domingo, outubro 23, 2022

Próxima pandemia poderá vir dos glaciares que estão a derreter, mostra nova investigação

 

A próxima grande pandemia global, depois da Covid-19, pode não vir de morcegos ou passáros, mas sim de gelo a derreter. De acordo com uma nova investigação de cientistas da Universidade de Ottawa, no Canadá, há um grande risco da próxima pandemia ter origem no degelo dos grandes glaciares do Ártico. Análise genética do solo e de sedimentos do Lago Hazen, o maior lago de água doce glaciar do Ártico em todo o mundo, sugere que o risco de transbordamento (‘spillover’) viral, ou seja, o risco de um vírus infetar um novo hospedeiro, é mais alto quando perto de glaciares a derreter. As conclusões adiantam que, à medida que as temperaturas aumentam em todo o mundo com as alterações climáticas, torna-se mais provável que vírus e bactérias ‘presos’ e ‘congelados’ nos glaciares possam voltar a tornar-se ativos e infetar espécies animais locais. Por exemplo, em 2016, um surto de antrax na Sibéria, que matou uma criança de infetou outras sete pessoas, teve origem numa vaga de calor, que derreteu um calote polar e deixou a descoberto uma carcaça de rena infetada com o patógeno. Antes deste surto, o último havia ocorrido em 1941.

Os investigadores canadianos recolheram amostras de solo e sedimentos, perto de onde pequenas, médias e grandes quantidades de água de glaciares derretidos flui. O RNA e DNA de cada amostra foi sequenciado, para identificar ‘assinaturas’ que correspondessem o mais possível às de vírus conhecidos, bem como a potenciais hospedeiros, humanos, animais ou vegetais. Um algoritmo calculou depois a hipótese de estes vírus infetarem grupos de organismos em cada caso.

A investigação, publicada na Proceedings of the Royal Society B, conceituada revista científica inglesa, sugere que o risco de os vírus ‘saltarem’ de hospedeiro era mais risco em localizações nas quais havia circulação de água de glaciares derretidos – uma situação que se torna cada vez mais comum, à medida que o clima regista temperaturas mais quentes.

A equipa de cientistas não quantificou quantos dos vírus identificados seriam anteriormente desconhecidos, investigação que será feita nos próximos meses, nem verificou se os vírus analisados provocariam realmente uma infeção.

No entanto, outras investigações já provaram que vírus desconhecidos ‘escondem-se’ nas grandes massas de gelo. Investigadores norte-americanos da Universidade de Ohio anunciaram no ano passado ter descoberto material genético de 33 vírus diferentes, 28 dos quais desconhecidos até então, numa massa de gelo do Tibete. Calculou-se que os vírus em causa tivessem cerca de 15 mil anos (Multinews, texto do jornalista Pedro Zagacho Gonçalves)

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