A dois anos das eleições regionais de 2019 (Outubro)
as autárquicas de 1 de Outubro, no caso da Madeira, significam politicamente
muito mais do que as simples disputas partidárias à dimensão da freguesia ou do
município.
Todos insistem na recusa em confundir atos
eleitorais alegadamente diferentes, mas todos sabem também que só por
hipocrisia, a meio mandato da atual legislatura regional, se pode dissociar
dois tempos eleitorais diferentes é certo, separados dois anos entre si, mas
que acabam por ter alguns protagonistas comuns a esses dois tempos eleitorais
distintos.
Em função dos resultados de 1 de Outubro, muita
coisa pode acontecer como também, o reverso da medalha, muita coisa pode deixar
de concretizar-se traindo algumas expetativas.
Por um lado, a oposição regional, na sua
globalidade, e particularmente o PS -que deseja mais do que recuperar o lugar
de maior partido da oposição – tentam associar um eventual mau resultado
eleitoral do PSD a uma mudança política nas regionais de 2019.
Por outro lado, temos um PSD, cada vez mais
pressionado e a precisar de um desfecho eleitoral autárquico que faça esquecer
o desastre de 2013 - o PSD de Alberto João Jardim perdeu então 7 das 11 câmaras
municipais da Região - e mantenha as bases social-democratas mobilizadas. O que
é facto é que os social-democratas apontam a presidência da AMTAM (associação dos
municípios) como meta mas não falam em reconquistar as autárquicas perdidas.
Nem isso seria possível. Em São Vicente, pela
primeira vez na história eleitoral da Madeira, o PSD não apresenta candidatura
própria, optando por apoiar naquele concelho do norte da ilha a candidatura de
cidadãos que em 2013 humilhou eleitoralmente o PSD então liderado por João
Jardim.
Hoje abordarei o caso específico do Funchal que
dificilmente deixará de ser palco, este ano, das eleições autárquicas mais
disputadas desde 1976.
Farei depois, um retrato de outras novidades
eleitorais numa Região que nunca se viu confrontada com tantas candidaturas
fora do espetro partidário como este ano acontece.
Apesar de não serem candidatos autárquicos, os
líderes regionais do PSD e do PS, estarão bem presentes, por via de outras
personagens, neste debate eleitoral de Outubro.
Não é difícil perceber o que está realmente em cima
da mesa.
No caso do PS regional, Carlos Pereira, apesar de
apoiar a recandidatura de Paulo Cafofo no Funchal, sabe que uma repetição do
sucesso eleitoral de 2013, pode catapultar o edil funchalense para as regionais
de 2019, provavelmente obrigando a uma disputa pela liderança dos socialistas
antes desse tempo. Um cenário que não agrada ao líder Carlos Pereira que falhou
a sua intenção de antecipar o congresso regional e de resolver até 2019, antes
das autárquicas, a questão da liderança partidária. O assunto continua, deste
modo, em aberto numa altura em que é sabido que a coligação que concorre no
Funchal sob a liderança de Cafofo é um projeto político liderado pelo próprio,
claramente à margem do PS, reunindo apoios que provavelmente não se
materializariam caso os socialistas partidarizassem a coligação que reúne cinco
partidos (PS, Bloco, JPP, PDR e NOS-cidadãos)
Já no caso do PSD a situação embora algo diferente,
não deixa de ser igualmente desafiante e complexa. Rubina Leal, que foi durante
anos uma espécie de braço direito (juntamente com Pedro Calado) de Albuquerque
na Câmara do Funchal - apoiando-o mesmo contra João Jardim - integra o seu
executivo desde 2015.
Como politicamente é difícil dissociar Miguel
Albuquerque de Rubina Leal, qualquer resultado menos positivo do PSD nestas
eleições pode constituir um primeiro pretexto para que a liderança do
presidente do governo seja questionada, mesmo que não se perceba no interior do
partido maioritário qualquer contestação organizada nem a existência de grupos
organizados de oposição à atual liderança.
Dado o que tem acontecido desde 2013 na edilidade da
capital, com Paulo Cafofo e uma estrutura de propaganda altamente mediatizada –
e que chega a fazer inveja ao que acontecia no chamado "jardinismo" –
tudo leva a crer que este será um combate eleitoral agreste, excessivamente
radicalizado, com tudo em cima da mesa e provavelmente com algumas linhas
vermelhas a serem deliberadamente pisadas por todos.
Recentemente Cafofo conseguiu engendrar um
"caso" em torno de um estacionamento no Funchal, que funciona há
vários anos, provavelmente pelo simples facto de que um dos candidatos à CMF,
Gil Canha (antigo vereador de Cafofo) – e que tem acusado o edil funchalense de
corrupção – é co-proprietário por razões familiares, do referido espaço! Um
tema que até conseguiu primeira página num dos jornais diários locais!
Reconhecidamente, o Funchal protagoniza a 1 de
Outubro muito mais do que uma circunscrita disputa eleitoral autárquica, não
sendo de excluir que os resultados, sejam eles quais forem, tenham impacto
positivo ou negativo nas expectativas partidárias e nas ambições políticas de
alguns protagonistas da política regional (LFM - Económico Madeira)
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