domingo, maio 06, 2007

Eleições na imprensa nacional II

Eleições na Madeira: a última vez... outra vez

Alberto João Jardim não esconde que, ao longo de 30 anos, o seu livro predilecto continua a ser A Arte da Guerra, de Sun Tzu, escrito no século IV a.C. Por mais de uma vez, assistimos a referências e recomendações de leitura por parte do líder madeirense como sendo a grande obra que tudo explica em termos de combate racional. Quando, a 19 de Fevereiro, Jardim anunciou a sua decisão de se demitir do Governo e provocar eleições antecipadas estaria a colocar na prática um dos princípios enunciados pelo tratado: "Conhece-te a ti próprio e ao teu adversário e em cem batalhas vencerás cem; se te conheceres mas não conheceres o teu adversário, em cem batalhas vencerás cinquenta; se não te conheceres nem conheceres o teu adversário, em cem batalhas não vencerás nem uma." Alberto João Jardim não sabe o que é perder. Uma análise de risco, com matriz sustentada num facto calendarizado, ou seja, mais um ano e meio de mandato, ter-lhe-á dado resultados pouco satisfatórios. Primeiro, o desgaste normal de três décadas de governação, a crise económica e financeira em franca ascensão, a perda de fundos comunitários, o fim de um ciclo de obras públicas, o aumento do desemprego, os efeitos secundários de um caciquismo primário, o futuro de um partido que vive, há décadas, na angústia da sucessão - numa máquina cada vez mais enredada nos interesses públicos e privados e que só não se divide porque Jardim mantém as forças telúricas controladas. Por isso, Jardim candidata-se e recandidata-se. Desde 1984 que diz ser esta "a última vez". Chegou a fazer viagens de despedida pelas comunidades madeirenses, mas depois fica. Porque tem de ficar. Criou o seu próprio Tarrafal.
Arrastar a situação por muito mais tempo seria penoso e daria espaço ao PS para reorganizar as hostes e apresentar-se em 2008 como a força alternativa a um PSD onde as ameaças contavam mais do que as oportunidades. Jardim antecipou-se. Quando José Sócrates disse "basta" - referindo-se à despesa pública da Madeira -Jardim percebeu que a situação mudara. Afinal, sempre fora ele que gritara ordens a Lisboa. Cavaco Silva bem tentou, mas Jardim respondeu-lhe abrindo-lhe o dossier do contencioso. A obra feita, bem ou mal, foi calando vozes. António Guterres foi o seu melhor ouvinte. Durão Barroso e Santana Lopes não contam para a história. O salto dá-se com José Sócrates em São Bento. A Lei de Finanças das Regiões Autónomas foi a cereja no topo do bolo: Jardim vitimizou-se e colocou-se, de novo, nas mãos do povo, levando os partidos da oposição atrás de si, menos o PS/M que, nesta matéria, meteu os pés pelas mãos. Apesar de saber que estas eleições são inconsequentes na relação financeira com o Estado, Jardim aproveitou a ocasião para legitimar a sua contestação, aproveitar a nova lei eleitoral, que reduz o número de deputados de 68 para 47, e fazer uma limpeza no grupo parlamentar do PSD. Ganhando as eleições, refaz orçamentos, emagrece a estrutura das secretarias regionais, reduz gastos na função pública, ganhando, ainda, mais dois anos, para preparar, finalmente, a sua sucessão, atirando as próximas legislativas para as calendas de 2011. Mas, do outro lado, Jardim terá um PS liderado por Jacinto Serrão, que obteve nas últimas eleições um bom resultado. O candidato socialista até disse então que o PS ganharia as eleições em 2008. O ano saiu errado. O resultado ver-se-á hoje
Cadernos eleitorais estão inflacionados
Há 231 431 eleitores recenseados na Madeira (dados do STAPE) para uma população residente de 245 197 habitantes (estatísticas demográficas de 2005 da Direcção Regional de Estatística da Madeira). O censos de 2001 dá 46 900 residentes com idade inferior a 18 anos, ou seja, sem direito a voto. Uma estimativa, feita pelo DN, aponta para uma inflação dos cadernos eleitorais na ordem dos 14%. Amanhã, são sete os partidos que concorrem às eleições (PSD, PS, CDS, CDU, BE, MPT e PND). Com a nova Lei Eleitoral, a Assembleia Legislativa da Madeira passa a ser composta por 47 deputados (o que significa uma redução de 19 deputados), de harmonia com o princípio da representação proporcional e por um único círculo eleitoral e que corresponde a um só colégio eleitoral. Ontem, o Funchal amanheceu completamente limpo do material de propaganda eleitoral que foi afixado nos últimos dois meses, tendo os serviços do município funchalense recolhido durante a noite cerca de 3800 quilos de material da campanha. O valor foi avançado à agência Lusa pelo responsável pelo departamento de Ambiente da Câmara do Funchal, Costa Neves, que realçou o facto de ter diminuído o material recolhido pelos funcionários camarários em comparação com actos eleitorais anteriores. Apontou que, na última campanha, em 2004, a autarquia retirou cerca de 15 toneladas enquanto nas autárquicas de 2005 retirou 12,5 toneladas. "Verificou-se um decréscimo muito grande, pois os partidos optaram por recolher os próprios materiais reutilizáveis, o que deu uma grande ajuda e contribuiu para esta redução", explicou. A câmara "acabou por desmobilizar metade do pessoal que estava escalonado para o trabalho
Fonte: LÍLIA BERNARDES e ANDRÉ CARRILHO (imagem), DN de Lisboa

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