Li aqui que “o historiador e comentador político, Pacheco Pereira,
comenta este sábado, num artigo que assina no jornal Público, o episódio entre
o Bloco de Esquerda e o primeiro-ministro que marcou o debate quinzenal da
passada semana, frisando que “Passos Coelho sabe muito bem que o valor da sua
palavra não vale é nulo” mas “isso não o preocupa”. Pacheco Pereira considera,
aliás, que “isso deve-se” ao facto de “o Governo e o primeiro-ministro acharem
que dar explicações (…) é um desperdício de tempo". No artigo que, este
sábado, o social-democrata e comentador político Pacheco Pereira assina, como
habitualmente, no jornal Público, a questão predominante é “o valor da palavra”
e se ele, o valor, “muda conforme os destinatários e conforme as
circunstâncias”. Em causa está, explica o autor do texto, “a acusação ao
primeiro-ministro” feita na passada quarta-feira pela bloquista Catarina
Martins, durante o debate quinzenal, “de que a sua palavra”, leia-se do chefe
do Governo, “não valia nada”. Na opinião de Pacheco Pereira, “mais do que
“indignação” esta situação provocou “um surto de irritação”. Mas, “na verdade,
a começar pelo próprio, ele sabe muito bem que o valor da sua palavra é nulo, e
isso não o preocupa muito, não porque seja ‘mau’, mas porque o ‘valor da
palavra’ remete para um conjunto de valores que ele e a sua geração acham
antiquados e arqueológicos”. Como exemplo, Pacheco Pereira recupera “o caso do
‘temporário’/’definitivo’ dos cortes” para provar “como a ‘palavra’, no sentido
de uma afirmação de honra, não tem nenhum valor”. O que acontece, explica, é
que “quando [Passos] fala em modo eleitoral, os cortes (desculpem, as
‘poupanças’) são ‘temporários’”, tal como sucede “quando fala em modo constitucional,
para o Tribunal Constitucional”, mas “quando fala em modo troika, diz que os
cortes são ‘definitivos’”, como “quando entra em modo mercados”. Não restando
dúvidas de que “na conceção do ‘ajustamento’, o Governo está do lado da troika
e que tudo fará para que sejam ‘definitivos’. Que valor tem a ‘palavra’, quando
ele muda consoante os destinatários e conforme as circunstâncias?”. Isto
deve-se ao facto de “o Governo e o primeiro-ministro acharem que ter de dar
explicações sobre esta matéria (cortes) é um desperdício de tempo e têm um
infinito desprezo por aqueles que lhes perguntam sobre as suas contradições”. “No
seu entender, ele, o Governo, fará o que tem de fazer, fará o que quer fazer e,
como tem o poder, a faca e o queijo na mão, nem sequer se preocupa muito em disfarçar”,
remata Pacheco Pereira”.