Segundo o Público, “são grandes acontecimentos do passado, como o 25 de
Abril e os Descobrimentos, que mais simbolizam a capacidade de união do povo. O
Estado Novo também é mencionado no estudo sobre o que une os portugueses. Os
portugueses sentem-se muito ligados ao país, continuam orgulhosos de Portugal,
mas é elevada a descrença no sistema político e económico actual, que é mesmo
encarado com embaraço e vergonha. São os grandes feitos do passado, como o 25
de Abril de 1974 e os Descobrimentos, que mais simbolizam a capacidade de união
dos cidadãos, e os principais elementos de identidade nacional continuam a ser
a bandeira, Fátima, a gastronomia e o fado. É o retrato de um país dividido o que transparece do estudo de opinião
“Percepções sobre a União dos Portugueses” que esta segunda-feira ao final da
tarde é apresentado em Lisboa. Promovido pela Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa e realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da
Universidade Católica e pela empresa Ipsos Apeme, o trabalho pretendeu perceber
se os portugueses estão ou não unidos, o que os une e o que os consegue
mobilizar. A opinião recolhida é tudo menos consensual: 44% dos inquiridos
acreditam que há união entre os portugueses, 32% defendem que é “moderada”, mas
quase um quarto sustenta que o laço não existe. São os mais instruídos que
classificam os portugueses como mais unidos.
A percepção sobre os factores de união e os elementos que melhor definem
a imagem de Portugal também variam acentuadamente. Os mais jovens e instruídos
vêem a imagem de Portugal associada sobretudo a símbolos relacionados com o
turismo (sol, praia e gastronomia), ao fado e à selecção nacional. Já os mais
velhos, menos instruídos e com rendimentos mais baixos associam o país a
elementos mais tradicionais, como a bandeira nacional e Fátima. No global,
estes dois símbolos são justamente os mais mencionados pelos inquiridos (43 e
37%, respectivamente).
“Mas esta não é a trilogia clássica Fátima, fado e futebol. O fado é mais escolhido pelos mais jovens e
mais instruídos, o que pode sugerir uma reapropriação dos elementos
identitários”, sublinha Verónica Policarpo,
uma das autoras do estudo. “Os mais jovens não se revêem tanto nos elementos
mais tradicionais”, corrobora a outra autora, Josefa Ramalho. A solidariedade, os laços familiares e a língua são as características
que mais contribuem para unir os cidadãos. O orgulho em ser português também
pesa nesta equação, tal como o desporto, mas a existência de “líderes
reconhecidos” praticamente não é referida pelos inquiridos (só 2% a mencionam).
Medido o orgulho em ser português, percebe-se que o sentimento é elevado
(60% dizem-se muito orgulhosos e 26%
“algo orgulhosos”), mas ainda assim “cauteloso”. “O orgulho é cauteloso porque não é
transversal a todos os nossos feitos”, explica Josefa Ramalho. Há muito orgulho
nos feitos da história, do desporto, das artes e da ciência, mas “embaraço e
vergonha no sistema económico e político actual”, nomeadamente no modo como
funciona a democracia, destacam as autoras.
Apesar desta descrença no sistema político-económico, continua a ser
muito forte o sentimento de ligação dos portugueses ao país: 84% dos inquiridos
dizem-se ligados ou muito ligados a Portugal. Para as autoras do estudo, esta
ligação é mesmo “o que mais une os portugueses”. Nos acontecimentos históricos
identificados como eventos que simbolizam a união e são elementos de memória
colectiva, além do 25 de Abril de 1974 e dos Descobrimentos, o Estado Novo
também é referido e por metade dos inquiridos.
Mobilização mais em causas pontuais do que estruturais
Na capacidade de mobilização também não há consenso. Mais de metade dos
inquiridos consideram que os portugueses se envolvem em causas de interesse
comum, mas 18% defendem que não e 28% pensam que os cidadãos apenas se
mobilizam de forma “moderada”.