Li no Observador que “Seguro quer ouvir o governador
do Banco de Portugal sobre o processo de escolha da nova equipa do BES. Vítor
Bento foi um dos convidados de honra para o seu Novo Rumo. O economista Vítor
Bento, que faz parte da nova administração do BES, muito criticada pelo PS
durante o fim de semana, foi convidado por António José Seguro para a convenção
Novo Rumo em fevereiro — um ciclo de conferências que preparou as linhas gerais
do programa eleitoral do partido e que serviu para abrir o PS a personalidades
independentes. Vítor Bento esteve num debate sobre a reforma da Administração
pública com Guilherme d’Oliveira Martins, que é hoje presidente do TC. E
defendeu a importância “de conciliar democracia e sustentabilidade financeira”,
considerando que, em Portugal, “a história diz-nos que nós só conseguimos ter
estabilidade financeira através de mecanismos repressivos”, ou seja, dos três
resgates financeiros. “Temos que saber conciliar escolhas democráticas com
sustentabilidade financeira. Não menorizem a importância que a estabilidade
financeira tem para o funcionamento da própria democracia”, aconselhou, dando
como exemplo a queda do Governo de Salvador Allende, no Chile, em 1973. “A
queda de Allende no Chile – além de toda a sabotagem política de que foi alvo,
nomeadamente pelo lado americano -, resultou também, em grande parte, ou foi
muito favorecido, pela alienação da classe média em consequência das políticas
financeiras aplicadas pelo governo de unidade popular”, afirmou, citado
pel DN/Dinheiro Vivo.
Na página oficial do PS, porém, são destacadas outras
ideias da intervenção do economista. “Vítor Bento defendeu que é preciso
eliminar ou reduzir o número de gabinetes governamentais, que disse serem
administrações paralelas”, lê-se. “Estabilizar a estrutura dos governos,
moderar a qualidade da frota automóvel do Estado, remunerar adequadamente os
dirigentes da administração pública e acabar com os pequenos favores que
permitem comprar boas vontades foram outras sugestões feitas pelo conselheiro
de Estado”.
António José Seguro criticou duramente este fim de
semana a nova administração do BES, nomeadamente, Vítor Bento, o novo
administrador executivo, Paulo Mota Pinto, chairman, e João Moreira Rato,
administrador financeiro, por considerar que “a política não pode permitir a
promiscuidade entre os negócios, os interesses e a vida pública”. Bento é
conselheiro de Estado e partilha, globalmente, o diagnóstico e visão para o
país do atual Governo; Mota Pinto é deputado do PSD; e Moreira Rato foi nomeado
por este Governo para a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública. “Vejam
as últimas notícias sobre um banco português e vejam os três nomes conhecidos
para a administração desse banco, todos associados à atual maioria política”,
afirmou António José Seguro, que discursava num encontro com militantes do PS.
Segundo o líder socialista, “um deles vem do
Parlamento para a administração do banco, outro era até há bem pouco tempo, até
saber o seu nome, quem fazia a gestão da dívida pública, vendia dívida pública
e agora vai para a administração de um banco que comprou essa dívida pública”.
“Isto não pode continuar. Isto é mais do mesmo, é isto que afasta as pessoas da
política, é isto que denigre as instituições”, frisou. Seguro esteve em
silêncio sobre o BES até sábado. Só quis falar depois de serem oficiais as
notícias sobre os novos membros da administração do banco, validados pelo Banco
de Portugal. O secretário-geral pediu mesmo uma audiência com o governador,
Carlos Costa, para pedir esclarecimentos do supervisor sobre o processo de
escolha dos novos nomes do BES e esclarecer as suas suspeitas de interferência
política. “Isto quase parece uma nacionalização”, ironizou ao Observador um
membro da direção do PS. Ainda assim, Seguro poupou nas críticas Vítor Bento em
relação aos outros dois administradores. “Seguro tem uma boa relação com Vítor
Bento e não está em causa a competência profissional dele”, refere fonte do PS.
A conversa com Carlos Costa será uma audiência da agenda privada do governador
e, por isso, o Banco de Portugal diz que não vai divulgar a sua data”