Li no Expresso, num texto da jornalista Manuela Goucha Soares que “osmaiores
défices democráticos "situam-se no domínio do funcionamento dos tribunais,
na capacidade de os governos assegurarem justiça social e num sentimento de
falta de controlo popular do poder político". Revelações do estudo
"Significados e Avaliações da Democracia". A incapacidade de os
governos explicarem as decisões e escolhas que fazem gera um sensação de défice
democrático na democracia que se vive em Portugal, 40 anos depois do 25 de
Abril. Esta é uma das conclusões do sexto inquérito "European Social
Survey", no qual participaram mais de 40 mil pessoas com idade superior a
15 anos e que em Portugal foi coordenado pelos politólogos Pedro Magalhães e
Marina Costa Lobo. Em Portugal, o "Significados e Avaliações da
Democracia" foi complementado com o estudo quantitativo à classe política,
"Barómetro da Qualidade da Democracia", promovido pelo Instituto de
Ciências Sociais. De acordo com a investigação, o conceito que os portugueses
têm de democracia é semelhante ao dos cidadãos de outros 21 países europeus e
de Israel. Mas a apreciação concreta que fazem da democracia que temos fica -
nalguns domínios - "abaixo das detetadas em média". Os maiores défices democráticos
"situam-se no domínio do funcionamento dos tribunais, na capacidade de os
governos assegurarem justiça social e num sentimento de falta de controlo
popular do poder político (governos que não explicam as suas decisões aos
eleitores e insuficientes mecanimos de democracia direta)". Os grupos economicamente mais favorecidos e
com "maiores níveis de instrução" valorizam mais os direitos de
cidadania e as eleições e "tendem a ter um conceito de democracia"
que desvaloriza "as ações ligadas à justiça social ou ao controlo popular
através dos referendos". O trabalho revela ainda que a crise contribui para que as mulheres deem
mais importância à distribuição de rendimentos do que os homens e para que os
mais desfavorecidos digam que só há liberdade a sério quando a repartição de
rendimentos é justa.
A singularidade da classe política
Os políticos portugueses dão muita importância aos meios de comunicação
social na ideia que têm de "boa" democracia. Este é, aliás, o único
aspecto que "singulariza a classe política" e que a distingue
verdadeiramente do comum dos cidadãos, de acordo com uma análise complementar
ao estudo europeu, que tem por objetivo analisar as percepções da classe
política portuguesa. Os políticos hiper-valorizam a "qualidade da
informação nos meios de comunicação" e consideram que, via de regra,
"a qualidade da informação nos meios de comunicação, o principal
intermediário entre os políticos e os cidadãos", é má. Ou seja, em última
análise, poderão dizer que os jornalistas são os responsáveis pela má apreensão
que os cidadãos fazem das suas mensagens. No geral, as ideias dos políticos portugueses
"não se afastam significativamente dos obtidos para a população em
geral". Deputados e autarcas acham que o conceito de
"democracia" não pode ficar pela realização de "eleições livres:
a igualdade perante a lei e o combate à pobreza aparecem como dimensões de
importância igualmente elevada", revela o estudo quantitativo à classe
política em Portugal".