quarta-feira, abril 17, 2013

Alemanha acabou de pagar a dívida da I Guerra Mundial em 2010

Segundo a jornalista do Jornal I, Catarina Falcão, "os juros da última parcela da dívida externa foram pagos 92 anos após o fim do conflito. Para a Alemanha, a I Guerra Mundial acabou há três anos. Em 2010, o país pagou a última parcela dos juros da dívida emitida no exterior nos anos 20 para financiar o país de modo a cumprir as obrigações estipuladas nos Tratados de Versalhes, que foram suspensas quando Hitler subiu ao poder. Os últimos 125 milhões de euros em juros sobre esta dívida foram pagos ao longo de 15 anos, desde 1995.A maior parte dos fundos desta última parcela paga em 2010 foi canalizada para investidores individuais, fundos de pensões e empresas que ainda detinham este tipo de dívida emitida entre 1924 e 1930, a grande maioria de nacionalidade norte-americana e francesa. A Alemanha retomou os pagamentos da sua dívida externa emitida nos anos 20 após a reunificação das duas Alemanhas em 1990 - sendo que em 1980 a maior parte das reparações da I Guerra já tinham sido saldadas pela República Federal da Alemanha -, depois dos juros terem sido ajustados várias vezes durante o século XX e no princípio do séc. XXI. Depois de ter ficado acordado nos Tratados de Versalhes, que assinalaram formalmente o fim da I Grande Guerra e o armistício entre as várias partes, que a Alemanha ficava obrigada a pagar cerca de 266 mil milhões de marcos de ouro, a moeda alemã na altura (cerca de 600 mil milhões de euros) aos países da Tríplice Entente - Reino Unido, França, Império Russo e restantes países ocupados - por “culpa de guerra”, o país, que também estava destruído pela guerra e tinha perdido milhões de vida, viu-se a braços com uma enorme dívida.
Um acordo pouco pacífico
Apesar dos governantes alemães terem hesitado em assinar um acordo que seria lesivo para o futuro do país, os Aliados forçaram o consentimento alemão ao apresentarem um ultimato: ou a Alemanha cedia, ou a guerra continuaria dentro do seu território. Nessa altura, Jan Christiaan Smuts, que seria presidente da África do Sul, foi o único líder aliado que formalmente protestou contra as condições inscritas no Tratado, alegando que prejudicariam de forma irrevogável a retoma do sector industrial em toda a Europa. Também o economista John Maynard Keynes, que participou como representante do Tesouro britânico nas negociações em Versalhes, acabaria por abandonar a conferência, considerando que as pesadas coimas aplicadas à Alemanha acabariam por se tornar insuportáveis. Ainda apresentou um plano próprio ao presidente Wilson que consistia em financiar numa primeira fase a recuperação alemã, mas o documento foi rejeitado pelo então presidente norte-americano, com receio de lhe faltar apoio para tais medidas no Congresso. Keynes escreveria no final de 1919 o livro “As consequências económicas da Paz” onde mostrava preocupação pela próxima geração de europeus que viveria “empobrecida” e seria alimentada pelo “desejo de vingança”. O livro foi amplamente lido, embora a sua visão profética não tenha suscitado qualquer alteração da orientação internacional junto dos líderes de então. A Alemanha começou a falhar pagamentos logo em 1923, o que levou à ocupação de território alemão por parte da França e da Bélgica.
Ao mesmo tempo, as piores previsões de Keynes tornavam--se realidade e as gerações que tinham combatido na I Guerra Mundial e as que pagavam a pesada factura do conflito começaram a extremar posições, levando a que nesse mesmo ano, um grupo de jovens do partido nazi, liderados por Adolf Hitler, tentasse derrubar o governo alemão e tomar o poder. Hitler foi preso, mas muitos alemães, ressentidos com as suas condições de vida, identificaram-se com o seu discurso. Mais tarde, em 1929, a dívida foi reduzida para metade, mas nessa altura, a inflação na Alemanha - devido à impressão massiva de dinheiro para pagar as primeiras prestações das reparações aos Aliados - era tão grande que eram necessário vários milhares de marcos para comprar um pão. Todos os pagamentos foram suspensos quando Hitler subiu ao poder, atrasando o pagamento das reparações que continuou após o fim da Segunda Guerra Mundial".