terça-feira, julho 15, 2014

Hipocrisia social

Dizia Ambrose Bierce que "ladrão era um nome vulgar para um indivíduo com sucesso em obter a propriedade dos outros". Mais. O Padre António Vieira ia mais longe e referia que "os ladrões são casta de gente em que se emprega melhor o castigo do que se pode esperar a emenda".
Farta-me esta dualidade de critérios e esta hipocrisia que tresanda quando se trata de fazer a abordagem de assuntos mais complexos e nesta crítica não excluo algum do jornalismo económico (o que é isso concretamente?) que parece pactuar, por razões e interesses passíveis de gerar especulação ao longo dos anos, com o mundo do capital e dos negócios numa relação promíscua lamentável.
A nossa sociedade tem regras estranhas, sempre teve, não é de hoje, mas agravaram-se nos últimos anos: Se for um teso qualquer que fica a dever ao banco, ou porque lhe cortaram salário, reduzindo rendimentos, ou porque ficou despedido, só não mandam carros de combates atrás do desgraçado porque era demais. E nunca faltará um careca qualquer, por acaso nomeado presidente de um  banco, a apontar o dedo acusador ao dito cujo por alegadamente "viver acima das suas possibilidades". Mas quando a ladroagem se veste com roupas de marca, os corruptos que até fumam charutos cubanos e usam relógios Rolex; quando estes gatunos de colarinho branco que por aí andam, movendo-se em Jaguares ou Porsches comprados com dinheiro roubado à "populaça" ou aos tais pobres que alguns se lembram quando vão para as casas de férias na elitista Comporta, a protagonizar casos de roubalheira descarada, de manipulação, de uso indevido de dinheiros que não lhes pertencem, casos de corrupção que num país sério davam imediata prisão, a reação articulada e previamente pensada é diferente: cuidado porque não é bem assim, não podemos misturar as coisas, o grupo A é uma coisa o banco B é outra, os homens até são boas pessoas, famílias de nome e outros atributos sociais, tiveram um deslize, etc. O tanas, uma merda. É por causa disto que este país anda no estrume onde anda.
Não se esqueçam Mark Twain que escreveu que "um banqueiro é um homem que te empresta o chapéu de chuva quando faz sol e que to tira quando começa a chover". Já o economista John Galbraith ia mais longe, afirmando que "a maneira como os bancos ganham dinheiro é tão simples que é repugnante", acrescentando que "ser banqueiro é uma carreira da qual ninguém se restabelece completamente". À reflexão!