) todos Centeno.
FICHA TÉCNICA
Estudo de opinião
efetuado pela Eurosondagem S.A. para o Expresso e SIC, de 3 a 9 de maio de
2018. Entrevistas telefónicas, realizadas por entrevistadores selecionados e
supervisionados. O universo é a população com 18 anos ou mais, residente em
Portugal Continental e habitando lares com telefone da rede fixa. A amostra foi
estratificada por região: Norte (20,6%) — A.M. do Porto (14,7%); Centro (28,3%
— A.M. de Lisboa (26,7%) e Sul (9,7%), num total de 1008 entrevistas validadas.
Foram efetuadas 1170 tentativas de entrevistas e 162 (13,8%) não aceitaram
colaborar neste estudo. A escolha do lar foi aleatória nas listas telefónicas e
o entrevistado, em cada agregado familiar, o elemento que fez anos há menos
tempo, e desta forma resultou, em termos de sexo: feminino — 51,4%; masculino —
48,6% e, no que concerne à faixa etária, dos 18 aos 30 anos — 16,9%; dos 31 aos
59 — 50,9%; com 60 anos ou mais — 32,2%. O erro máximo da amostra é de 3,09%,
para um grau de probabilidade de 95%. Um exemplar deste estudo de opinião está
depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (Expresso)
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