quinta-feira, abril 18, 2013

Opinião: "Somos "pobres", mas tínhamos o subsídio de desemprego mais "rico"



"Não é preciso tirar um mestrado medinacarreirista para perceber que a grande causa da nossa crise está no abismo entre as possibilidades económicas da sociedade e as benesses financeiras garantidas pelo Estado. A bota não bate com a perdigota. O Estado paga salários e distribui subsídios/pensões demasiado pesados para a nossa economia. A montante, produzimos riqueza como portugueses, mas a jusante queremos distribuir dinheiro como alemães. Este salto de fé insustentável era evidente, por exemplo, na atribuição do subsídio de desemprego.
Em 2009, a OCDE colocava Portugal no sexto lugar na escala de generosidade do subsídio nos cinco anos seguintes à entrada no desemprego. Repare-se no pormenor: ao nível do PIB per capita, Portugal devia ser o sexto a contar do fim, mas ao nível da distribuição social o nosso país estava no sexto lugar a contar, ora essa, do princípio. A OCDE também argumentava que Portugal tinha o subsídio de desemprego mais generoso da Europa para quem estava desempregado ao fim de dois anos: 79% de reposição de salário e uma extensão temporal que podia chegar a três anos e meio. Pior: um indivíduo podia aceder a três anos e meio de subsídio depois de trabalhar apenas ano e meio. Uma situação sem paralelo na Europa inteira (Expresso, 15 Maio 2010).
Este é um dos muitos exemplos que provam a insustentabilidade do estado social criado entre nós. Ao longo dos anos, este abismo entre a criação e a distribuição de riqueza foi coberto pela famosa dívida soberana, mas essa forma de fazer políticas-de-esquerda-alimentas-pelo-capitalismo-internacional chegou ao fim com esta crise. Portugal já não pode fugir da questão: é o estado social que se deve adaptar à realidade económica do país, e não o inverso . Na Suécia, as reformas descem automaticamente quando o PIB desce. Mas, como se sabe, a Suécia é salazarista, fascista, neoliberal, economicista e, quiça, inconstitucional" (texto de Henrique Raposo, Expresso, com a devida vénia)