domingo, julho 16, 2017

Opinião: Mais do que uma simples disputa autárquica no Funchal

A dois anos das eleições regionais de 2019 (Outubro) as autárquicas de 1 de Outubro, no caso da Madeira, significam politicamente muito mais do que as simples disputas partidárias à dimensão da freguesia ou do município.
Todos insistem na recusa em confundir atos eleitorais alegadamente diferentes, mas todos sabem também que só por hipocrisia, a meio mandato da atual legislatura regional, se pode dissociar dois tempos eleitorais diferentes é certo, separados dois anos entre si, mas que acabam por ter alguns protagonistas comuns a esses dois tempos eleitorais distintos.
Em função dos resultados de 1 de Outubro, muita coisa pode acontecer como também, o reverso da medalha, muita coisa pode deixar de concretizar-se traindo algumas expetativas.

Por um lado, a oposição regional, na sua globalidade, e particularmente o PS -que deseja mais do que recuperar o lugar de maior partido da oposição – tentam associar um eventual mau resultado eleitoral do PSD a uma mudança política nas regionais de 2019.
Por outro lado, temos um PSD, cada vez mais pressionado e a precisar de um desfecho eleitoral autárquico que faça esquecer o desastre de 2013 - o PSD de Alberto João Jardim perdeu então 7 das 11 câmaras municipais da Região - e mantenha as bases social-democratas mobilizadas. O que é facto é que os social-democratas apontam a presidência da AMTAM (associação dos municípios) como meta mas não falam em reconquistar as autárquicas perdidas.
Nem isso seria possível. Em São Vicente, pela primeira vez na história eleitoral da Madeira, o PSD não apresenta candidatura própria, optando por apoiar naquele concelho do norte da ilha a candidatura de cidadãos que em 2013 humilhou eleitoralmente o PSD então liderado por João Jardim.
Hoje abordarei o caso específico do Funchal que dificilmente deixará de ser palco, este ano, das eleições autárquicas mais disputadas desde 1976.
Farei depois, um retrato de outras novidades eleitorais numa Região que nunca se viu confrontada com tantas candidaturas fora do espetro partidário como este ano acontece.
Apesar de não serem candidatos autárquicos, os líderes regionais do PSD e do PS, estarão bem presentes, por via de outras personagens, neste debate eleitoral de Outubro.
Não é difícil perceber o que está realmente em cima da mesa.
No caso do PS regional, Carlos Pereira, apesar de apoiar a recandidatura de Paulo Cafofo no Funchal, sabe que uma repetição do sucesso eleitoral de 2013, pode catapultar o edil funchalense para as regionais de 2019, provavelmente obrigando a uma disputa pela liderança dos socialistas antes desse tempo. Um cenário que não agrada ao líder Carlos Pereira que falhou a sua intenção de antecipar o congresso regional e de resolver até 2019, antes das autárquicas, a questão da liderança partidária. O assunto continua, deste modo, em aberto numa altura em que é sabido que a coligação que concorre no Funchal sob a liderança de Cafofo é um projeto político liderado pelo próprio, claramente à margem do PS, reunindo apoios que provavelmente não se materializariam caso os socialistas partidarizassem a coligação que reúne cinco partidos (PS, Bloco, JPP, PDR e NOS-cidadãos)
Já no caso do PSD a situação embora algo diferente, não deixa de ser igualmente desafiante e complexa. Rubina Leal, que foi durante anos uma espécie de braço direito (juntamente com Pedro Calado) de Albuquerque na Câmara do Funchal - apoiando-o mesmo contra João Jardim - integra o seu executivo desde 2015.
Como politicamente é difícil dissociar Miguel Albuquerque de Rubina Leal, qualquer resultado menos positivo do PSD nestas eleições pode constituir um primeiro pretexto para que a liderança do presidente do governo seja questionada, mesmo que não se perceba no interior do partido maioritário qualquer contestação organizada nem a existência de grupos organizados de oposição à atual liderança.
Dado o que tem acontecido desde 2013 na edilidade da capital, com Paulo Cafofo e uma estrutura de propaganda altamente mediatizada – e que chega a fazer inveja ao que acontecia no chamado "jardinismo" – tudo leva a crer que este será um combate eleitoral agreste, excessivamente radicalizado, com tudo em cima da mesa e provavelmente com algumas linhas vermelhas a serem deliberadamente pisadas por todos.
Recentemente Cafofo conseguiu engendrar um "caso" em torno de um estacionamento no Funchal, que funciona há vários anos, provavelmente pelo simples facto de que um dos candidatos à CMF, Gil Canha (antigo vereador de Cafofo) – e que tem acusado o edil funchalense de corrupção – é co-proprietário por razões familiares, do referido espaço! Um tema que até conseguiu primeira página num dos jornais diários locais!

Reconhecidamente, o Funchal protagoniza a 1 de Outubro muito mais do que uma circunscrita disputa eleitoral autárquica, não sendo de excluir que os resultados, sejam eles quais forem, tenham impacto positivo ou negativo nas expectativas partidárias e nas ambições políticas de alguns protagonistas da política regional (LFM - Económico Madeira)

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