domingo, janeiro 12, 2025

Sondagem: Almirante Gouveia e Melo de vento em popa para Belém


Henrique Gouveia e Melo é nesta altura o grande favorito na corrida a Belém. Quando falta cerca de um ano para as eleições presidenciais, o almirante é a personalidade com maior potencial de voto (57%) e menor taxa de rejeição (39%) e é apontado como o candidato que PS (43%) e PSD (48%) deveriam apoiar, de acordo com o barómetro da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN. Mais ainda, sai vencedor em todos os cenários de segunda volta em que o seu nome é incluído, com uma vantagem que supera a margem de erro da sondagem (mais ou menos 5%), ultrapassando adversários como Mário Centeno, Pedro Passos Coelho, Luís Marques Mendes, António Vitorino ou António José Seguro. Quando ainda não há candidaturas formalizadas para as presidenciais de 2026, e com uma extensa lista de eventuais concorrentes, todos os inquiridos do barómetro (uma amostra de 400 pessoas) foram questionados sobre a possibilidade de votarem em cada um dos 19 nomes selecionados: se votariam de certeza (firmeza de voto), se talvez votassem (somada à primeira parcela, permite avaliar o potencial de voto), ou se jamais votariam (taxa de rejeição). O resultado é lisonjeiro para o ex-chefe do Estado-maior da Armada: ficou no topo da lista, com um potencial de voto de 57%, à frente de figuras como António Guterres (54%), António Costa (40%) e Durão Barroso (34%), que somam uma longa atividade política e cargos de grande relevância internacional, e cuja probabilidade de entrarem na corrida para suceder a Marcelo Rebelo de Sousa é praticamente nula.

Empate entre Centeno, Passos e Mendes

Acresce que o almirante também deixou para trás concorrentes mais prováveis, à esquerda e à direita, e em particular o trio que se apresenta como mais competitivo: Mário Centeno, o ex-ministro das Finanças do PS e atual governador do Banco de Portugal, com um potencial de voto de 43% e uma taxa de rejeição de 54%; Pedro Passos Coelho, o ex-primeiro-ministro do PSD, hoje retirado da política ativa, com um potencial de 41% e uma rejeição de 57%; e Marques Mendes, ex-ministro e ex-líder social-democrata e agora comentador com larga audiência televisiva, com um potencial de 40% e uma rejeição de 58%.

Mais do que no resultado global, em que se verifica um empate técnico entre Centeno, Passos e Mendes, é na análise dos diferentes segmentos (género, idade, geografia e classe social) que se percebem as maiores diferenças. A exemplo do almirante, o socialista revela um relativo equilíbrio, ainda que o seu potencial de voto aumente com a idade do eleitor e seja mais destacado entre os residentes da Região de Lisboa. No caso de Passos Coelho, as clivagens são mais pronunciadas, tem um problema com os mais velhos (55 ou mais anos) e um apoio mais pronunciado entre os homens do que entre as mulheres. Uma espécie de espelho com o comentador da SIC, cujo apelo se fica a dever às mulheres, seja na firmeza, seja no potencial de voto. Mendes revela, no entanto, a mesma fragilidade entre os mais velhos.

Vários degraus mais abaixo surgem outros dois nomes socialistas que estarão na lista mais restrita de Pedro Nuno Santos: António Vitorino, ex-ministro e ex-comissário europeu, com um potencial de voto de apenas 33% e uma taxa de rejeição de 60%; e António José Seguro, ex-secretário-geral do PS (desalojado do cargo por António Costa, um ano antes de este chegar a primeiro-ministro), com um potencial de 30% e uma rejeição de 63%. Ou seja, dois terços dos portugueses afirmam que jamais dariam o seu voto a Seguro, que, a exemplo de Passos Coelho, tem uma base de apoio masculina. Já para o resultado de Vitorino destaca-se a contribuição dos que têm maiores rendimentos.

Portas é o melhor entre os pequenos

De fora do âmbito dos dois principais partidos, a personagem com melhor cotação é Paulo Portas, ex-líder do CDS/PP e ex-ministro no Governo de Passos Coelho, também ele com lugar cativo de comentador televisivo em horário nobre (aos domingos, na TVI), e com um potencial de voto de 31%, mas uma taxa de rejeição de 67%. Logo a seguir surge o eurodeputado liberal João Cotrim de Figueiredo, com 30% de potencial e 60% de rejeição. É pouco provável que abandone Bruxelas, mas se a opção da Iniciativa Liberal recair, por exemplo, em Rodrigo Saraiva, o cenário pode ser bastante amargo: destaca-se pelos 31% que, ou não o conhecem, ou não são capazes de o avaliar.

Mais para a esquerda, o cenário é ainda mais agreste: o melhor é Francisco Louçã, fundador e antigo líder do Bloco de Esquerda, com um potencial de 26% e uma rejeição de 71%. Relativamente ao tradicional candidato comunista, as expectativas não são as melhores. Na ausência de outra indicação, o barómetro testou Jerónimo de Sousa, o ex-secretário-geral, e o que se destaca são os 84% que o rejeitam, o valor mais elevado entre as 19 personalidades incluídas na lista.

Mal posicionado está igualmente o único candidato de um partido com representação parlamentar que já anunciou a entrada na corrida (embora já depois do trabalho de campo, que decorreu entre 28 de dezembro e 5 de janeiro): André Ventura até tem uma firmeza de voto de 11%, mas fica-se pelos 19% de potencial. E há 80% que dizem que jamais votariam no líder do Chega, com destaque para os mais velhos (55 ou mais anos), os que residem em Lisboa e os que votaram na AD e no PS nas últimas legislativas.

Almirante devia ter apoio de PSD e PS

“Sou do centro pragmático”. A frase é de Gouveia e Melo e foi dita em entrevista ao jornal Expresso, há três anos, pouco antes de assumir a chefia da Armada, quando lhe foi perguntado sobre o seu posicionamento político. E talvez isso ajude a explicar a facilidade com que recolhe apoios entre os eleitorados da AD e do PS: entre os do partido de centro-direita o seu potencial de voto (os que votariam de certeza e os que talvez votassem) chega aos 65%, entre os do partido de centro-esquerda chega aos 55%. Mas o almirante também goza de uma boa imagem entre os eleitores do Chega: são tantos os que mostram disponibilidade para o eleger presidente da República (64%) como os que admitem votar em André Ventura (65%). Esse auto designado centrismo ajudará também a perceber o resultado de outras perguntas do barómetro da Pitagórica para o JN. Quando se pretende saber qual o candidato que PS e PSD devem apoiar na corrida à Presidência da República (cada inquirido teve a possibilidade de indicar dois nomes), o almirante lidera ambas as tabelas, ainda que o resultado seja melhor para uma candidatura social-democrata (48%) do que para liderar os socialistas (43%).

No caso do candidato que o PS deve apoiar, Gouveia e Melo só não é mais “votado” entre os mais ricos, que escolhem António Guterres. No caso do candidato que o PSD deve apoiar, o almirante só perde para Passos entre os homens, os que têm até 54 anos e os que têm melhores rendimentos. O resultado é diferente, no entanto, quando se isolam as escolhas dentro de cada segmento de voto partidário.

Passos, o desejado; Centeno, o possível

Entre os eleitores da AD (PSD e CDS) nas últimas legislativas, o candidato preferido é Pedro Passos Coelho (57%). O ex-primeiro-ministro (governou durante o período de intervenção da troika) deixa o mais provável candidato social-democrata Marques Mendes a 19 pontos de distância (38%). Bastante mais abaixo na escala estão Rui Rio (23%), Aguiar Branco (13%) ou Pedro Santana Lopes (13%). Acresce que também os eleitores da Iniciativa Liberal consideram que a melhor aposta do PSD seria em Passos. Para os eleitores do PS o melhor candidato seria António Costa (41%). Mas, excluída que está essa possibilidade (iniciou, em dezembro passado, o mandato de presidente do Conselho Europeu), é o também pragmático Mário Centeno que verdadeiramente lidera, com 37%, ainda que com escassa vantagem de três pontos sobre Gouveia e Melo (34%). Bem mais para baixo nas preferências dos socialistas ficam outros dois nomes que têm estado na berlinda nos últimos dias: Vitorino e Seguro recolhem ambos 19% de referências.

Liderança forte e integridade contam mais

Tendo em conta o seu passado militar e a atitude marcial à frente da “task force” da vacinação contra a Covid, que o projetou para a fama, Gouveia e Melo parece encaixar no perfil privilegiado pelos portugueses: uma “liderança forte” é a característica mais importante para um presidente da República, segundo 42%. É assim em todos os segmentos significativos da amostra (por género, idade, classe social, região e voto partidário), com destaque para os mais jovens, a classe média e, sem surpresa, os eleitores do Chega.

Mas há outros traços que os portugueses valorizam na corrida a Belém (cada inquirido podia indicar até três características): a integridade e ética foi escolhida por 31% (e é mais importante para as mulheres, os que têm 55 ou mais anos e os eleitores da AD), a mesma percentagem que escolheu a capacidade de tomar decisões difíceis (com destaque para quem vive a Sul). Segue-se, com 28%, a capacidade de comunicação (classe média e liberais), e a experiência política, com 27%. A capacidade de unir diferentes grupos é importante para 25% dos inquiridos (com destaque para os que têm melhores rendimentos e para quem vota à Esquerda do PS). Curiosamente, entre as características menos valorizadas num futuro presidente está o conhecimento em questões de defesa (apenas 4% de referências). Outros temas fora das preocupações, no que às presidenciais diz respeito, e apesar da sua relevância no espaço público e mediático, são o ambiente (5%) ou o conhecimento das políticas de saúde (8%). A empatia e sensibilização social também são pouco valorizadas (11%).

Ficha técnica

Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF, JN e O Jogo, com o objetivo de avaliar a opinião dos Portugueses sobre temas relacionados com as eleições presidenciais e com a atualidade do país. O trabalho de campo decorreu entre os dias 28 de dezembro de 2024 e 05 de janeiro de 2025, foram recolhidas 400 entrevistas telefónicas a que corresponde uma margem de erro máxima de +/- 5,00% para um nível de confiança de 95,5%. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores portugueses recenseados e foi devidamente estratificada por género, idade e região. A Taxa de resposta foi de 65,36% e a direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto)

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