Escreve
o Publico, num texto do jornalista SAMUEL SILVA que “há cada vez mais clínicos
licenciados no estrangeiro a entrar no sistema de saúde português. Universidade
do Minho é a instituição em que se registam melhores resultados. Os médicos
formados em universidades estrangeiras são aqueles que alcançam os piores
resultados no exame de acesso à especialidade feito anualmente em Portugal.
Esse grupo tem sido cada vez maior, ao longo dos últimos anos, e dentro dele,
são os portugueses que foram formar-se fora do país por não terem entrado nas
universidades nacionais quem está em maioria. Entre as faculdades portuguesas,
os clínicos com melhores resultados na prova são os da Universidade do Minho. Os
médicos formados no estrangeiro têm uma nota média no exame de 48,85, quase 20
pontos abaixo da média das sete faculdades de medicina do país (67,88). Os
resultados dos exames nacionais de seriação realizados entre 2006 e 2011 foram
compilados por Isabel Pavão Martins, professora e investigadora do departamento
de Neurociências da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e
publicados no final do ano passado na Acta Médica Portuguesa, a revista científica
da Ordem dos Médicos. No período a que se refere o estudo, 8956 candidatos
realizaram a prova, dos quais 12,4% fizeram os cursos de Medicina fora do país.
De resto, a percentagem de médicos formados no estrangeiro tem crescido de
forma praticamente constante ao longo dos últimos anos, passando de 10,5% em
2006 para 15,8% em 2011.
No
entanto, nem todos os médicos formados em instituições estrangeiras são
estrangeiros. Os portugueses são a larga maioria (43,9% do grupo com
licenciatura internacional). Na totalidade dos médicos existentes em Portugal,
6,5% formaram-se no estrangeiro. O número de médicos com outras nacionalidades
está um pouco abaixo de 8,47%, distribuindo-se por mais de 50 países, com
especial relevância para Ucrânia, Espanha e países de língua oficial
portuguesa. Estes piores resultados na prova de acesso poderão ser explicados
pela formação de menor qualidade em algumas das universidades estrangeiras em
comparação com as escolas médicas nacionais, ou por uma pior preparação de
base, sobretudo no ensino secundário — muitos destes alunos não entraram nas
faculdades nacionais e recorreram ao estrangeiro como opção de recurso. Além
disso, há uma maior adaptação das faculdades portuguesas ao modelo do exame que
é feito no país. A estes factores, Isabel Pavão Martins acrescenta um fraco
domínio da língua e da cultura portuguesa por parte de muitos destes clínicos.
Os médicos de nacionalidade portuguesa obtiveram em média uma classificação
superior em 22 pontos à dos candidatos internacionais. Mas faltam dados que
permitam uma análise mais aprofundada. “Não sei, por exemplo, qual a idade
desses médicos, nem há quanto tempo se licenciaram nem com que classificação.
Não sei se se prepararam, se falam bem português”, explica. Certo é que este é
um grupo heterogéneo em nacionalidade, língua materna, idade e preparação, diz
Isabel Pavão Martins.
Entre
as universidades nacionais, os melhores resultados são os registados pelos
licenciados da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho, com uma
nota média de 72,33 pontos. “Tem a vantagem de ter um número mais pequeno de
alunos” (264), a que se juntam boas condições de ensino e logísticas e a
organização de cursos de preparação para o exame, explica Isabel Martins.
Seguem-se a Faculdade de Medicina do Porto (69,95) e a de Lisboa (69,41). A
autora não considera, porém, as diferenças entre as faculdades nacionais muito
substanciais. Os piores resultados são os da Faculdade de Ciências da Saúde da
Universidade da Beira Interior (63,84), que não se afasta muito da média. A
diferença máxima entre universidades portuguesas corresponde a oito ou nove
perguntas nas 100 do exame, aponta o estudo. É a primeira vez que estes dados
são compilados, apesar de os resultados serem públicos e divulgados todos os
anos pelo Ministério da Saúde. Esta prova regula o acesso ao internato
complementar dos médicos, consistindo num teste escrito de 150 minutos, que tem
como única referência bibliográfica um livro e texto norte-americano, o que tem
valido cada vez maiores críticas ao teste, que deverá ser substituído por um
novo no próximo ano”