Com o Governo de Luís Montenegro a conseguir a aprovação da maioria dos portugueses (62%), a Aliança Democrática (AD) seria a principal beneficiária de uma hipotética (mas improvável) antecipação das eleições. De acordo com o barómetro da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, a intenção de voto de PSD/CDS é de 32,9%, mais quatro pontos do que nas legislativas de março do ano passado e mais seis do que tem agora o PS (26,9%). Muita parra para pouca uva, uma vez que o centro-direita continuaria minoritário no Parlamento, mesmo que acrescentasse a Iniciativa Liberal (5,7%) à coligação. Quem mais perde na comparação com o último ato eleitoral é o Chega (16,3%). O BE (4,3%) e o Livre (3,1%) ficam iguais, a CDU (4%) cresce ligeiramente e o PAN cai (1,4%).
Foi há nove meses que Luís Montenegro tomou as rédeas do poder. Findo o período de gestação, os portugueses parecem razoavelmente satisfeitos: 62% aprovam o Governo e 32% desaprovam (o saldo é positivo até entre os eleitores socialistas). Acresce que o primeiro-ministro é o político com melhor avaliação nesta primeira vaga do barómetro: 53% dão-lhe boa nota, 38% dão negativa, o que corresponde a um saldo de 15 pontos positivos, melhor do que o presidente da República (saldo positivo de dez pontos) e a anos-luz de Pedro Nuno Santos (o socialista tem um saldo negativo de 28 pontos) e André Ventura (o líder do Chega tem um saldo negativo de 43 pontos).
Bomba atómica fica suspensa
Em linha com essa popularidade, mas sem a mesma pujança nos números, a AD reforça a sua posição relativamente às últimas legislativas. Em março passado, conseguiu mais um ponto percentual (e mais dois deputados) do que o PS, agora seriam mais seis pontos. Há que ter em conta, no entanto, que a margem de erro da sondagem é de mais ou menos 5%, o que remete, na prática para um empate técnico (o melhor resultado possível para o PS, 31,3%, é superior ao pior possível para a AD, 28,2%). E há, por outro lado, 12,5% de indecisos.
Com o Orçamento do Estado aprovado para 2025, eleições autárquicas no final do verão, e, sobretudo, com as presidenciais de janeiro do próximo ano, parece quase impossível que uma crise política leve à dissolução do Parlamento e a eleições antecipadas. Marcelo não poderá usar a “bomba atómica” nos seis meses anteriores ao final do seu mandato, ou seja, a partir de setembro; e o seu sucessor, quem quer que seja (o almirante Gouveia e Melo é, nesta altura, o favorito), fica também inibido de o fazer nos primeiros seis meses, ou seja, até setembro de 2026. Mas não é objetivo do barómetro que agora se inicia, fazer uma previsão, antes medir a temperatura política.
Direita parlamentar a crescer
Um dos dados que o estudo revela é que o conjunto da Direita continua a ganhar terreno à Esquerda. Mesmo que esse crescimento não se distribua de forma equitativa. Considerado a vigência do “não é não” de Montenegro à direita radical, AD e liberais valem agora cerca de 39 pontos percentuais (34 nas legislativas), o que seria insuficiente para uma maioria absoluta.
Essa maioria só existe com a junção do Chega, garantindo ao bloco de Direita uma soma de cerca de 55 pontos percentuais (52 nas legislativas). Mas o partido de André Ventura está em perda (menos dois pontos do que nas legislativas de março do ano passado). E a parte mais significativa dessa perda de intenções de voto acontece precisamente em favor da coligação liderada por Montenegro.
Ao contrário, a bancada de Esquerda, que já é hoje minoritária na Assembleia da República, perderia um pouco de valor: considerando a soma de PS, BE, CDU, Livre e PAN, seriam agora cerca de 40 pontos percentuais (menos um do que nas legislativas), sendo certo que só os comunistas recuperam algum terreno.
Mais velhos ainda com o PS
Quando se comparam os resultados dos dois principais partidos nos diferentes segmentos da amostra (género, idade, classe social e região), percebe-se que os socialistas conseguem, ainda assim, liderar entre os eleitores mais velhos (55 e mais anos), com mais um ponto percentual que a AD, e entre os que têm menor rendimento (mais quatro pontos). Os mais generosos com a AD são os mais jovens (18 a 34 anos), em que a vantagem para o PS é de onze pontos, os que têm melhores rendimentos (mais dez pontos) e os que vivem na Região Norte (mais nove pontos).
Note-se, no entanto, que os resultados nos segmentos não incluem uma distribuição de indecisos (que se faz apenas para o resultado global) e devem ser lidos com cautela adicional, uma vez que a base é menor e as margens de erro são superiores (a amostra total é de 400 inquiridos, mas os que têm 55 ou mais anos são apenas 173, para dar um exemplo).
Desequilíbrios de género
Outros dados apontam para algum desequilíbrio de género. Enquanto os dois maiores partidos, AD e PS, são um pouco mais femininos, o Chega, a Iniciativa Liberal e a CDU têm um pendor masculino. Se tivermos em conta as classes sociais, a coligação de centro-direita vai recolhendo mais apoio à medida que aumentam os rendimentos dos eleitores (nos mais ricos são mais 14 pontos percentuais do que nos mais pobres), enquanto no Chega sucede o contrário (nos mais pobres são mais 13 pontos do que nos mais ricos).
Um das características que os partidos liderados por Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos partilham é o facto de as intenções de voto aumentarem à medida que os eleitores “envelhecem”. Mas o desequilíbrio é maior nos socialistas (há uma diferença de mais de 20 pontos nas intenções de voto entre os mais novos e os mais velhos) do que na coligação de centro-direita (oito pontos de diferença). O Chega é o espelho dessa realidade, uma vez que o máximo de apoio se concentra no grupo dos mais jovens e vai perdendo fôlego com os mais velhos. Acresce que a popularidade entre a juventude é suficiente para o partido de André Ventura conseguir o segundo lugar entre quem tem 18 a 34 anos, relegando os socialistas para o quarto lugar, uma vez que os liberais ficariam em terceiro.
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF, JN e O Jogo, com o objetivo de avaliar a opinião dos Portugueses sobre temas relacionados com as eleições presidenciais e com a atualidade do país. O trabalho de campo decorreu entre os dias 28 de dezembro de 2024 e 05 de janeiro de 2025, foram recolhidas 400 entrevistas telefónicas a que corresponde uma margem de erro máxima de +/- 5,00% para um nível de confiança de 95,5%. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores portugueses recenseados e foi devidamente estratificada por género, idade e região. A Taxa de resposta foi de 65,36% e a direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto)
Sem comentários:
Enviar um comentário