Passos Coelho, ressalvando as críticas que lhe faço,
e continuarei a fazer, voltou a superar Seguro no último debate na Assembleia
da República. Até percebo o episódio com o Bloco de Esquerda. Se um pequeno
partido da oposição vai para um debate parlamentar e usa os mesmos argumentos,
sobretudo a mesma linguagem, que qualquer cidadão pode usar fora das
instituições, como é o caso das redes sociais ou mesmo de textos opinativos
identificados publicados na imprensa, obviamente que no plano institucional da política
-que existe - a opção tomada por Coelho é uma delas. Diga o Bloco o que disser,
faça o "show off" que fizer, pensando mais na comunicação social e em
ganhar, através dela, apoio eleitoral que reconhecidamente vem perdendo, aceleradamente.
Mas quando digo que Passos ganhou a Seguro - aliás
tal como sempre acontece – esta constatação resulta do fato de que o líder do PS
mais do que um repetido vazio de ideias e de alternativas que possam ao menos
ser pensadas pelos portugueses. Coelho acusou diretamente o PS de não querer reunir
com o governo de coligação para obtenção de um consenso alargado, seja a que
pretexto for, porque, segundo ele, os socialistas não querem ficar associados a
medidas de austeridade e a mais cortes que venham a ser aprovados. Tudo por
causa de eleições.
Se colocarem o Estado - aquela lenga-lenga do
costume - à frente dos interesses partidários, o que para mim não passa de uma
patachada, obviamente que seria recomendável e positivo que os principais
partidos nacionais – abrangidos por aquela expressão elitista de "partidos
do arco da governação" - se entendessem, num quadro mais alargado de
várias legislaturas, sobre medidas essenciais da política orçamental.
Mas como o governo de coligação, pelo autoritarismo,
pelo autismo, pela arrogância, pelo auto-convencimento patético, pelo uso da política
do "quero, posso e mando!" assente na maioria parlamentar folgada que
possui na Assembleia da República (onde quem não cumprir é alvo de processo
disciplinar e de ostracização na respectiva bancada), andou quase três anos a se
borrifar para o PS, é de prever que tal desfecho não se concretize.
A verdade é que o governo de coligação, precisa agora
de um entendimento à força com os socialistas, sobretudo devido à pressão de
entidades externas e dos credores estrangeiros - na verdade existem culpas da
maioria pela situação criada – as coisas complicam-se porque os socialistas dizem
que só cedem depois de eleições, transferindo assim para Cavaco a pressão.
Pessoalmente não acredito que esta situação se altere, use a coligação no poder
(e Cavaco Silva) a ladainha que quiser. Por isso, a um ano, mais coisa menos
coisa, de eleições legislativas – se não forem antes... - é natural que o PS
tenha a atitude que tem tido, de puro oportunismo político e resguardo dos seus
interesses eleitorais. Resta saber se isso lhe propiciará alguma mais-valia
quando esse tempo de decisão chegar. Seguro não é capaz de disfarçar que assume
essa postura, não por convicção, nem por não reconhecer a utilidade desse
diálogo, mas por temer ser penalizado eleitoralmente a favor da esquerda,
particularmente do PCP, e da abstenção.