Marques Mendes parte em quarto, mas a luta pelo segundo lugar será a três. Almirante capta um terço dos eleitores do PSD e do PS, mas não deve escapar da segunda volta. Entre Seguro e Vitorino, venha Pedro Nuno e escolha. Eis os dados da sondagem Expresso/SIC para as presidenciais de janeiro de 2026. Henrique Gouveia e Melo é o claro favorito e André Ventura está a disputar, taco a taco, um lugar na mais que provável segunda volta das eleições presidenciais de janeiro de 2026. É este o cenário que salta à vista na sondagem do ICS/ISCTE, feita para o Expresso e a SIC a um ano da ida às urnas e tendo por base 805 entrevistas presenciais válidas. Nesta fotografia, Luís Marques Mendes parte para a corrida em quarto lugar, três pontos atrás do líder do Chega e um ou dois pontos atrás de, respetivamente, António José Seguro e António Vitorino — que foram testados à vez e que mostraram níveis de acolhimento muito semelhantes. Ainda assim, todos eles aparecem muito abaixo de Gouveia e Melo e potencialmente empatados, tendo em conta a margem de erro.
Com 15% dos inquiridos a dizerem ainda não saber em quem votar, Gouveia e Melo segue destacado na frente com 25% das intenções de voto, o que, mesmo com uma margem de erro de 3,5%, não chega — em nenhum cenário — para vencer à primeira volta. Bastante abaixo, e com percentagens semelhantes entre si, surge André Ventura com 16% das intenções de voto, António José Seguro com 15%, que passa a 14% quando o nome testado é António Vitorino, e Marques Mendes com 13%. O exercício foi feito apenas com os nomes dos candidatos, ou protocandidatos, que já são dados como praticamente certos, assumindo-se ainda assim a hipótese de haver candidatos apoiados por cada um dos restantes partidos (BE, IL, PCP, CDS e PAN), sem os nomear. As percentagens obtidas por estas candidaturas, contudo, não são significativas.
Se tivesse de escolher entre estes candidatos, como votaria?
Apesar de estarem a par e passo, André Ventura encabeça a corrida por um lugar na segunda volta, tendo um ponto a seu favor e outro contra. A favor o facto de ter um eleitorado muito fiel, onde todos terão dificuldade em entrar — os seus 16% são idênticos à intenção de voto no Chega e também os mesmos que assumem que ele faria melhor em Belém do que Marcelo. Por outro lado, André Ventura já é sobejamente conhecido (só 1% não o reconhece) e tem uma taxa de rejeição muito alta — 57% assumem que “faria pior” papel do que Marcelo como Presidente, mais do dobro dos valores registados por Mendes, Seguro ou Vitorino (18% a 19%). De resto, o líder do Chega tem os piores resultados face aos restantes candidatos conhecidos entre os eleitores mais idosos (só 9%) e com maior grau académico (10%) e, claro, entre os eleitores de esquerda (2%). Os seus melhores resultados são entre adultos dos 25 aos 44 anos (24%, acima de todos os restantes candidatos), estando a par de Gouveia e Melo entre os preferidos dos jovens (17%). Apesar de entrar ligeiramente nos eleitores ao centro (13%), apenas cativa 10% dos que dizem não ter simpatias partidárias.
Mendes com espaço, socialistas mais desconhecidos
Mendes, Seguro ou Vitorino, assim, parecem ter mais margem de crescimento potencial — não só porque ainda se podem dar a conhecer aos eleitores, sobretudo os socialistas (15% não os conhecem, face aos 6% de Mendes), como porque têm menos anticorpos. Dos quatro, Marques Mendes é o que tem uma avaliação tendencialmente mais positiva: 15% acreditam que faria melhor do que Marcelo e 36% acreditam que “não faria melhor nem pior” do que o atual inquilino de Belém. Uma vez mais, Seguro e Vitorino aparecem idênticos nesta avaliação qualitativa: entre quem acredita que “faria melhor” ou quem diz que “nem melhor nem pior”, António José Seguro e António Vitorino somam 41% e 39%, respetivamente — abaixo dos 51% de Mendes.
Posicionamento ideológico dos potenciais candidatos
Uma análise mais fina dos números da sondagem mostra como o eleitor de Gouveia e Melo é bastante homogéneo: é mais escolhido por homens, mas pouco, preferido por idosos, sem fazer má figura entre os jovens, sendo exatamente proporcional nos diferentes graus de escolaridade, rendimento e ideologia. É de longe o mais forte entre os eleitores sem preferência partidária, que são de resto a fatia ainda mais indecisa. O almirante apanha também perto de um terço dos eleitores do PSD e do PS (35% e 30%) — sendo apenas mais fraco entre os simpatizantes do Chega (12%). Dito de outra forma, o eleitorado do Chega cerra mais fileiras à volta de Ventura (85%) do que os eleitores do PSD à volta de Marques Mendes (48%) ou os do PS em torno quer de Seguro quer de Vitorino (45%). Já quando confrontados com quatro diferentes cenários de segunda volta das eleições, Gouveia e Melo parte para as presidenciais sempre na frente. Mas ganha com maior margem se o outro candidato for Ventura e com uma margem mais estreita se o outro candidato for Marques Mendes. Ou seja, conseguindo passar a barreira da primeira volta, o ainda comentador da SIC é o que aparece em melhores condições de fazer melhor figura, com 20% das intenções de voto contra 16% dos restantes. Mas, para isso, é preciso ser o segundo mais votado na primeira volta das eleições.
O que escolhem os vários tipos de eleitores
Os mais jovens (18-24 anos) preferem Ventura e Gouveia e Melo em igual proporção, mas a grande base de apoio do almirante são os idosos e os adultos. A base de apoio de Ventura é maior nos jovens adultos e quase inexistente nos idosos. Tenham baixa escolaridade ou alta escolaridade, todos preferem Gouveia e Melo aos restantes candidatos que se avistam na corrida. Marques Mendes safa-se melhor junto dos que têm ensino superior. Ventura brilha mais nos que têm ensino secundário. E os candidatos do PS encontram mais apoio entre os que têm apenas o terceiro ciclo. Não há diferenças significativas entre o eleitorado que assume viver com dificuldades e o que assume viver confortavelmente: Gouveia e Melo é o preferido em ambos os sectores e Marques Mendes é o que tem pior score junto dos que vivem com dificuldades.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 9 e 20 de janeiro de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (7 regiões NUTS II) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 89 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida através de simulação de voto em urna. Foram contactados 3039 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 805 entrevistas válidas (taxa de resposta de 26%, taxa de cooperação de 36%). O trabalho de campo foi realizado por 38 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 11). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 805 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas Rita Dinis e Jaime Figueiredo)
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