“Na triste mediocridade
do Portugal de hoje, Seguro serve.
O PS julga e proclama que
a direita está isolada. Mas não compreende que ele também está. Isolado da
esquerda radical – o PC, o BE e miudezas várias – que o descredita e o impede
de crescer. Isolado na maioria das questões que importam aos portugueses. Pior
ainda: isolado na “Europa”, que se move noutro sentido.
A política de Seguro é,
no fundo, a de evitar qualquer contaminação. A contaminação da franja lunática
doméstica, que o empurraria para fora do “arco de governação”; a contaminação
da “austeridade” que lhe faria perder votos; a contaminação da sra. Merkel, que
arrasaria os ridículos sonhos de uma “Europa” que nos viesse gratuitamente
tirar de sarilhos. Ora a melhor maneira de continuar “puro” é, na prática,
continuar sozinho.
Na sua miraculosa
inconsciência, Seguro julga ainda que, passado o pequeno episódio do
“ajustamento”, se voltará à velha “rotação” entre o PS e o PSD e que chegou
agora a hora do PS, se ninguém se agitar dentro do partido. Infelizmente para
ele, tem à perna Soares, Sócrates, Costa e uma matilha enraivecida de
personagens menores, que não o deixam sossegar, nem agir. O hábito em que se
instalou de dizer “não” a tudo e de carpir lacrimejante a malvadez da direita é
muito claramente uma táctica de defesa. Assim não se compromete e, supõe ele,
não compromete o futuro: cá fora e no momento próprio o povo se encarregará do
resto. Talvez não seja isto que se espera de um chefe da oposição e daí a
complacência com que o tratam nos dois lados desta adormecida guerra em que
vivemos.
Mas não acredito que
alguém pudesse substituir Seguro com uma decisiva vantagem para o PS. A
social-democracia acabou, apesar dos berros de meia dúzia de alucinados do PSD.
Não existe social-democracia que resista à situação actual da Europa, para já
não falar em Portugal. O PS acabará por se transformar, à falta de melhor, num
partido de resistência à mudança e, como desde 1975 o PC, vai nos quinze anos
mais próximos defender o “Estado Social” e outros privilégios de uma classe média
empobrecida e de trabalhadores sem força. Embora condenado e curto, este papel
é um papel nobre. A ideia de que uma figura “carismática” (e não consigo
descobrir nenhuma) seria capaz de reconstituir o mundo como ele era no fim do
século XX, é tão absurda como a de reconstituir o mundo como ele era antes de
1914, como muito boa gente sonhou entre 1918 e o triunfo de Hitler. Na triste
mediocridade do Portugal de hoje, Seguro serve” (texto de VASCO PULIDO VALENTE,
Publico, com a devida vénia)