"I.O país poderá estar refém do que vai acontecer este mês
quando forem divulgados os indicadores relativos á execução orçamental no
primeiro trimestre deste ano. Isto porque se esses indicadores não
corresponderem ao esperado – e há quem pense que serão graves – os portugueses
correm o risco desta porcaria toda descambar rapidamente. E percebe-se porquê. Este incompetente e desastrado governo de coligação anda
numa roda-viva para tapar o buraco de 1,3 mil milhões de euros, resultante do
acórdão do Tribunal Constitucional. Como? Aldrabando como é seu timbre, aliás é na aldrabice que este
governo de coligação desprezível comprovadamente se sente como peixe na água.
E porque falo em aldrabice?
Porque é disso que estamos a falar. De uma aldrabice em torno da reposição dos
subsídios aos funcionários públicos, umas roubalheira descarada aos reformados
e aos pensionistas, uma aldrabice expressa também na descarada manipulação em
torno das contribuições de 5% e 6% retidas
desde Janeiro nos subsídios de doença e de desemprego.
Mas esta aldrabice, no que aos
funcionários públicos, pensionistas e reformados diz respeito, é ainda mais vergonhosa
quando se recorda ter Coelho afirmado que o governo recusava aumentar mais os
impostos - as tretas e o discurso tonto do costume – mas escondendo que, ao
mesmo tempo, tinha negociado secretamente com os agiotas da tróica um pacote de
reduções salariais nos funcionários do Estado bem como mais uma roubalheira aos
reformados e pensionistas. A ladroagem do costume, se quiserem a bandalhice que
está a destruir este país e a empobrecer este povo e que é bem a imagem de
marca de um poder bandalho, ladrão, mentiroso, desacreditado, ilegítimo e
politicamente desonesto que ainda nos governa. Às vezes, perante a passividade e o acomodamento dos
portugueses, até me apetece dizer que é bem feito tudo o que tem acontecido… Às
vezes parece-me demasiado masoquismo
deste povo sofredor mergulhado numa estranha autoflagelação que revela também o
carácter demasiado tolerante e passivo deste povo, quiçá por estar demasiado
habituado a comer e a cala.
II. Em Janeiro deste ano o dirigente do CDS, Pires de Lima, arrasou a
política de comunicação deste governo: "Eu não
creio que uma tão rara, ineficaz e tola forma de comunicar com os portugueses
temas tão importantes seja da iniciativa e vontade do senhor primeiro-ministro.
Mas o que é um facto é que ela acaba por contaminar a discussão de temas muito
importantes. Por isso mesmo, é reveladora de uma deslealdade política". Em Março deste ano, segundo a imprensa portuguesa,
foi a vez de a tróica insistir na mesma teoria: "O Governo está a falhar na comunicação. É preciso
explicar, explicar, explicar». Segundo um especialista neste domínio, "se a comunicação política não atinge a audiência desejada,
a mensagem que se pretendeu transmitir não tem qualquer relevância e, por
vezes, até tem um efeito negativo. O mesmo se pode afirmar quando atinge a
audiência pretendida mas a mensagem não é adequada".
Durante
algum tempo pensou-se que o ex-ministro Relvas, alegadamente pelas relações que
mantinha com alguma comunicação social - o que não serve para nada como se viu
- se encarregaria deste domínio com eficácia e de forma eficiente. Foi o
desastre que se viu, conflitos, incompetência, impreparação, amadorismo,
propaganda oficialista sem convicção e sem sustentação, ausência de uma linha
de actuação coerente neste domínio, etc. Nesta mudança de Relvas, é promovido
Marques Guedes - de quem tenho boa impressão, até pela postura passada - e
entra o novo ministro Maduro que alegadamente ficará responsável pelo sector da
comunicação no governo. Sem experiência conhecida neste domínio, e certamente
sem a presunção de julgar que o facto de ter sido entrevistado pelas televisões
não sei quantas vezes nos últimos anos, isso funciona como currículo suficiente
para a garantia de sucesso. Das duas, uma: ou o ministro Maduro consegue uma
boa equipa de profissionais, deixando de contratar ressabiados,
"yuppies" ou "dondocas" mais interessadas no cabeleireiro
do que na eficácia e difusão da comunicação política do governo, ou temo que se
afunda prematuramente, abrindo mais cedo do que se pensa um problema acrescido
a um governo de coligação com um tremendo défice de credibilidade,
respeitabilidade, apoio e imagem pública.
O problema, e a causa de alguma
desconfiança neste domínio, resulta da constatação de que a primeira conferência de imprensa, na semana passada, com estes dois novos
ministros - depois de um conselho de ministros de 11 ou 12 horas para discutir
os cortes da despesa pública capazes de compensar o buraco orçamental aberto
pelo acórdão do Tribunal Constitucional, revelou-se um episódio absolutamente
dispensável e desastrado. Nunca vi semelhante aborto comunicacional. Teria
valido mais que tivessem ficado calados e que se limitassem a elaborar um
comunicado e o disponibilizassem no site institucional do governo. Se sabiam
que não tinham nada para dizer, se sabiam que não dariam nenhuma novidade aos
jornalistas e aos portugueses sobre as decisões analisadas ou as medidas
aprovadas, supostamente porque faltava a concertação social e os contactos com
o PS, se sabiam que as decisões de fundo e aquelas que mais afectarão os
portugueses, não seriam clarificadas naquele momento, por que razão aceitaram
que fosse cometido aquele erro desastroso, em termos de comunicação política
eficaz, de participarem numa conferência de imprensa, com três ministros e um secretário de estado e todo um ambiente a
rodear este encontro que rapidamente descambou e saiu frustrado. Pior do que isso
foi o gozo que prontamente se gerou à volta deste descalabro comunicacional,
sobretudo nas televisões com conhecidas personalidades da política nacional a
reconhecerem que não perceberam nada do que foi dito. Até a questão dos
subsídios acabou por colocar a ridículo os ministros, particularmente quando
confrontados pelos jornalistas com pedidos de explicação mais pormenorizada sobre
os procedimentos a adoptar. Deprimente, absolutamente desastroso.
Espero sinceramente que esta
situação não se repita e que passe a haver mais cuidado na gestão da
comunicação política que, ao contrário do que pensam os políticos e
governantes, é casa vez um dos domínios mais importantes na acção governativa
de um executivo, quer pelos efeitos positivos que daí resultam, quer pelo
impacto negativo que pode advir no caso de uma ineficácia facilmente
constatável. Comunicação política, sobretudo em tempos de crise e de depressão
social, nada tem a ver com propaganda. Há que ter presente que nestas
conjunturas de incerteza, de frustração, de contestação social, de depressão
económica e de austeridade criminosa que empobrece um país e um povo, a
propaganda pouca diferença faz de um rolo de papel higiénico. Qualquer comunicação
política, neste contexto, tem a ver com duas vertentes essenciais: verdade e informação com verdade e de forma esclarecedora.
Transmitida com clarividência e com competência e credibilidade" (fonte: JM)