“Os nossos credores só têm uma coisa a dizer: a troika
passa, a austeridade fica.
Costuma ser uma romaria discreta. Mas desta vez parece
ter havido quem tenha falado de mais. E por isso a peregrinação pública a que
os técnicos da troika se submetem a cada avaliação (Parlamento, parceiros
sociais e maior partido da oposição) resultou algo ruidosa.
Que o digam os parceiros sociais. Vieira Lopes, da
Confederação de Comércio e Serviços, criticou a troika, que normalmente ouve
mais do que fala, por ter falado muito e mal. A intransigência do FMI, Comissão
Europeia e BCE, nomeadamente nas questões salariais, deixou perplexos os
parceiros sociais. Por causa da mensagem (que era a esperada), mas também do
modo. Quase na despedida, os enviados da troika decidiram dar um raspanete ao
bom aluno e lembrar a quem acreditava que o fim do programa de ajustamento era
um novo 1640 que a austeridade não será defenestrada a 17 de Maio.
Mas se a troika falou mais que o costume, os parceiros
ouviram todos o mesmo. O que já não é possível dizer dos partidos políticos.
Entre os quais houve também quem se alongasse além do balizado. Como foi o caso
de Miguel Frasquilho (PSD), que fez a defesa do programa cautelar, para depois
ser obrigado a desdizer-se politicamente e afinar pelo “tudo está em aberto”
que tem sido o discurso oficial do Governo.
Se os parceiros sociais ficaram incomodados por a
troika dizer que a austeridade ainda não chega, o PS encontrou porém outra
insuficiência, a que lhe convinha. O que os socialistas leram nas palavras do
discurso dos enviados da troika foi o relato do fracasso do Governo. E
finalmente disseram que sempre foram pela saída limpa, mas reiteraram que com
estas taxas de juro não se sabe, pelo que ficámos na mesma.
A cada um a sua troika portanto. Mas por mais pontos
que acrescentem ou subtraiam ao que vieram contar, os nossos credores só têm
uma coisa a dizer: a troika passa, a austeridade fica. O resto são vírgulas
para consumo interno” (texto da DIRECÇÃO EDITORIAL do Publico, com a devida
vénia)