"Não é preciso tirar um mestrado
medinacarreirista para perceber que a grande causa da nossa crise está no
abismo entre as possibilidades económicas da sociedade e as benesses
financeiras garantidas pelo Estado. A bota não bate com a perdigota. O Estado
paga salários e distribui subsídios/pensões demasiado pesados para a nossa
economia. A montante, produzimos riqueza como portugueses, mas a jusante
queremos distribuir dinheiro como alemães. Este salto de fé insustentável era
evidente, por exemplo, na atribuição do subsídio de desemprego.
Em
2009, a OCDE colocava Portugal no sexto lugar na escala de generosidade
do subsídio nos cinco anos seguintes à entrada no desemprego. Repare-se no
pormenor: ao nível do PIB per capita, Portugal devia ser o sexto a contar do
fim, mas ao nível da distribuição social o nosso país estava no sexto lugar a
contar, ora essa, do princípio. A OCDE também argumentava que Portugal tinha o
subsídio de desemprego mais generoso da Europa para quem estava desempregado ao
fim de dois anos: 79% de reposição de salário e uma extensão temporal que podia
chegar a três anos e meio. Pior: um indivíduo podia aceder a três anos e meio
de subsídio depois de trabalhar apenas ano e meio. Uma situação sem paralelo na
Europa inteira (Expresso, 15 Maio 2010).
Este
é um dos muitos exemplos que provam a insustentabilidade do estado social
criado entre nós. Ao longo dos anos, este abismo entre a criação e a
distribuição de riqueza foi coberto pela famosa dívida soberana, mas essa forma
de fazer políticas-de-esquerda-alimentas-pelo-capitalismo-internacional chegou
ao fim com esta crise. Portugal já não pode fugir da questão: é o estado social que se deve adaptar à realidade económica do
país, e não o inverso . Na Suécia, as reformas descem
automaticamente quando o PIB desce. Mas, como se sabe, a Suécia é salazarista,
fascista, neoliberal, economicista e, quiça, inconstitucional" (texto de Henrique
Raposo, Expresso, com a devida vénia)