segunda-feira, setembro 17, 2012

Woodward conta os bastidores do impasse da dívida dos EUA de 2011

Li no Publico, num texto da jornalista Clara Barata, que “há alguém que não responda a um telefonema (um, não: quatro) do Presidente dos Estados Unidos? Há. Foi isso que fez no Verão passado o líder republicano da Câmara dos Representantes, John Boehner, quando os EUA estiveram à beira de ter de encerrar os serviços federais porque os políticos não chegavam a acordo para aumentar os limites do endividamento federal. Esta é apenas uma das revelações do novo livro do jornalista Bob Woodward, que sai a 11 de Setembro, e que não deixa bem vistos nem o Presidente Barack Obama nem os líderes do Congresso norte-americano. Nos EUA, está estabelecido um limite na lei federal para o endividamento do país. Em 2001, era de 14,3 biliões (milhões de milhões) de dólares e o Departamento do Tesouro anunciou que tinha sido atingido em Maio. A novidade não foi isto ter acontecido: é frequente, e o que está estabelecido é que os dois partidos representados no Congresso têm de chegar a acordo para autorizar o Governo a ultrapassar o limite de endividamento. A novidade foi que republicanos e democratas não conseguiam chegar a acordo. Obama pressionava para aumentar as receitas, John Boehner para aumentar os cortes. E havia um prazo-limite, a partir do qual começariam a encerrar serviços federais, por falta de dinheiro: 2 de Agosto. O impasse levou algumas agências de notação a tirarem a nota máxima AAA aos EUA. Em The Price of Politics, Bob Woodward defende que a situação chegou a este ponto devido à arrogância do Presidente Obama, que alienou adversários, e à discórdia entre os líderes republicanos - Boehner conduziu negociações com o Presidente às escondidas de Eric Cantor, o líder do grupo parlamentar republicano na Câmara dos Representantes. Uma série de maus cálculos políticos levaram o país até à beira do precipício, defende Woodward, e o acordo obtido mesmo no limite poderá voltar a caducar em finais de Dezembro. "Nenhum [líder] foi capaz de ultrapassar as suas convições sectárias. Em vez de resolverem o problema, adiaram-no", escreve o veterano investigador do caso Watergate. Este é 17.º livro de Woodward, com os ingredientes habituais das suas obras, em que faz história quase imediata da governação dos EUA. Assim, fala-nos de um Obama que no início da sua presidência usava frequentemente a frase "estou disposto a ser um Presidente de um só mandato por causa disto". E de como Obama achava que tinha percebido muito bem Boehner, apesar de os seus conselheiros o avisarem de que ele não era assim tão simples: "Ele [Boehner] é um republicano que joga golfe, fuma cigarros e frequenta country-clubs, que está aqui para fazer acordos. É de um tipo que me é muito familiar". Diga-se que Boehner lhe pagava na mesma moeda. O líder da Câmara dos Representantes conta a Woodwad que percebeu aquilo que o separava de Obama no primeiro encontro secreto que teve na Casa Branca para discutir o impasse: "Ali estava eu a fumar um cigarro, a beber um vinho merlot, e do outro lado da mesa está o Presidente dos EUA a beber chá gelado e a mastigar pastilhas Nicorette [para deixar de fumar]".

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