quinta-feira, janeiro 30, 2025

Sondagem: AD à frente, sem nota positiva nem a descolar do PS

Um país nem melhor, nem pior na economia e um Governo a fazer um "mau" trabalho quase na mesma proporção em que faz um "bom" trabalho, embora com menos avaliações negativas do que Costa recebia há um ano. Sondagem ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC mostra um país político que pouco mudaria se houvesse eleições hoje e um Governo que não aquece nem arrefece. O líder do principal partido da oposição já vai falando na possibilidade de haver eleições antecipadas a partir de maio do próximo ano, depois de o novo Presidente da República tomar posse com todos poderes, incluindo o de dissolução da Assembleia (“O PS tem de estar preparado”, disse Pedro Nuno Santos ao Expresso). Mas se as eleições fossem hoje, pouco ou nada mudaria no panorama nacional. Segundo a mais recente sondagem feita pelo ICS e ISCTE, com trabalho de campo da GFK Metris, para o Expresso e a SIC, PSD/CDS e PS continuariam taco a taco nas intenções de voto, com a AD na frente, mas sem descolar por aí além.

Com uma amostra de 805 entrevistas consideradas válidas, recolhidas presencialmente entre 9 e 20 de janeiro, depois da demissãodo diretor executivo do SNS, Gandra d'Almeida - mas antes da demissão do secretário de Estado da administração localou da viragem de Pedro Nuno na imigração -, 26% dos inquiridos dizem que votariam AD, enquanto 24% que votariam PS; 14% votaria no Chega e 16% diz não saber ainda em quem votaria. Feita a chamada distribuição estatística dos indecisos, as percentagens sobem, mas a tendência mantém-se: AD e PS separados por apenas 3 pontos percentuais, com 33 e 30% respetivamente (o que não é significativo, porque está dentro da margem de erro de 3,5%). O Chega ficaria com 17% e os restantes partidos apresentam intenções de voto pouco significativas (ver gráfico). Nas eleições de 10 de março de 2024, recorde-se, PS e PSD ficaram praticamente empatados com 28% dos votos e o Chega chegou aos 18%, o que lhe deu 50 deputados na Assembleia da República.

Como votaria se as eleições legislativas fossem hoje?

Resultados do total da amostra e projeção do resultado eleitoral. A projeção é calculada pela distribuição da intenção de voto após a exclusão dos inquiridos que dizem não votar (6%) e a imputação dos inquiridos indecisos (16%). A variação, em pontos percentuais, é relativa aos resultados da última sondagem (fevereiro de 2024)

Governo sem estado de graça, mas com benefício da dúvida

Nem muito boa, nem muito má: a popularidade de Luís Montenegro está neste momento num ponto médio (5,1 numa escala de 0 a 10), o que permite pelo menos concluir que a avaliação que os eleitores fazem dos primeiros meses de mandato enquanto primeiro-ministro não é má. Quase o mesmo se pode dizer da avaliação do líder da oposição, que fica apenas ligeiramente abaixo (4,7), sendo Pedro Nuno Santos naturalmente mais popular junto dos eleitores de esquerda e Montenegro mais popular à direita, anulando-se mutuamente. Já André Ventura é, sem surpresas, mais popular à direita (4,8, ainda assim abaixo dos 5,8 de Montenegro naquele eleitorado) e muito impopular à esquerda (1,7), o que lhe dá uma baixa média na avaliação global dos inquiridos.

A menos de um ano de ter tomado posse, contudo, a primeira grande sondagem feita no pós-eleições revela que o Governo não está a gozar propriamente de um período de estado de graça, com 45% dos inquiridos a dizer que o Executivo de Luís Montenegro merece avaliação negativa – 35% consideram que o governo está a fazer um trabalho “mau” e 10% “muito mau”. As avaliações negativas, contudo, não se distanciam assim tanto do somatório das avaliações positivas, com 40% a admitir que o Governo está a fazer um “bom” trabalho e 1% a achar que esse trabalho é “muito bom”.

A tendência, contudo, não é dramática para o Governo de Luís Montenegro, podendo-se concluir que, não existindo um estado de graça evidente, existe pelo menos um clima de benefício da dúvida. Se compararmos com as avaliações que o último governo de António Costa tinha no barómetro de janeiro de 2024, numa altura em que a Assembleia da República já tinha sido dissolvida e já havia eleições à vista, Luís Montenegro pode dar-se por satisfeito. Na altura, eram 69% os que avaliavam negativamente o Governo de Costa (agora são 45%); e, no mesmo sentido, se agora são 41% os que fazem uma avaliação positiva, há um ano eram apenas 26%. Boas notícias para Montenegro?

Estagnação. O país (e o bolso) está pior, ou pelo menos na mesma

Se cruzarmos a avaliação que os inquiridos fazem do trabalho do Governo com a avaliação que fazem do estado da economia e do país, as notícias não são assim tão boas para Montenegro. A economia e a perceção sobre o estado da economia nacional ainda é o calcanhar de Aquiles do Executivo. Montenegro e a sua equipa ministerial bem que se desdobraram em acudir as várias carreiras da Administração Pública assim que chegaram a São Bento, segurando professores, polícias, forças de segurança, militares, pensionistas, enfermeiros e médicos, mas não é isso que se reflete nesta sondagem do ICS/ISCTE. Questionados sobre se a situação da economia melhorou ou piorou no último ano, apenas 12% dizem ter melhorado, com 44% a dizer que “piorou” ou “piorou muito”, e com a maior parcela dos inquiridos a inclinar-se para um 'nim' - nem melhorou nem piorou -, com 43% dos eleitores desta amostra a não notarem mudanças significativas de um governo para o outro. De abril para cá, são menos os que dizem que a economia melhorou; são um pouco mais os que dizem que piorou e são cada vez mais os que dizem que ficou na mesma. Perceção de estagnação na economia e tudo mais ou menos na mesma na política, eis o retrato ao fim dos primeiros nove meses de Governo da AD.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 9 e 20 de janeiro de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (7 Regiões NUTS II) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 89 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida através de simulação de voto em urna. Foram contactados 3039 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 805 entrevistas válidas (taxa de resposta de 26%, taxa de cooperação de 36%). O trabalho de campo foi realizado por 38 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 11). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 805 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto das jornalistas Rita Dinis e Sofia Miguel Rosa)

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