segunda-feira, novembro 02, 2020

Sondagem: Direita já soma mais do que os socialistas


PS está no patamar mais baixo desde as legislativas. PS está no patamar mais baixo desde as legislativas, mas "geringonça" tem uma vantagem grande sobre uma eventual "caranguejola". Os três partidos mais novos valem 14 pontos. É o pior resultado do PS desde as eleições legislativas do ano passado. E a primeira vez que o barómetro da Aximage para o JN e a TSF dá aos socialistas menos do que a soma dos quatro partidos da Direita. Junte-se a subida surpreendente do BE e o caldo parece entornado para António Costa. Mas talvez seja precipitado anunciar o fim de um ciclo. Uma eventual "caranguejola" está a mais de 14 pontos da "geringonça". Atenção ainda ao PAN: está na luta pelo quarto lugar com CDU e Chega.

Os resultados da sondagem de outubro permitem vários ângulos de análise. E manda a tradição que se olhe com mais atenção, primeiro, para os que estão no topo. Mas talvez valha a pena começar de baixo para cima. Porque se confirma uma tendência que, a repetir-se em eleições, anuncia mudanças significativas do quadro parlamentar: são os novos partidos os que mais crescem.

Chega, PAN e Iniciativa Liberal já valem 14%, ou seja, mais oito pontos do que a soma dos três nas últimas legislativas. Ainda que a estrada não seja em linha reta para todos. O PAN só cresce desde julho e marca mais dois pontos do que nas legislativas (5,2%). O Iniciativa Liberal partiu de um patamar mais baixo, mas não teve qualquer percalço desde outubro do ano passado (3,2%). Finalmente, o Chega perde fôlego (quase um ponto e meio), mas continua a ser o partido com maior tração desde que houve votos a sério, acrescentando quatro pontos ao resultado das últimas eleições (5,4%).


BE destacado em terceiro

No meio da tabela (destacado entre os dois do topo e o trio de perseguidores) só há espaço desta vez para um partido e é o Bloco de Esquerda. Previam-se dificuldades, depois da acrimónia com os socialistas a propósito das negociações do Orçamento do Estado. Poderia ser, mas ainda não foi: o BE recupera quase dois pontos relativamente a setembro passado e está melhor do que nas legislativas de 2019 (10%). Note-se que o trabalho de campo decorreu, maioritariamente, ainda antes de ser confirmado o voto contra do BE. Mas foi já depois de ser claro para todos que a corda estava esticada ao limite. A única sombra que paira sobre os bloquistas é um outro dado de que o JN já deu conta no arranque da semana: 68% dos eleitores bloquistas queriam o OE aprovado à Esquerda, incluindo o seu partido. Não aconteceu e, portanto, é legítima a dúvida sobre se este será um resultado efémero.

PSD volta ao nível de 2019


No topo da tabela, as notícias são más para os socialistas e razoáveis para os sociais-democratas. O PS continua a sua caminhada descendente, porventura vítima da sua gestão da pandemia e sobretudo dos seus efeitos económicos e sociais: perde dois pontos de um mês para o outro; cinco desde a sondagem de julho; e um relativamente às legislativas do ano passado (tem agora 35,5%). Ao contrário, o PSD está numa fase ascendente. Mas talvez seja cedo para deitar foguetes. Rui Rio ganha três pontos relativamente a setembro, mas talvez porque nesse mês bateu no fundo. Na verdade, está agora com o mesmo resultado que conseguiu na ida às urnas de 2019 (27%).

Outra má notícia para o PS: pela primeira vez, comparando com os resultados das legislativas e de barómetros anteriores, vale menos do que a Direita parlamentar (36,8% divididos por quatro partidos). Má notícia para a Direita tradicional: uma eventual "caranguejola" vale muito menos sem os radicais do Chega e, como se esse não fosse obstáculo suficiente, a "geringonça", pelo menos matematicamente falando (já que em termos políticos dá sinais de expirar), ainda soma 51,2% (ou seja, mais 14 pontos). Os números à Esquerda podem não garantir inspiração suficiente para uma solução de Governo duradoura, mas ainda chegam para inviabilizar qualquer alternativa à Direita.

Em pezinhos de lã, o PAN já luta pelo quarto lugar


O ano que decorreu sobre as legislativas de 2019 não parecia trazer as melhores perspetivas para o PAN. Basta lembrar as sucessivas dissidências, primeiro do seu eurodeputado, depois da cabeça da lista por Setúbal. O primeiro sinal do barómetro da Aximage para o JN e a TSF, em julho passado, confirmava a perda de fulgor, prevendo uma queda para os 2,6%.

É certo que, quanto mais pequeno um partido, mais escorregadias são as previsões eleitorais. E a inversão do mês passado (subida para os 4,8%) poderia ser, portanto, um desvio momentâneo. Sucede que um mês depois, já se pode falar numa tendência de crescimento, com o partido liderado por André Silva a chegar agora aos 5,2%. Em pezinhos de lã, está a poucas décimas de CDU e Chega e na luta pelo quarto lugar.

Só uma ida às urnas pode confirmar se é assim, mas há nos barómetros mais informação que ajuda a confirmar uma certa estabilidade no PAN. Desde logo, a clara inclinação de género: é o partido em que, sondagem atrás de sondagem, o eleitorado feminino vale muito mais do que o masculino (quase três vezes mais mulheres).

Outro dado que funciona como um relógio suíço tem a ver com a forma como se distribui nas várias faixas etárias: o PAN é, desde há muito, e sem falhas, um partido alicerçado no eleitorado jovem, sobretudo na faixa etária dos 18/34 e às vezes nos 35/49 anos.

Finalmente, quando a análise dos segmentos se faz pela geografia (com a ressalva de que há oscilações acentuadas de um mês para o outro, dada a reduzida dimensão das amostras), também se deteta um certo grau de estabilidade do PAN na região metropolitana de Lisboa, uma garantia fundamental para quem quer contar com a eleição de um grupo parlamentar.

Líderes: Só António Costa fica em terreno positivo


O PS estará nas horas baixas, mas não se vislumbra alternativa. Da mesma forma, António Costa perde popularidade, mas não há um único líder da Oposição que se lhe compare. Quando se colocam todos no mesmo cesto da avaliação popular, só de lá sai um com saldo positivo, o secretário-geral dos socialistas (18 pontos entre notas positivas e negativas). Não houve alterações na liderança, há mudanças que merecem referência. Desde logo o que se passa à Esquerda do PS: Catarina Martins dá o maior trambolhão, Jerónimo de Sousa arranca a maior subida. A análise por segmentos permite perceber que os eleitores socialistas tiveram forte influência nessas alterações. Presumíveis efeitos do voto contra bloquista e da abstenção comunista ao Orçamento do Estado. O líder comunista deixa o último lugar para uma personagem controversa: André Ventura, do Chega, agora com um saldo negativo de 46 pontos percentuais (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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