segunda-feira, abril 22, 2013

Opinião pessoal: DUAS NOTAS

"I.O país poderá estar refém do que vai acontecer este mês quando forem divulgados os indicadores relativos á execução orçamental no primeiro trimestre deste ano. Isto porque se esses indicadores não corresponderem ao esperado – e há quem pense que serão graves – os portugueses correm o risco desta porcaria toda descambar rapidamente. E percebe-se porquê. Este incompetente e desastrado governo de coligação anda numa roda-viva para tapar o buraco de 1,3 mil milhões de euros, resultante do acórdão do Tribunal Constitucional. Como? Aldrabando como é seu timbre, aliás é na aldrabice que este governo de coligação desprezível comprovadamente se sente como peixe na água.
E porque falo em aldrabice? Porque é disso que estamos a falar. De uma aldrabice em torno da reposição dos subsídios aos funcionários públicos, umas roubalheira descarada aos reformados e aos pensionistas, uma aldrabice expressa também na descarada manipulação em torno das contribuições de 5% e 6% retidas desde Janeiro nos subsídios de doença e de desemprego.
Mas esta aldrabice, no que aos funcionários públicos, pensionistas e reformados diz respeito, é ainda mais vergonhosa quando se recorda ter Coelho afirmado que o governo recusava aumentar mais os impostos - as tretas e o discurso tonto do costume – mas escondendo que, ao mesmo tempo, tinha negociado secretamente com os agiotas da tróica um pacote de reduções salariais nos funcionários do Estado bem como mais uma roubalheira aos reformados e pensionistas. A ladroagem do costume, se quiserem a bandalhice que está a destruir este país e a empobrecer este povo e que é bem a imagem de marca de um poder bandalho, ladrão, mentiroso, desacreditado, ilegítimo e politicamente desonesto que ainda nos governa. Às vezes, perante a passividade e o acomodamento dos portugueses, até me apetece dizer que é bem feito tudo o que tem acontecido… Às vezes parece-me demasiado masoquismo deste povo sofredor mergulhado numa estranha autoflagelação que revela também o carácter demasiado tolerante e passivo deste povo, quiçá por estar demasiado habituado a comer e a cala.
II. Em Janeiro deste ano o dirigente do CDS, Pires de Lima, arrasou a política de comunicação deste governo: "Eu não creio que uma tão rara, ineficaz e tola forma de comunicar com os portugueses temas tão importantes seja da iniciativa e vontade do senhor primeiro-ministro. Mas o que é um facto é que ela acaba por contaminar a discussão de temas muito importantes. Por isso mesmo, é reveladora de uma deslealdade política". Em Março deste ano, segundo a imprensa portuguesa, foi a vez de a tróica insistir na mesma teoria: "O Governo está a falhar na comunicação. É preciso explicar, explicar, explicar». Segundo um especialista neste domínio, "se a comunicação política não atinge a audiência desejada, a mensagem que se pretendeu transmitir não tem qualquer relevância e, por vezes, até tem um efeito negativo. O mesmo se pode afirmar quando atinge a audiência pretendida mas a mensagem não é adequada".
Durante algum tempo pensou-se que o ex-ministro Relvas, alegadamente pelas relações que mantinha com alguma comunicação social - o que não serve para nada como se viu - se encarregaria deste domínio com eficácia e de forma eficiente. Foi o desastre que se viu, conflitos, incompetência, impreparação, amadorismo, propaganda oficialista sem convicção e sem sustentação, ausência de uma linha de actuação coerente neste domínio, etc. Nesta mudança de Relvas, é promovido Marques Guedes - de quem tenho boa impressão, até pela postura passada - e entra o novo ministro Maduro que alegadamente ficará responsável pelo sector da comunicação no governo. Sem experiência conhecida neste domínio, e certamente sem a presunção de julgar que o facto de ter sido entrevistado pelas televisões não sei quantas vezes nos últimos anos, isso funciona como currículo suficiente para a garantia de sucesso. Das duas, uma: ou o ministro Maduro consegue uma boa equipa de profissionais, deixando de contratar ressabiados, "yuppies" ou "dondocas" mais interessadas no cabeleireiro do que na eficácia e difusão da comunicação política do governo, ou temo que se afunda prematuramente, abrindo mais cedo do que se pensa um problema acrescido a um governo de coligação com um tremendo défice de credibilidade, respeitabilidade, apoio e imagem pública.
O problema, e a causa de alguma desconfiança neste domínio, resulta da constatação de que a primeira conferência de imprensa, na semana passada, com estes dois novos ministros - depois de um conselho de ministros de 11 ou 12 horas para discutir os cortes da despesa pública capazes de compensar o buraco orçamental aberto pelo acórdão do Tribunal Constitucional, revelou-se um episódio absolutamente dispensável e desastrado. Nunca vi semelhante aborto comunicacional. Teria valido mais que tivessem ficado calados e que se limitassem a elaborar um comunicado e o disponibilizassem no site institucional do governo. Se sabiam que não tinham nada para dizer, se sabiam que não dariam nenhuma novidade aos jornalistas e aos portugueses sobre as decisões analisadas ou as medidas aprovadas, supostamente porque faltava a concertação social e os contactos com o PS, se sabiam que as decisões de fundo e aquelas que mais afectarão os portugueses, não seriam clarificadas naquele momento, por que razão aceitaram que fosse cometido aquele erro desastroso, em termos de comunicação política eficaz, de participarem numa conferência de imprensa, com três ministros e um secretário de estado e todo um ambiente a rodear este encontro que rapidamente descambou e saiu frustrado. Pior do que isso foi o gozo que prontamente se gerou à volta deste descalabro comunicacional, sobretudo nas televisões com conhecidas personalidades da política nacional a reconhecerem que não perceberam nada do que foi dito. Até a questão dos subsídios acabou por colocar a ridículo os ministros, particularmente quando confrontados pelos jornalistas com pedidos de explicação mais pormenorizada sobre os procedimentos a adoptar. Deprimente, absolutamente desastroso.
Espero sinceramente que esta situação não se repita e que passe a haver mais cuidado na gestão da comunicação política que, ao contrário do que pensam os políticos e governantes, é casa vez um dos domínios mais importantes na acção governativa de um executivo, quer pelos efeitos positivos que daí resultam, quer pelo impacto negativo que pode advir no caso de uma ineficácia facilmente constatável. Comunicação política, sobretudo em tempos de crise e de depressão social, nada tem a ver com propaganda. Há que ter presente que nestas conjunturas de incerteza, de frustração, de contestação social, de depressão económica e de austeridade criminosa que empobrece um país e um povo, a propaganda pouca diferença faz de um rolo de papel higiénico. Qualquer comunicação política, neste contexto, tem a ver com duas vertentes essenciais: verdade e informação com verdade e de forma esclarecedora. Transmitida com clarividência e com competência e credibilidade" (fonte: JM)