Li no Sol que "a crise que se vive na Grécia está a aumentar o
número de doenças mentais no país e a dificultar cada vez mais a possibilidade
de tratamento, por causa dos cortes orçamentais ou pela perda de seguros
médicos. De acordo com um estudo do Instituto Universitário de Investigação em
Saúde Mental da Universidade de Atenas, em 2013, mais de 12 por cento dos
gregos sofreram transtornos depressivos graves, o que representa um aumento de
50 por cento em relação a 2011, quando a doença afectava 8,2 por cento da
população. O relatório confirma investigações anteriores efectuadas pela mesma
universidade e que registaram um aumento contínuo e "alarmante" das
depressões na população grega, desde os 3,3 por cento registados em 2008, aos
6,8 por cento em 2009 e aos 8,2 por cento em 2011. Mais de metade das pessoas
que actualmente consultam um psiquiatra, na Grécia, "são vítimas da
crise", afirma o especialista Theodoros Megaloikonomu, um psiquiatra que
pretendeu provar que a crise não só deixou sem trabalho e sem casa mais de um
milhão de pessoas no país, mas que também está a afectar a saúde mental dos
cidadãos.
"Apesar de, ao princípio, se apresentarem com outro tipo de
problemas, vê-se que provêm de um contexto com entraves económicos, por causa
da crise", afirma Megaloikonomu, director do Departamento de Psiquiatria
do Hospital Público Dafní, em Atenas. A ansiedade, a depressão, os ataques de
pânico e os transtornos obsessivo-compulsivos são as principais desordens de
saúde mental que afectam gregos, segundo o ministério grego da Saúde. O
ministério, segundo a agência EFE, afirma, no entanto, que não dispõe de dados
fidedignos sobre a incidência de problemas económicos dos últimos anos, na
saúde mental dos gregos, apesar de reconhecer que, "provavelmente, a crise
financeira aumentou a angústia e a ansiedade entre a população". O estudo
da Universidade de Atenas conclui que os grupos mais afectados pelas depressões
clínicas são as mulheres entre os 35 e os 44 anos, e o grupo feminino entre os
55 e os 64 anos, as pessoas com estudos básicos, os desempregados e aqueles que
não conseguem rendimentos superiores a 400 euros. Outro factor que é
considerado importante para a incidência de doenças mentais é a perda da
habitação.
Na Grécia, um país com 11 milhões de habitantes, calcula-se que entre 20
mil a 40 mil pessoas perderam a casa. A maioria sofre de doenças mentais,
segundo Megaloikonomu. De acordo com o especialista, o agravamento da situação
deve-se ao facto de muitas vezes as pessoas que não conseguem encontrar
trabalho "não encontrarem forças para se integrarem outra vez na
sociedade", o que potencia as doenças mentais e os transtornos
obsessivo-compulsivos. Megaloikonomu relaciona os casos crescentes de
transtornos mentais com o número de suicídios, que aumentaram 43 por cento no
período entre 2007 e 2011, segundo dados oficiais, apesar de o psiquiatra
considerar que, na realidade, o número é muito superior, pois muitos suicídios
são encobertos pelas famílias, por motivos culturais e religiosos. Além do
aumento dos casos, o ambiente em que os especialistas trabalham é cada vez mais
difícil, por causa dos cortes orçamentais.
"Todos os dias o Governo impõe medidas mais hostis, em matéria de
saúde mental, e torna cada vez mais difícil o acesso das pessoas ao sistema de
saúde", acusa Megaloikonomu. O mesmo especialista alerta para os efeitos
da reforma do sistema de saúde, que o Governo grego pretende levar a cabo, e
que prevê o encerramento de hospitais psiquiátricos e especializados em saúde
mental, como exigência da "troika" (Fundo Monetário Internacional,
Banco Central Europeu e Comissão Europeia). A tudo isto, junta-se o
"drama" de três milhões de gregos que não têm acesso ao sistema de
saúde público, por se encontrarem no desemprego há mais de um ano ou por terem
contraído dívidas com a segurança social. O Ministério da Saúde diz, no
entanto, que os dados sobre as pessoas sem protecção no sistema de saúde são um
"exagero" e acrescenta que o custo dos medicamentos diminuiu
"drasticamente" depois de uma "série de medidas governamentais
eficazes". Mesmo assim, Megaloikonomu insiste que os hospitais -- que
recebem financiamento estatal -- estão numa situação muito difícil.
"É frequente não termos dinheiro para medicamentos", lamenta o
psiquiatra acrescentando que a falta de financiamento obriga a mudar os
tratamentos dos doentes. O especialista diz também que, no hospital de Atenas
onde trabalha, as baixas não são pagas desde há três anos, o número de
psiquiatras não é suficiente e que uma unidade com 30 doentes mentais graves
passou a contar apenas com duas enfermeiras. "Estamos preocupados com o
futuro destes doentes, caso os hospitais [psiquiátricos] venham a
encerrar", conclui o médico"