domingo, julho 20, 2014

Directas: não deturpemos nem resvalemos para o esgoto

Na minha humilde opinião há uma subversão do que vai estar em causa em dezembro deste ano no PSD da Madeira. Os militantes do PSD quando forem chamados a votar em Dezembro deste ano, não vão estar a pensar em economia, em saúde, em educação, seja lá no que for. Há um tempo para tudo, haverá um tempo para isso quando o partido tiver um novo líder eleito. O que os militantes pretendem ouvir, presumo eu que com toda a razão, é que soluções existem para o partido, que compromissos os candidatos assumem com as bases, que renovação estrutural e funcional preconizam - até porque essa renovação tem que ser feita, já que a cristalização é um risco - que modelo de funcionamento do partido sugerem, que propostas eleitorais defendem, na perspectiva de aproximarem as pessoas dos partidos em vez de manterem este vergonhoso agravamento da abstenção, sobre a qual todos se queixam e lamentam no dia das eleições, nas rapidamente se esquecem no dia a seguir.
A prioridade é eleger um líder do partido, não discutir governação
Surpreende-me esta subversão, não sei se deliberada, que mais parece uma tentativa de desviar a atenção dos militantes do essencial, ou, como diz o nosso povo, de "pôr a carroça à frente dos bois". Como é que se pode andar a discutir questões de governação se nem sequer foram eleitos? Mas afinal em Dezembro desde ano, nas "diretas" do PSD madeirense, o que é que estará em cima da mesa: discutir governos e governações, quando isso depende de eleições regionais que nem sequer são ganhas contando apenas com os militantes e simpatizantes do PSD, ou discutir o futuro do PSD num ciclo político que inevitavelmente, gostem ou não de o ouvir, terá que ser novo?
Eu sei que a tendência é para discutir a governação, porque é mais fácil e isso permite um enumerar de propostas a pataco e de alegadas soluções para os nossos problemas que continuam a ser basicamente dois: recursos financeiros e desemprego.
Bem vistas as coisas, será que isto não significa também colocar em causa também o que foi feito ou o que não foi feito no âmbito da governação da qual alguns ainda fazem parte? Até se poderiam colocar aqui questões éticas, se me permitem, levando ao extremo a apreciação deste processo.
E quem é que deve discutir questões de governação? Sejamos claros e sérios. Quem for eleito líder do PSD da Madeira. O novo líder terá então o dever de assumir compromissos com os militantes do partido já no congresso de Janeiro, deixando linhas gerais definidoras da sua atuação e clarificadores das propostas que farão parte do manifesto eleitoral. Aí sim, todo este debate setorial faz sentido. Aí sim, saberemos qual a capacidade do líder eleito, seja ele quem for (respeito a liberdade de escolha das pessoas, ela para mim é demasiado séria para andar a ser objeto de pressões, manipulações ou condicionamentos, seja de quem for), de promover a unidade partidária, de varrer os cacos que inevitavelmente resultarão deste processo eleitoral que temo se radicalize e possa provocar ainda mais estragos e de voltar a mobilizar simpatizantes e recuperar eleitores claramente em debandada.
Mas para isso o líder eleito tem o Congresso Regional de Janeiro de 2015 para apresentar a sua equipa, as suas ideias, o seu caminho. De que me serve andar a discutir documentos apresentados isolados - e não discuto nem o conteúdo nem a validade das propostas - documento esse que nem sequer está associado - presumo eu - a alguém em concreto, diretamente envolvido nas corrida pela liderança do PSD da Madeira?
Eu também tenho as minhas ideias, tenho as minhas propostas naquelas áreas que me parecem as mais essenciais, sobretudo as políticas, tenho propostas sobre modelos subjacentes a um adequado processo de decisão do partido até para as candidaturas, tenho propostas sobre como devem os militantes ser envolvidos nesse processo de decisão, em vez de andarem a saltar de reunião em reunião, de comício em comício ou de festa em festa. Mas são as minhas ideias, as minhas propostas, que podem até não ter razão de ser e estar erradas. Admito. Mas ninguém é dono nem da verdade nem do pensamento livre das pessoas. O problema é que sei que não tenho o direito de as colocar em discussão, muito menos nesta altura onde as prioridades dos militantes do meu partido (do qual faço parte há 40 anos, que isto fique claro) e a razão de ser de um processo eleitoral interno.
O meu tempo político-partidário terminou
Protagonismo? Vaidade pessoal? Cagança? Ambição de espaço na comunicação social? Dispenso tudo iso, Tal como sempre afirmei, tenho a noção que num processo de renovação e de mudança, as pessoas devem ter a capacidade de perceber que os eu tempo termina. O meu, que por sinal apenas se iniciou em 1991, em termos de envolvimento direto na atividade político-partidária, terminou. Deveia ter terminado já antes do último Congresso Regional como era intenção e tinha garantido. Só por razões excepcionais, que têm a ver também com a minha consciência, fizeram alterar essa predisposição.Tenho a certeza absoluta que na política há um cansaço de pessoas e de discursos e que há sempre vítimas de crises sociais, políticas, económicas que deixam marcas complicadas, sobretudo nos partidos que estão no poder.
Até Dezembro deste ano o que os militantes em primeira instância e os simpatizantes eleitores em geral em segunda instância pretendem saber, não são propostas de governação para o pós-2015 - até porque muita coisa pode acontecer condicionando tudo, inclusivamente inviabilizando muitas das ideias lançadas para cima da mesa - mas sim quem será o líder do PSD eleito pelas bases, que capacidade de remobilização do eleitorado ele terá, que garantias de unidade de um partido que já está dividido hoje, quanto mais depois do processo eleitoral interno atingir o rubro e os militantes fizerem as suas escolhas. E só depois disso, de de conhecer o líder eleito, que se candidatará, ou não a eleições regionais, é que os militantes, simpatizantes e eleitores social-democratas em geral, pretenderão saber que ideias existem em termos de governação, do futuro das Madeira e dos Madeirenses.
O fenômeno nem sequer é regional. Mas deviam existir regras de conduta concretas e rigorosas prevendo até penalizar quem deturpe o que está em causa nestes processo totalmente partidários e internos, muitas vezes executados a pensar na melhor forma de desviar a atenção das pessoas do essencial. O que se passa no PS nacional é vergonhosamente igual. Andam a discutir propostas de governação - embora a situação seja diferente, porque falamos de um  partido na oposição e que quer o poder, precisa do poder como de pão para a boca - sem saberem sequer quem será o líder. E não basta eleger um novo líder. Seguem-se eleições legislativas nas quais os portugueses, a esmagadora maioria dos quais nem sequer têm qualquer vínculo partidário efetivo, farão as suas escolhas.
Estamos a falar, no caso do PSD da Madeira - ressalvando que posso nem sequer ter os números corretos - de um partido com cerca de 120 mil militantes inscritos, dos quais 40%, já com boa vontade, desfrutarão do estatuto de eleitores devidamente habilitados a participar em qualquer processo eleitoral interno. A Madeira tem cerca de 269 mil habitantes, dos quais 258 mil (europeias de 2014) são eleitores recenseados. Julgo que não preciso de dizer mais nada para demonstrar que o mundo militante dos partidos, alargado mesmo aos chamados simpatizantes mais próximos, não resolve nenhum ato eleitoral em concreto. Por insuficiência mais do que óbvia!
Recomendação: respeitem a liberdade dos militantes!
Finalmente uma recomendação em nome da seriedade destes processos e do respeito pelas pessoas, que lhes é devido, sobretudo por parte de políticos: acho deprimente, primário, terceiro-mundista se quiserem, vergonhoso e desonesto, provavelmente criminoso no plano da ética e da verdade, esta teoria de que num processo destinado a 4 mil pessoas, das quais nem sei quantas votarão, se tenha que andar a pressionar militantes, ameaçando mesmo alguns deles, para que publicamente sejam obrigados a dar apoio a qualquer dos  putativos candidatos. A minha irritação agrava-se quando vejo que são uns tantos "cristãos novos", chegados ontem ao PSD da Madeira que funcionam como pontas-de-lança de uma promiscuidade rafeira própria de uma mediocridade que eu pensava não existir. A liberdade das pessoas, incluindo dos militantes dos partidos, passa por isso mesmo, pela liberdade de escolherem quando e se assim entenderem, fazendo o que acharem que devem fazer, e quando. Não podemos assistir passivamente a uma espécie de angariação telexfreeiana de "apoiantes" com recurso à insinuação, à ameaça, à promessa só para impedir que outro candidato pesque naquelas águas primeiro que ele. Esse procedimento envergonha-me, entristece-me por que vejo um partido a correr o risco de resvalar para o esgoto.

As relações de amizade pessoal ou os laços de afinidades ideológicas  num partido são uma coisa. Mas nada de confusões. Ninguém tem que se prestar a determinados "trabalhos" como se a isso estivesse obrigado, muito menos por compensação de qualquer cargo, trabalho ou tacho que recebeu. Esta ideia de que podemos cobrar dívidas na política como se cobram dívidas nas relações entre pessoas ou empresas, é vergonhoso. Decadente, deprimente. Muito menos andarem a brincar com a dignidade das pessoas, com o seu direito ao trabalho e a sua liberdade. Aproveitar-se dessas vulnerabilidades, se quiserem dessas fragilidades pessoais ou mesmo familiares, é desonesto. Eticamente criminoso!
Nenhum militante é obrigado a apoiar publicamente seja quem for nesta corrida eleitoral interna no PSD da Madeira. Nenhum militante é obrigado a assinar a candidatura seja de quem for. Nenhum militante por apoiar este ou aquele candidato terá vantagens, sejam elas quais forem, por causa disso. Misturar isso é desonestidade. Cabe a cada militante decidir, por si, de acordo com a sua consciência o que fazer o que entender e como fazer.