Se as eleições europeias fossem hoje, o PS venceria a
Aliança Democrática (AD) com 6 pontos percentuais (p.p.) de vantagem — 32%
contra 26%, quando é feita a distribuição de indecisos. Em valores percentuais,
os socialistas crescem face às legislativas de março passado, enquanto a
coligação do PSD com o CDS e o PPM desce. O Chega mantém-se nos 18%. E segue-se
um despique muito cerrado, que envolve o BE (5%), a IL e a CDU (ambos com 4%) e
depois o Livre e o PAN (2% cada). Ao ADN, que tem uma lista encabeçada pela
ex-deputada bloquista Joana Amaral Dias, é atribuída uma intenção de voto de
1%.
Estes são os principais resultados da sondagem ICS/ISCTE feita para o Expresso e para a SIC, cujo trabalho de campo foi efetuado entre os dias 27 de abril e 8 deste mês, tendo sido obtidas 1001 respostas válidas (28% dos 3561 lares elegíveis contactados). Na distribuição de mandatos, oito são para o PS (menos um do que atualmente), a AD ficaria com seis (o número de eleitos agora do PSD), o Chega teria quatro, o BE e a CDU passariam para um cada (agora têm dois) e a IL conseguiria eleger Cotrim de Figueiredo. O PAN perderia o seu eleito e o Livre não lograria chegar a Bruxelas.
Os resultados mostram a possibilidade de se estar a
desfazer, com vantagem para o PS, o empate verificado nas últimas eleições
legislativas (10 de março) entre a AD (28,02%) e os socialistas (28%). Agora o
PS parece claramente à frente — embora, dada a margem de erro da sondagem
(3,1%), seja igualmente possível falar num cenário ainda sem vencedor claro. A
AD poderia, em teoria, estar à frente se ficasse no limite máximo do seu
resultado (29,1%) e o PS no limite mínimo (28,9%). Mas a mesma leitura permite
também concluir que o que é hoje uma diferença de 6 p.p., com vantagem para os
socialistas, poderá até ser de 12,2 p.p. (ficando o PS no limite máximo do
resultado, 35,1%, e a AD no limite mínimo, 22,9%).
PS pode ficar com oito mandatos, AD com seis e o Chega
com quatro. BE e CDU podem passar para um deputado cada
O que o estudo mostra é que o PS perde pouco face ao
resultado que obteve nas eleições europeias de maio de 2019 (33,38%, com nove
eurodeputados eleitos num total de 21). Já a coligação entre o PSD e o CDS
claramente nada soma — pelo contrário. Há cinco anos, os dois partidos
obtiveram, somando-se os resultados de ambos, 28,13% (e sete eleitos, com seis
para o PSD e um para os democratas-cristãos). Agora, a percentagem que se
perspetivaria se as eleições fossem hoje seria inferior em cerca de 2 p.p.
A sondagem indica também que o Chega não ganha nem
perde, quando se compara o resultado da pesquisa com o das últimas
legislativas. Ou seja, aparentemente a escolha de um desconhecido do grande
público para cabeça de lista, o embaixador António Tânger Corrêa, que tem tido
prestações discretas nos debates, não penaliza o partido. Já se sabe que, mesmo
não sendo candidato, o que conta no Chega é o efeito André Ventura. E este
tenciona estar o máximo de tempo que lhe for possível ao lado (senão mesmo à
frente) do seu cabeça de lista durante a campanha.
Quem poderá ficar preocupado com o resultado desta
sondagem é a IL e o seu cabeça de lista, João Cotrim de Figueiredo. Em
comparação com as legislativas, a IL perde para o BE — que apresenta a ex-líder
Catarina Martins como cabeça de lista — o quarto lugar no ranking. Já a CDU
mantém-se na mesma posição relativa e em percentagem cresce ligeiramente (face
às legislativas) e o Livre desce também um pouco na mesma comparação. Estes
factos não iludem, porém, quanto ao BE e à CDU, perdas significativas de ambas as
formações quando se comparam os seus números nesta sondagem com os que
obtiveram nas eleições europeias de há cinco anos (9,8% e 6,8%, respetivamente,
com dois eleitos para cada partido). Em teoria, IL, CDU, Livre e PAN correm
mesmo o risco de não conseguir nenhum eleito. Em 2019, o último partido a
conseguir eleger um eurodeputado foi o PAN, com cerca de 5%. Com menos do que
esta percentagem é muito difícil ter um eurodeputado em Bruxelas.
No campeonato de ex-líderes, Cotrim perde para
Catarina Martins e está em risco de não ser eleito
Com 16% de indecisos, a grande incógnita nas eleições
europeias é sempre o nível de abstenção. Nas europeias de 2019 Portugal atingiu
um máximo histórico, com 68,9% de portugueses a abdicarem do direito de voto,
um cenário preocupante, ainda mais se a esta tendência se juntar a data das
eleições deste ano: 9 de junho, véspera de um feriado nacional (Dia de
Portugal) e início de uma semana em que ainda há mais um feriado municipal (13
de junho, dia de Santo António). Daí que ainda o anterior Governo tenha tomado
medidas para permitir voto antecipado a 2 de junho e voto em mobilidade mesmo
no dia 9.
Os dados desta sondagem são animadores no que diz
respeito à abstenção, com a grande maioria dos inquiridos que já fizeram a sua
escolha a dizer que vai votar. Os apoiantes da IL são os que têm mais
intencionalidade de o fazer (79%), seguidos dos do PS (78). Os eleitorados
aparentemente menos mobilizados são os do Chega (67%) e muito menos ainda os do
PAN (44%).
Na segmentação da “certeza de ir votar” por grupos
sociodemográficos, os dados revelam que o grupo etário menos disponível para se
dirigir às urnas é o dos jovens (entre os 18 e os 24 anos) — 60% dizem que não
o farão. Já o escalão mais mobilizado é o que se situa entre os 45 e os 64 anos
(65%). E os eleitores de esquerda estão mais mobilizados do que os de direita.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 27 de abril e 8 de maio de 2024. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (5 Regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 123 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições europeias recolhida através de simulação de voto em urna. Foram contactados 3561 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 1001 entrevistas válidas (taxa de resposta de 28%, taxa de cooperação de 38%). O trabalho de campo foi realizado por 46 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 1001 inquiridos é de +/- 3,1%, com um nível de confiança de 95%. Algumas das questões colocadas neste inquérito reproduzem integralmente as de duas sondagens anteriores, realizadas em 2019, cujos trabalhos de campo decorreram entre 22 de abril e 3 de maio, e entre 7 e 12 de maio, respetivamente. Estas duas sondagens foram igualmente realizadas pela GfK Metris para o ICS-ULisboa e o Iscte-IUL, e tinham uma amostra de 802/803 inquiridos. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100%) (Expresso, texto dos jornalistas João Pedro Henriques e Sofia Miguel Rosa, infográfica)
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