quarta-feira, abril 23, 2014

Sondagem: Portugueses não gostam da democracia que têm



Li no Expresso, num texto da jornalista Manuela Goucha Soares que “osmaiores défices democráticos "situam-se no domínio do funcionamento dos tribunais, na capacidade de os governos assegurarem justiça social e num sentimento de falta de controlo popular do poder político". Revelações do estudo "Significados e Avaliações da Democracia". A incapacidade de os governos explicarem as decisões e escolhas que fazem gera um sensação de défice democrático na democracia que se vive em Portugal, 40 anos depois do 25 de Abril. Esta é uma das conclusões do sexto inquérito "European Social Survey", no qual participaram mais de 40 mil pessoas com idade superior a 15 anos e que em Portugal foi coordenado pelos politólogos Pedro Magalhães e Marina Costa Lobo. Em Portugal, o "Significados e Avaliações da Democracia" foi complementado com o estudo quantitativo à classe política, "Barómetro da Qualidade da Democracia", promovido pelo Instituto de Ciências Sociais. De acordo com a investigação, o conceito que os portugueses têm de democracia é semelhante ao dos cidadãos de outros 21 países europeus e de Israel. Mas a apreciação concreta que fazem da democracia que temos fica - nalguns domínios - "abaixo das detetadas em média".  Os maiores défices democráticos "situam-se no domínio do funcionamento dos tribunais, na capacidade de os governos assegurarem justiça social e num sentimento de falta de controlo popular do poder político (governos que não explicam as suas decisões aos eleitores e insuficientes mecanimos de democracia direta)".  Os grupos economicamente mais favorecidos e com "maiores níveis de instrução" valorizam mais os direitos de cidadania e as eleições e "tendem a ter um conceito de democracia" que desvaloriza "as ações ligadas à justiça social ou ao controlo popular através dos referendos". O trabalho revela ainda que a crise contribui para que as mulheres deem mais importância à distribuição de rendimentos do que os homens e para que os mais desfavorecidos digam que só há liberdade a sério quando a repartição de rendimentos é justa.
A singularidade da classe política
Os políticos portugueses dão muita importância aos meios de comunicação social na ideia que têm de "boa" democracia. Este é, aliás, o único aspecto que "singulariza a classe política" e que a distingue verdadeiramente do comum dos cidadãos, de acordo com uma análise complementar ao estudo europeu, que tem por objetivo analisar as percepções da classe política portuguesa. Os políticos hiper-valorizam a "qualidade da informação nos meios de comunicação" e consideram que, via de regra, "a qualidade da informação nos meios de comunicação, o principal intermediário entre os políticos e os cidadãos", é má. Ou seja, em última análise, poderão dizer que os jornalistas são os responsáveis pela má apreensão que os cidadãos fazem das suas mensagens. No geral, as ideias dos políticos portugueses "não se afastam significativamente dos obtidos para a população em geral". Deputados e autarcas acham que o conceito de "democracia" não pode ficar pela realização de "eleições livres: a igualdade perante a lei e o combate à pobreza aparecem como dimensões de importância igualmente elevada", revela o estudo quantitativo à classe política em Portugal".