O vírus está a crescer pelo país fora em velocidades distintas. Há concelhos do Norte onde o contágio explodiu no início de outubro e entretanto estabilizou num nível extremamente elevado de novas infeções. Mas metade dos 77 municípios que entraram esta semana para a lista de risco elevado são na região Centro, onde em duas semanas o número de novos casos por 100 mil habitantes subiu 60%. Concelhos como Manteigas (ver texto ao lado), Seia, Proença-a-Nova e Mealhada saltaram diretamente para um nível de incidência acima de 480 novos casos por 100 mil habitantes, o dobro do patamar de risco elevado.
As
zonas da Guarda, Covilhã e Aveiro estão entre as que merecem maior preocupação.
“Na região Centro, o padrão epidemiológico atual revela a existência de um
elevado número de surtos de pequena e média dimensão, o que indicia a
existência de cadeias de transmissão familiares, quase sempre associadas a
refeições e momentos de convívio coletivos. A maioria dos surtos envolve entre
4 a 135 pessoas”, explica João Pedro Pimentel, delegado de saúde regional do
Centro, referindo ainda o peso do contágio em lares. “Os surtos relacionados
com o trabalho não tiveram particular expressão, mas nas universidades
atingiram valores mais elevados. Nas escolas até ao 12º ano registaram-se
sobretudo casos esporádicos no início do ano letivo, mas agora verificam-se
surtos significativos.”
Também
em vários municípios do Alentejo e Algarve o número de novos casos disparou nas
últimas duas semanas, o que levou a que vários destes locais se juntassem à
atual lista de 191 concelhos com mais de 240 novos casos por 100 mil
habitantes, o patamar a partir do qual o Governo considera que os municípios
estão em elevado risco de contágio. Tavira, Portimão, Faro ou Lagos já estão a
vermelho, deixando a branco pequenas ‘ilhas’ como Olhão (ver texto ao lado). No
Alentejo, o cenário está claramente a agravar-se, com mais 18 concelhos em
situação de risco, como é o caso de Portalegre, Elvas, Évora, Campo Maior ou Monforte.
Para já, apenas os Açores e a Madeira continuam a branco no mapa de risco,
pintado a partir dos dados da Direção-Geral da Saúde, relativos ao período
entre 28 de outubro e 10 de novembro.
INCIDÊNCIA
“INSUSTENTÁVEL”
Apesar
de a mancha vermelha estar a alastrar-se, o Norte continua a ter a situação
mais grave, tal como aconteceu no início da primeira onda. É nesta região que
está a maioria dos 28 concelhos com risco extremamente elevado (acima de 960
novos casos por 100 mil habitantes). Segundo os dados do Centro Europeu de
Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), o Norte de Portugal é agora uma das 20
piores regiões na Europa, com uma incidência de 1298 novos casos por 100 mil
habitantes a 14 dias, acima das regiões que abrangem Milão (1146), Paris (580)
ou Madrid (353), algumas das mais afetadas.
“A
região Norte teve uma fase de crescimento quase explosivo no início de outubro.
Agora está numa aparente estabilização, numa espécie de planalto, mas com uma
incidência elevadíssima e absolutamente insustentável devido à afluência aos
hospitais. Não há uma descida convincente e não conto que seja rápida, pois as
medidas não estão a mostrar que isso seja possível para já”, defende Óscar
Felgueiras, professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e um
dos peritos ouvidos ontem pelo Governo. “O impacto das restrições é muito
heterogéneo. O teletrabalho produz mais efeitos no Porto, por exemplo, do que
em locais com maior atividade industrial.”
Paços
de Ferreira e Lousada, que têm as situações mais graves do país, atingiram uma
proporção de casos “absolutamente invulgar”, diz o especialista. Embora comecem
agora a mostrar sinais de descida, a recuperação será muito lenta. Neste
‘epicentro’, também Vizela, Paredes e Penafiel têm situações preocupantes, mas
a mancha vermelha está alastrada a todo o distrito do Porto, além de Braga,
Vila Real e Bragança.
A
região de Lisboa mantém-se com uma incidência muito elevada, ainda que abaixo
de 600 novos casos por 100 mil habitantes. Setúbal, Lisboa, Cascais, Odivelas,
Vila Franca de Xira e Loures ocupam as piores posições. Perante a evolução
registada na primeira onda, que atingiu em força o Norte e depois se estendeu a
Lisboa, questiona-se se o mesmo poderá voltar a acontecer. “Parece improvável
atingirem os números do Norte, não só porque as medidas entraram em vigor numa
fase mais antecipada mas também porque em Lisboa o teletrabalho tem maior
efeito, o que permite uma contenção mais eficaz”, defende Óscar Felgueiras.
Dos
8,5 milhões de portugueses abrangidos pelas restrições aplicadas a estes
concelhos, cerca de três milhões estão num dos locais com risco extremamente
elevado. Com 725 novas infeções por 100 mil habitantes nas duas últimas
semanas, o volume de casos a nível nacional é agora seis vezes maior do que na
primeira onda. Portugal é o 10º país da Europa com maior crescimento da
epidemia e serão necessárias algumas semanas para medir o efeito das medidas
aplicadas a nível local.
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Nota: No
mapa, os concelhos estão pintados com base nos números de novos casos por 100
mil habitantes em 14 dias (entre 28 de outubro e 10 de novembro), divulgados
pela DGS. Dos 191 concelhos que integram a lista definida pelo Governo, há
apenas três (Alcochete, Cadaval e Montijo) que têm menos de 240 novos casos por
100 mil habitantes (Expresso, texto da jornalista RAQUEL ALBUQUERQUE e infografia de CARLOS
ESTEVES)
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