Várias vezes tenho escrito que João Paulo II foi o meu Papa. Com os seus defeitos e virtudes, a verdade é que aquele polaco desconhecido cativou a atenção e o carinho de milhões, que se foi consolidando à medida em que foi viajando pelo mundo e contactando o povo. Havia, houve, também uma questão geracional, que João Paulo I, no pontificado de 30 dias de sorriso deixou antever. João Paulo II foi muito importante para o nosso tempo, para a Igreja, obviamente sem ter sido perfeito.Tal como afirma Francisco todos comerem erros, a começar por ele próprio. Bem vistas as coisas, quem somos nós para apontarmos o dedo acusador, e muitas vezes o fazemos hipocritamente, a sacerdotes, bispos e outras personalidades da Igreja, sem que antes possamos decidir se temos autoridade para o fazer? Hoje não tenho dúvidas em afirmar que Francisco é o meu Papa, um sentimento que, mesmo não sendo correto para um cristão (para eles todos os Papas devem ser os seus Papas), algo que nunca reconheci, tenho que o afirmar com verdade, nunca senti com o seu antecessor, Bento XVI, por muito importante que ele tenha sido - e alguns dizem que foi - como pensador da Igreja (não quero discutir isso). Mas este "Papa Chico" revela-se cada dia que passa, um Papa adaptado ao nosso mundo, que percebe os nossos problemas, que tem uma leitura não radicalizada e muito pragmática da Bíblia e de outros textos fundamentais ao cristianismo. Tenho a certeza de que é um homem que recusa, com convição, os fundamentalismos patéticos, que olha pelos jovens, pelo sofrimento das crianças e das mulheres, pelos idosos, pelos pobres, pelos mais fracos, que combate a ganância, o lucro fácil transformado no único objetivo de alguns idiotas, o primado do dinheiro, o capitalismo selvagem, os especuladores, os mercadores de seres humanos que querem ganhar dinheiro, ganham dinheiro, com a fragilidade humana e o sofrimento de milhões de cidadãos de África, da Ásia, do Médio Oriente, da América Latina, de alguns países europeus, etc. O "Papa Chico" nada tem a ver com certos políticos bandalhos que temos por aí, que roubam os cidadãos, incluindo os mais pobres, é adversário da corrupção. Com um Homem destes, temos que nos curvar humildemente perante ele. Sente-se ouvindo o "Papa Chico" que há ali algo de diferente, uma forma nova de alguém nos falar, uma pessoa que temos que assumir e proteger como o nosso "Papa Chico". Estou entre esses. Parabens ao Henrique Cymerman pela entrevista.



